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Thiago Fernandes
O advogado Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa é um dos candidatos à presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo. Filho do ex-presidente do clube entre 2002 e 2006, Marcelo Portugal Gouvêa, ele se coloca à disposição para o cargo, diz ter condições de mudar o rumo do grupo e ressalta a importância de fiscalizar a gestão executiva, independentemente do vencedor da eleiçãodisputada por Julio Casares e Roberto Natel. Ao UOL Esporte, ele diz ter condições de mudar o Conselho Deliberativo do clube e reforça a necessidade de fiscalização da diretoria executiva.
“A gente precisa de pessoas mais capacitadas. O Conselho do São Paulo tem pessoas muito boas, mas não são todas. O torcedor pode ajudar no processo, porque ele conhece alguém que vote. Depois, queria pedir ao Conselheiro que entre em contato, tire suas dúvidas e consiga me apoiar na eleição, porque tenho condições de mudar o Conselho do São Paulo e mudar o clube”, afirmou Marcelinho Portugal Gouvêa, como é conhecido nas alamedas do Morumbi.
“O São Paulo precisa restaurar a independência do Conselho Deliberativo. O Conselho não está lá para representar a diretoria do São Paulo. Você precisa que a mesa-diretora seja independente e ela dê exemplo para que questões do Conselho Deliberativo não sejam politizadas. Isso é uma coisa muito ruim para o Conselho do São Paulo. Se o Roberto Natel for eleito e eu for eleito, vou fiscalizar a gestão do Roberto como fiscalizaria a gestão do Julio Casares. Independe de o cara da gestão ser do seu grupo político ou não. Não posso fiscalizar só quem me convém, tem que ser qualquer um que lá esteja”, acrescentou.
No bate-papo com o UOL Esporte, Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa falou sobre outros temas, como a gestão de Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, a proximidade com o candidato à presidência do clube, Roberto Natel, e a fragmentação política do Conselho Deliberativo do São Paulo. Confira, abaixo, a entrevista exclusiva:
Gestão Leco Olha, falando pelo meu grupo, Nova Força, a gente apoiou a eleição do Leco, porque ele foi um dos maiores entusiastas da criação do novo Estatuto Social, da qual o Nova Força participou ativamente. Ele deu plena autonomia. A gente acreditava que ele seria a melhor pessoa para implementar. O problema é que, durante a gestão, principalmente no começo, a gente viu que isso não se tornou realidade.
Ele deixou de priorizar o São Paulo, como o Estatuto Social determinava, e descumpriu questões estatutárias, de forma que o meu grupo se tornou oposição à gestão durante o ano de 2018. Analisando a gestão de forma racional, a gente não compactuou com o que foi feito. O resultado no campo é uma análise mais para torcedor. O resultado no campo é resultado de um trabalho profissional que o mundo atual do futebol obriga os clubes a seguir. A bola entra no gol, no final das contas, por conta de toda uma retaguarda de uma gestão que deveria dar ao jogador para fazer o gol acontecer.
Relevância do pai no CT da Barra Funda Meu pai, além de participar da política e da diretoria do São Paulo desde a década de 1970, no começo da década de 1980, ele era assessor especial do prefeito de São Paulo, o Reinaldo de Barros. Nessa condição, ele foi procurado pelo São Paulo sobre a possibilidade da cessão de algum terreno para ter o centro de treinamentos. Por ter essa proximidade com o prefeito, que era um entusiasta do futebol também, pensou em conseguir um terreno para os clubes. Como o São Paulo foi o primeiro a procurá-lo, o São Paulo foi o primeiro a escolher também o local.
Então, foi aquele terreno na Barra Funda, onde fica o CT. O São Paulo escolheu um pedaço ali, aquela região não tinha muita coisa, quase nada. Em seguida, os outros clubes, até por uma questão de isenção do prefeito, também, escolheram um terreno. O Palmeiras escolheu um terreno vizinho de muro, e o Corinthians e a Portuguesa escolheram terrenos no caminho do Tietê. O que acontece é que, como o São Paulo já tinha essa intenção, o São Paulo estava mais organizado. Foram feitos contratados de comodatos, que os clubes precisavam dar contrapartidas. Pelo fato de o São Paulo ter sido o primeiro, o contrato de comodato do São Paulo foi de 20 anos, foi renovado agora. O São Paulo conseguiu mais 20 anos pensando no sistema de comodato.
