UOL
Diego Garcia
O ex-presidente do São Paulo Carlos Miguel Aidar e sua então namorada na época, Cinira Maturana, tentaram comprar um apartamento de luxo no Panamby, bairro nobre da zona sul de São Paulo, com dinheiro que o Ministério Público (MP) aponta ter sido tirado do clube mediante fraude. Além dos dois, Keila Nascimento, sobrinha de Cinira, Leonardo Serafim, homem-forte da atual diretoria do São Paulo, Douglas Schwartzmann, secretário-geral do clube que pediu licença do cargo ontem, o advogado José Roberto Cortez e sua filha Maria Eugenia Chiampi Cortez e mais uma pessoa viraram réus por corrupção, em denúncia apresentada pelo Ministério Público à Justiça.
Segundo o MP, em 30 de setembro de 2015, em reunião ocorrida entre Cinira e o proprietário do imóvel, ficou acertada a aquisição do apartamento 131 localizado no 13º andar da Torre A do Edifício Clarence House, no ST James´s Park Condominium, situado na Rua Deputado Laércio Corte, 1250. O termo de compra e venda foi celebrado entre Cinira e GAMA, proprietária do imóvel. O valor da operação de compra e venda foi acertado em R$ 1,3 milhão. De acordo com a investigação, este é o mesmo valor acertado entre Aidar e o corretor que vendia o apartamento, em reunião ocorrida dias antes.
O valor seria pago com um sinal de R$ 100 mil; R$ 300 mil seriam dados na apresentação da documentação; e o valor seria completado com uma parcela de R$ 900 mil, em até noventa dias e de forma concomitante à lavratura da escritura. Ainda segundo o Ministério Público, por conta de ajustes entre Aidar, Cinira e José Roberto Cortez, ao invés de Cinira fazer o pagamento com recursos próprios, em 2 de outubro de 2015, Maria Eugênia Chiampi Cortez transferiu, de sua conta pessoal, a quantia de R$ 342,9 mil para a conta da GAMA. Em 16 de novembro de 2015 foi transferida para a GAMA a quantia de R$ 50 mil, agora da conta corrente do escritório Cortez Advogados, em duas novas operações financeiras que o MP aponta como lavagem de dinheiro.
Aidar renunciou ao cargo de presidente do São Paulo na metade de outubro de 2015. Em janeiro do ano seguinte ele e Cinira desistiram de comprar o apartamento no Panamby. De acordo com as investigações conduzidas pelo Ministério Público, no distrato do acordo novas manobras de lavagem de capitais foram praticadas. Para o MP, Cinira usou a sobrinha, Keila Nascimento, como laranja para receber o dinheiro da entrada do apartamento de volta. Assinado em 18 de janeiro de 2016, o distrato previa que o casal Cinira e Aidar perderia R$ 100 mil do valor dado de entrada para a compra do imóvel. Assim, haveria a devolução de R$ 292 mil.
A quebra de sigilo mostrou que em 22 de janeiro de 2016 Keila recebeu da GAMA R$ 146,4 mil. Quatro dias depois, Keila depositou R$ 80 mil na conta de Carlos Miguel Aidar. A operação se repetiria no dia 29 de janeiro daquele ano, quando Keila recebeu novos R$ 146,4 mil da GAMA. Em 15 de fevereiro, Aidar recebeu novo repasse de Keila, no valor de R$ 69 mil. Quatro dias depois, no dia 19 de fevereiro, mais R$ 30 mil saíram da conta de Keila e foram parar na conta de Aidar.
Para o MP, esta operação seria uma lavagem de dinheiro, já que houve originalmente injeção direta de valores dados por José Roberto Cortez e sua filha, Maria Eugênia, para aquisição de imóvel em nome de Cinira, mas que, segundo o MP, contemplaria o casal Cinira e Aidar. O dinheiro para a compra do apartamento de luxo seria fruto do ajuste feito por Aidar e Cortez, com a participação do então diretor-jurídico do São Paulo, Leonardo Serafim, hoje peça importante na gestão do atual presidente, Julio Casares. De acordo com o MP, a título de honorários advocatícios, pelo menos R$ 752,9 mil foram subtraídos mediante fraude e abuso de confiança do São Paulo.
Keila Nascimento seria usada também para mandar dinheiro para outra importante figura do xadrez tricolor. No dia 2 de fevereiro de 2016, Keila transferiu R$ 100 mil para um intermediário. Em depoimento, primeiro Roberto disse que desconhecia a origem dos valores. Depois, informou que utilizou a quantia para comprar um imóvel em um leilão para a mãe. No segundo depoimento, o intemediário indicou que a responsabilidade por este e outros depósitos era de seu tio.
Em oitiva, o homem contou que era credor de valores com Douglas Schwartzmann — atual secretário-geral do clube —, e que este se encarregou de depositar R$ 100 mil na conta de seu sobrinho. Disse que a origem de tal dívida era relacionada a dinheiro emprestado para o tratamento do irmão de Douglas, uma caminhonete que tinham em comum e, ainda, R$ 15 mil relacionados à entrega de camisetas utilizadas em campanhas eleitorais do São Paulo. Douglas, ouvido em depoimento, disse que o homem tinha com Carlos Miguel Aidar um crédito de R$ 100 mil. Segundo o MP, Douglas declarou ser o intermediário, mas que não receberia nada.
O MP diz que as versões não conferem porque não houve qualquer comprovação da compra das camisetas. “E, ainda, considerando o preço estimado de 15 reais por unidade, estaríamos diante da quantidade de mais de 6.600 peças, isto para uma campanha para a presidência de um clube cujo colégio eleitoral é de poucos conselheiros”, argumentou o MP.
Em depoimento, Aidar disse que não houve tal dívida e disse não ser o responsável por esta operação. O advogado do cartola, José Luis Oliveira Lima, disse à coluna que “a acusação nada mais é do que uma peça de ficção criada pelo Ministério Público, que não é capaz de narrar um único fato criminoso em face do presidente Carlos Miguel Aidar. Depois de mais de cinco anos de investigação conduzida pelo MP, absolutamente nada foi demonstrado contra Aidar, que sempre pautou a sua vida pela correção e ética”.
Já Douglas Schwartzmann afirmou o seguinte: “Desconheço e, quando for comunicado oficialmente e tomar conhecimento, provarei a minha inocência e com certeza não serei processado porque a denúncia no meu nome será derrubada”. Procurado, o São Paulo afirmou que “não comenta casos que tramitam na Justiça”. Serafim falou ao UOL que, “neste momento, o que eu posso falar é que não fui notificado oficialmente ainda. Por isso, não posso me manifestar. Quando o fizer, primeiro vou me manifestar no processo. Depois, se você quiser, darei a minha versão”.
Cinira e Keila afirmaram que não vão se manifestar sobre as acusações. Já Cortez afirmou que “no Inquérito Policial instaurado à época dos fatos há expressa manifestação do Ministério Público afirmando não haver nenhuma materialidade para envolver a mim e minha filha. A afirmação de “comissionamento embutido” nos honorários a serem recebidos pelo trabalho de advocacia não faz sentido, uma vez que o contrato de serviços previa pagamento apenas em caso de vitória judicial. Para recebê-los, tivemos que ajuizar uma ação de cobrança, que tramita há três anos, na qual o SPFC foi condenado por decisão unânime, transitada em julgado, em todas as instâncias, a nos pagar mais de R$ 5 milhões. A decisão está sendo executada e estamos buscando receber um saldo próximo de R$ 3 milhões, por meio de pedidos de penhoras em contas bancárias, como já autorizado pela Justiça”.
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