Fernando Diniz e a falta que faz o respeito ao próximo

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GloboEsporte

Casagrande

O que está acontecendo no São Paulo vai além do limite da pressão e do aceitável.

Inúmeros fatores contribuem para que uma equipe se torne campeã. Uma estrutura profissional, qualidade individual, torcida, tradição, liderança, entre diversos outros. Mas um deles, em especial, qualquer que seja a modalidade esportiva, é fundamental: o espírito coletivo.

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Uma equipe pode contratar Neymar, Messi ou Cristiano Ronaldo e ainda assim dependerá do coletivo. Quantos times naufragaram mesmo com estrutura de ponta, salários astronômicos e grandes estrelas? Vários.

Fosse essa a questão ou a fórmula mágica, estaríamos vendo o Flamengo ganhar tudo nos últimos anos. Ou então nunca assistíramos ao time do Corinthians comandado pelo Fábio Carille, em 2017, ser campeão brasileiro. Tanto Flamengo quanto Corinthians, só para ficar nesses dois exemplos, se destacaram quando conseguiram formar elencos que realmente se preocupavam com o coletivo. E é aí, caros leitores, que entra o papel fundamental do treinador.

Nas últimas semanas, Fernando Diniz, até então líder absoluto do Campeonato Brasileiro, viu a maré boa do São Paulo virar. A despeito da proposta moderna e corajosa com que se propõe a montar suas equipes, algo que agrega muito ao futebol e do qual é difícil discordar, dado os resultados que já conquistou, Diniz tem falhado como líder capaz de inspirar o espírito coletivo.

O treinador sempre demonstra desequilíbrio emocional com a pressão natural da profissão. Isso ficou evidente na partida contra o Grêmio na semifinal da Copa do Brasil. Na época, durante o “Bem, Amigos!”, do SporTV, questionei que essa derrota traria consequências. E não foram poucas.

Logo veio a partida contra o Bragantino, que, além da derrota, teve aquela discussão desrespeitosa com Tchê Tchê. Ali, na minha opinião, ele perdeu o respeito do grupo, e depois disso o time foi ladeira abaixo, com a derrota para o time reserva do Santos, empate com o Athletico e a goleada por 5 a 1 contra o Internacional, em que viu também o adversário assumir a liderança do campeonato.

Fernando Diniz xinga Tchê Tchê durante jogo contra o Bragantino — Foto: Reprodução

Fernando Diniz xinga Tchê Tchê durante jogo contra o Bragantino — Foto: Reprodução

Perder uma vantagem de sete pontos em quatro rodadas só é justificável com uma queda emocional muito forte do time. Muito além da saída do atacante Luciano, por contusão. É o que corre nos bastidores. No vestiário, a postura do treinador com frequência é associada a ofensas, em especial com os jogadores Igor Gomes e Diego Costa. Juanfran e Tiago Volpi também sofreram com a ira de Diniz.

Como ex-jogador, sei que se perde o elenco quando se desmoraliza um jogador publicamente. Eu nunca trabalhei com treinadores agressivos, o que não quer dizer que não foram duros quando necessário.

Dos que trabalhei, o Mário Travaglini, sempre muito gentil, foi o melhor no fator psicológico. Treinador da Democracia Corinthiana, em 1982, naturalmente um ano muito difícil pela pressão da ditadura contra o nosso elenco, ele foi fundamental na conquista do Campeonato Paulista daquele ano.

Carlos Alberto Torres dispensa elogios, sem palavras para definir o grande Capita. Já Cilinho sempre foi muito tático e técnico, sem nunca passar dos limites. E Telê Santana foi o grande treinador com quem convivi. Tivemos muitos atritos, mas ninguém nunca passou do limite.

Todos esses nomes comandaram grandes clubes e tiveram conquistas marcantes. Ou seja, trabalharam sob forte pressão e mesmo assim formaram grandes coletivos. O que está acontecendo no São Paulo vai além do limite da pressão e do aceitável. E o resultado não será nada bom.