Camisa do São Paulo, amor pelo Boca: Ferraresi nasceu no futebol e foi atacante na infância

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GloboEsporte

 Bruno Rodrigues 

Zagueiro venezuelano de 23 anos teve forte influência do pai, ex-jogador.

O Club Atlético Ituzaingó já vencia o Laferrere por 3 a 0 na parte final do segundo tempo quando Adolfo “Pocho” Ferraresi veio a campo. Foram poucos minutos, mas suficientes para que o centroavante, em fim de carreira por conta de uma lesão no joelho, constasse na ficha da partida que deu ao Ituzaingó o título da quarta divisão da Argentina na temporada 2000/2001.

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Logo após o apito do árbitro, “Pocho” correu para a lateral e buscou seu filho. Nos braços do atacante, o pequeno Nahuel pôde vivenciar, de dentro do gramado, a festa de jogadores, comissão técnica e torcedores pelo acesso conquistado, feito histórico para os verdolagas.

Desde muito cedo, o futebol é parte fundamental na vida de Nahuel Ferraresi, zagueiro venezuelano recém-contratado pelo São Paulo.

— Graças a Deus, nunca tive que comprar muitos brinquedos, porque o que ele sempre queria era uma camisa — contou Adolfo, pai do defensor de 23 anos que poderá estrear neste domingo, contra o Santos, pelo Campeonato Brasileiro, em entrevista ao ge.

Nahuel Ferraresi ainda bebê com a camisa do Boca ao lado do pai Adolfo — Foto: Arquivo pessoal

Nahuel Ferraresi ainda bebê com a camisa do Boca ao lado do pai Adolfo — Foto: Arquivo pessoal

Nas redes sociais do pai coruja é possível constatar a relação íntima que Nahuel, por influência sua, sempre teve com o jogo. Em uma gravação caseira datada de dezembro de 1999, Nahuel, então com um ano de idade, está com uma bola no pé e atende aos pedidos de Adolfo, que diz “chuta, chuta, gol!”.

Além do gosto por praticar o esporte, Nahuel Ferraresi também herdou a paixão pelo Boca Juniors. Na infância, os aniversários eram celebrados com a temática boquense e seu quarto, pintado de amarelo e azul.

Apresentação de Ferraresi no São Paulo — Foto: José Edgar de Matos

Apresentação de Ferraresi no São Paulo — Foto: José Edgar de Matos

Pai e filho inclusive foram algumas vezes à Bombonera para torcer pelo Boca. Quando Nahuel cresceu, passou a ir acompanhado de um primo.

— Todos os anos eu comprava a camisa nova do Boca para ele. Ainda temos essas camisas guardadas — disse Adolfo.

A coleção, porém, não tinha apenas uniformes do clube do coração, mas camisas de outras equipes, como por exemplo do Barcelona, um time pelo qual Nahuel simpatizou quando criança.

Mas foi uma outra peça do acervo, revelada nos últimos dias, que chamou a atenção: na apresentação do reforço, o São Paulo exibiu uma foto do venezuelano com o uniforme tricolor na adolescência. Adolfo conta que a camisa foi comprada no Brasil.

— Comprei quando viajei a São Paulo em 2005 com o Deportivo Táchira. Eu estava na comissão técnica de César Farias. Enfrentamos o Palmeiras na fase de grupos da Libertadores. Havia muitos clubes na cidade, mas a camisa do São Paulo me chamava atenção. E comprei para Nahuel — afirmou.

Ferraresi na infância com a camisa do São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Ferraresi na infância com a camisa do São Paulo — Foto: Arquivo pessoal

Adolfo Ferraresi foi um atacante revelado pelo Ferro Carril Oeste na década de 1980, período glorioso da história do clube, mas que construiu carreira nas divisões de acesso da Argentina (Deportivo Merlo, Chacarita, Ituzaingó, Villa Dálmine) e no futebol venezuelano, onde se tornou querido pelos torcedores do Táchira. Foi na Venezuela que ele conheceu Carmen, que se tornaria sua esposa. Juntos, tiveram Nahuel e Pierina, ambos nascidos em território venezuelano.

Depois da aposentadoria de seu pai, o hoje zagueiro são-paulino passou parte de sua infância em Buenos Aires e chegou a treinar nas categorias de base do Vélez Sarsfield. Iniciou no futebol como atacante e também atuou como meio-campista criativo, até que encontrou na defesa uma oportunidade de prosperar.

Nahuel Ferraresi ainda bebê com o pai Adolfo — Foto: Arquivo pessoal

Nahuel Ferraresi ainda bebê com o pai Adolfo — Foto: Arquivo pessoal

Durante um período de testes com o Caracas, em 2015, jogou na zaga e agradou aos observadores. Na sequência, passou por uma avaliação no Nueva Chicago, da Argentina, e foi aprovado. Desde então, não deixou mais a posição de zagueiro.

— Temos que agradecer a Gabriel Cosenza, que era coordenador da base no Nueva Chicago, por ter visto as qualidades de Nahuel, e ao técnico Hernán San Martín, que deu confiança a ele e o colocou para jogar — afirmou Adolfo.

Veja como foi a apresentação de Ferraresi no São Paulo

Outro treinador que o pai de Nahuel faz questão de recordar é Rafael Dudamel, comandante do defensor na seleção venezuelana sub-17 vice-campeã do mundo em 2017. Mais tarde, Dudamel também convocou Ferraresi para a equipe principal da Vino Tinto.

— Dudamel convocou ele aos poucos, fez com que se ambientasse à seleção. Foi o técnico que deu a Nahuel o salto. Os últimos três técnicos que passaram pela Venezuela também o chamaram.

Aniversário de Nahuel Ferraresi decorado com as cores do Boca — Foto: Arquivo pessoal

Aniversário de Nahuel Ferraresi decorado com as cores do Boca — Foto: Arquivo pessoal

Assim como sempre fez ao longo da carreira do zagueiro, incluindo a passagem por Portugal, Adolfo Ferraresi acompanhará o filho na empreitada que se inicia no São Paulo. Ele, Carmen e a irmã de Nahuel devem chegar na capital paulista na próxima semana. A família inclusive conversa com o clube para que Pierina, nadadora, utilize as instalações da sede social para treinar.

— A mãe a acompanha de perto desde pequena. Já eu fiquei mais pendente de Nahuel e de sua carreira. Estaremos em São Paulo com ele, e o clube é um trampolim muito bom para que possa seguir crescendo.

Se antes era ele que levava o filho para dentro do campo nas divisões de acesso argentinas, hoje é Nahuel quem o leva pelo mundo. Culpa das bolas de futebol, preferidas sobre os outros brinquedos.

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