Mudança estatutária A minha ideia prioritária é que a gente faça com que a diretoria cumpra o Estatuto Social que aí está. Não adianta pensar em mudança se o Estatuto Social que aí está não está sendo cumprido. A ideia é cumprir o Estatuto que aí está, ver o que precisa ser alterado. Se precisar ser alterado algo, vamos fazer todo um processo para a alteração estatutária. Há a previsão de mudança para voto direto do associado e também do sócio-torcedor. Isso é um objetivo traçado pela campanha do Resgate Tricolor de propiciar, de defender o voto direto.
O estudo que lá está precisa passar por uma discussão no Conselho Deliberativo para que isso seja avaliado em Assembleia Geral para que tenhamos voto direto. Outro estudo é a possibilidade de transformação do São Paulo em empresa. Esse estudo está parado no Conselho de Administração. Isso precisa ser feito em relação a esses dois temas, que mais chamam a atenção. A questão das outras reformas estatutárias, a gente precisa ver se elas são necessárias. A gente precisa ver se o Estatuto está funcionando para o São Paulo e em relação ao mercado do futebol. Se a gente sentir necessidade de alguma reforma antes, certamente faremos.
Clube-empresa É uma questão que não permite uma opinião rasa, requer um estudo profundo. Hoje em dia, a legislação não favorece essa transformação. Há projetos de lei que criariam uma nova situação jurídica para os clubes se tornarem empresas. Partindo do pressuposto que essa legislação entre em vigor, a gente tem que estudar se o mercado está pronto para essa transformação. Qual o grande objetivo dessa transformação em clube-empresa? Melhorar a gestão dos clubes com transparência, compliance, governança e atrair um novo capital para o futebol, assim como acontece na Europa.
Os exemplos, normalmente, são europeus. Não podemos fechar as portas para isso, mas precisa de uma legislação prevendo essa situação, entender o mercado e entender os outros clubes. A gente não pode confundir o vanguardismo de outrora com o fato de o São Paulo ser um teste. As questões têm que ser analisadas. Caso o São Paulo se torne empresa, ele não será vendido, ele será dono da empresa. Os investidores teriam um capital minoritário.
RRoberto Natel Quando o Nova Força passou a ser opositor à gestão, a gente se aproximou de outros grupos que são oposição à gestão. Do outro lado, se juntaram grupos favoráveis à gestão. Um ano atrás, decidiu que se faria uma convenção para decidir o candidato da oposição. Todos puderam se candidatar. Foi um processo democrático, se candidataram Sylvio de Barros, Marco Aurélio Cunha e Roberto Natel. A partir daí, o Natel passou a ser o candidato de todos os outros grupos de oposição. A aproximação se deu aí. Eu já tinha proximidade, mas não fomos escolhidos juntos para que ele fosse e eu fosse candidato. Isso foi um processo democrático de todos os partidos de oposição.
Assembleia de sócios interfere na eleição Interfere muito, especialmente se tiver uma disparidade de votos entre uma chapa e a outra, porque você tem 160 vitalícios na teoria, mas na prática temos 152. Há um equilíbrio dos dois lados nesses 152. A Assembleia Geral, que vai escolher 100 candidatos, pode definir a eleição. Esses conselheiros muitas vezes têm simpatia por um ou outro candidato e não votam conforme o grupo político. As eleições do São Paulo eram, muitas vezes, decididas por dois, quatro votos. Acredito que isso pode se repetir agora. A Assembleia Geral pode, com certeza, definir a eleição.
Campanha durante a pandemia A saúde está em primeiro lugar. Essa é uma questão que poucos vão discutir em relação a isso. O que alguns discutem é que, se tomarmos todas as precauções, as pessoas estarão totalmente fora de risco. O fato é que muitas pessoas envolvidas na campanha pegaram Covid-19 e acreditam ter contraído lá no São Paulo durante a campanha. Ali, por conta da proximidade, pode ter algum contágio. O clube está com a frequência muito baixa, algumas atividades estão fechadas por questões governamentais. A frequência de candidato é muito grande, não de associados.
A presença é quase que exclusiva de candidatos. Toda essa questão tem que ser analisada e tem que ter a consciência de que a saúde vem em primeiro lugar. O que o Resgate Tricolor propôs não foi suspender a campanha, mas lembrar que a saúde vem em primeiro lugar.
