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Marcelo Prado
Um líder é aquele que na hora da dificuldade dá a cara para bater.
Seis de agosto de 2019, estádio do Morumbi. Quarenta e quatro mil torcedores fizeram uma grande festa para receber e aplaudir Daniel Alves, que vestiu a camisa 10 do São Paulo. Um ano e meio depois, fica a pergunta: o “Good Crazy” é aquilo que o São Paulo esperava?
Daniel foi contratado para ser o “cara”, o protagonista de uma equipe que há oito anos tenta reencontrar seu rumo e voltar a conquistar títulos.
Aqui já está o primeiro e, sem dúvida nenhuma, o maior erro. Daniel sempre esteve entre os melhores nas equipes que defendeu, mas não era a peça mais importante, aquela que faria a diferença sozinha. Em outras palavras, jogou com o Messi, mas não é o Messi. Entende? O São Paulo comprou uma coisa que Daniel Alves nunca foi.
Para aceitar a aventura no Morumbi, um salário astronômico. Até pode-se dizer que foi um valor justo pelo que conquistou na carreira. Ninguém somou mais títulos como jogador profissional do que Daniel Alves. Mas é impossível não se perguntar: valeu a pena tamanho investimento? A minha resposta é não.
Daniel Alves lamenta eliminação do São Paulo na Copa do Brasil — Foto: Marcos Ribolli
Vamos comparar Daniel a outros atletas que atuam no futebol brasileiro e que têm o mesmo padrão de vencimentos. Posso citar Gabigol e Arrascaeta no Flamengo, dupla que comandou o time na conquista de vários títulos. É só lembrar, por exemplo, o que o atacante fez na decisão da Taça Libertadores da América de 2019. No Palmeiras, até pouco tempo, Dudu era o pilar de uma equipe que foi de rebaixada a seguidas vezes campeã de 2015 em diante.
No São Paulo, Daniel Alves não faz tamanha diferença. Na Europa, brilhou como lateral-direito e se transformou em um dos jogadores mais importantes e vitoriosos do mundo. A mudança para o meio de campo, porém, não conseguiu colocá-lo no mesmo patamar.
É preciso ressaltar que ele se destacou quando o time todo esteve bem. Como nas partidas contra o Flamengo, pela Copa do Brasil, quando fez um duelo à parte contra Gerson e colocou o rubro-negro no “bolso”.
Contra o Grêmio, na ida da Copa do Brasil, fez de tudo: Foi dele, inclusive, o cruzamento para o gol perdido por Brenner, que poderia ter mudado a sorte da equipe na semifinal da competição. Vitória e quebra de tabu no Allianz Parque contra o Palmeiras? Daniel esteve entre os melhores. Mas volto a dizer, é pouco, muito pouco, para um jogador que chegou com tamanha expectativa.
Um líder é aquele que na hora da dificuldade dá a cara para bater e chama a responsabilidade. Daniel Alves não tem feito isso. Ele diz em entrevistas que é são-paulino desde criança. Como tal, deveria entender como o torcedor se sente após a humilhante goleada sofrida para o Internacional por 5 a 1.
Daniel Alves e Fernando Diniz — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Num momento em que tudo parece ruir no Morumbi e o sonho do sétimo título vai se transformando em pesadelo, não seria fundamental que Daniel viesse a público, “batesse no peito” e passasse uma mensagem de confiança ao torcedor? Se alguém tem esse poder no elenco é ele. Mas não. Preferiu o silêncio. Coube a Reinaldo e a Juanfran tentarem explicar o que está acontecendo.
Você também não vê Daniel Alves em nenhuma ação institucional do clube, nem mesmo nas redes sociais.
Os relatos são de que a postura de Daniel Alves nos treinos é excelente, um exemplo para os companheiros, sem nunca pedir para ser preservado dos jogos. Mas precisa ser mais controlado em campo.
Contra o Athletico, por exemplo, deu “piti” com Brenner quando ele errou um passe e reclamou que o jogador não alcançou a bola. Isso já aconteceu em diversas oportunidades. E o camisa 10 mesmo errou recentemente em lances que ocasionaram gols de Bragantino, Santos e agora Internacional. Aqui fica uma outra pergunta: por que ele não é substituído por Fernando Diniz quando está mal?
Fora de campo, também tivemos polêmicas envolvendo o jogador, como o vídeo da famosa batucada, quando se recuperava de uma fratura na mão direita. Nas redes sociais, é nítido que a paciência da torcida com o camisa 10 está cada vez menor.
Daniel Alves em treino do São Paulo — Foto: Reprodução/Twitter
Daniel ainda precisa conquistar coisas para ser alguém no São Paulo. Ídolos são Rogério Ceni, Kaká, Lugano, Dagoberto, Luis Fabiano. Ídolo é Hernanes, a quem, por respeito, Daniel Alves deveria ceder a tarja de capitão quando o camisa 15 entra em campo.
No São Paulo, o “Good Crazy” é apenas mais um. E, por enquanto, é assim que será lembrado.
Para um clube com o rombo financeiro que o São Paulo tem, manter Daniel Alves após o término do Campeonato Brasileiro, independentemente da conquista do título, não é inteligente, não é saudável. É preciso deixar claro: perto de completar 91 anos de história, o Tricolor nunca foi refém de jogador. Ninguém deveria ser mais importante que o clube.
*Marcelo Prado, 45 anos, foi setorista do São Paulo por 12 anos e hoje é editor de texto da Globo.
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