Separação futebol-social Existem algumas formas de fazer essa separação. O que eu defendo, com certeza, é que haja uma autonomia financeira. Isso, com certeza, precisa de uma autonomia financeira. O futebol não pode pegar dinheiro do associado, porque o associado não investe para o futebol. A mesma coisa deve acontecer do outro lado. O futebol não tem que sustentar o clube. Não faz sentido vender um jogador para reformar uma área social. Não faz sentido um torcedor comprar uma camiseta e esse dinheiro ir para o social. Ele quer que isso seja investido no futebol. Você precisa ter uma separação financeira.
Em relação à parte administrativa, você precisa analisar o que compensa para o São Paulo. Já ficou claro que você precisa de pessoas para o social e para o futebol. Requer pessoas e profissionais diferentes. A gente precisa ver em uma gestão o que compensa. É óbvio que o futebol representa grande parte, quase a totalidade do orçamento do São Paulo. Se o futebol estiver indo bem, as marcas vão atrelar o nome ao São Paulo. Até aí você acaba ajudando. Não tem como privilegiar o social ou o futebol. É ao contrário. O futebol indo bem, o social vai bem.
Isenção do Conselho Deliberativo Nas últimas gestões, com certeza, [o Conselho Deliberativo] não foi [isento]. O São Paulo precisa restaurar a independência do Conselho Deliberativo. O Conselho não está lá para representar a diretoria do São Paulo. Você precisa que a mesa-diretora seja independente e ela dê exemplo para que questões do Conselho Deliberativo não sejam politizadas. Isso é uma coisa muito ruim para o Conselho do São Paulo. Se o Roberto Natel for eleito e eu for eleito, vou fiscalizar a gestão do Roberto como fiscalizaria a gestão do Julio Casares.
Independe de o cara da gestão ser do seu grupo político ou não. Não posso fiscalizar só quem me convém, tem que ser qualquer um que lá esteja. Lançamos pessoas capazes para mudar essa realidade.
Fragmentação do conselho Com certeza, o excesso de grupos políticos atrapalha quando querem politizar o que não deve ser politizado. Há grupos políticos de ocasião, que não estão juntos por uma questão pontual, algum momento político. Eu não tenho como avaliar os grupos políticos, sei que o meu foi iniciado em 2003 e nunca se juntou a outros grupos. Não teve racha, as pessoas que saíram do meu grupo são pessoas que largaram a política do São Paulo. Meu grupo tem ideais diferentes, por isso, faz sentido a existência dele.
Propostas para o cargo Eu tenho bastante proposta, eu vou resumi-las. A primeira questão é a da independência, a independência e autonomia do Conselho em relação à gestão. Seguindo isso, com fiscalização firme e cumprindo o Estatuto do clube, vai dar o exemplo de como a gestão tem que ser. Por isso, o Nova Força me lançou ao cargo no Conselho Deliberativo. A gente vai contribuir mais para o São Paulo mudando o Conselho, a cabeça do conselheiro e despolitizando o Conselho, a gente vai conseguir fazer com que novas gestões façam o mesmo.
Fora isso, gostaria de mais transparência nas questões envolvendo o Conselho, não só documentos, mas defendendo a transmissão ao vivo de reuniões, fora questões confidenciais e contratuais. O torcedor critica o conselheiro, porque acha que o conselheiro tem uma função diretiva para trocar técnico e jogador. Seria interessante entender o que os conselheiros fazem para exigir e cobrar dos próprios conselheiros.
Acho importante exigir que as informações passadas ao Conselho sejam mais técnicas e complexas e não sejam um compilado de várias áreas, sem ter passado por quem chancele as informações. A gente precisa receber melhor o relatório. Fora isso, criar comissões para acompanhar os trabalhos. Essas comissões vão relatar ao Conselho o que está acontecendo em cada área. O Conselho vai acompanhar melhor se o Estatuto está sendo cumprido. A gente vai acompanhar mês a mês. Diminuir a periodicidade das reuniões.
Hoje, há reuniões a cada dois meses, as reuniões ficam muito longas. A ideia é fazer reuniões em períodos menores, com pautas mais enxutas para que todos possam participar.
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