Alta rotatividade e falta de títulos: entenda o que ocorre no CT de Cotia

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Centro de Formação de Atletas do São Paulo, em Cotia-SP
Imagem: Divulgação/SPFC

O São Paulo contratou o equatoriano Juan Macias, de 18 anos, considerado uma das joias da América do Sul. A ideia é que se junte ao sub-20 treinado por Belletti e rapidamente se integre ao time profissional. Tudo o que não conseguiram o uruguaio Facundo Milan e o nigeriano Azeez Balogun, outras tentativas internacionais. Quem conseguiu e não se firmou foi o paraguaio Galeano. Chegaram também há uma semana o ganês King Faissal, que estreou fazendo gol contra o Atlético-GO, e os senegaleses Iba Ly e Clauvis Carvalho.

Com eles, são 45 jogadores sub-17 ou sub-20 que chegaram ao CT de Cotia desde 2021. Destes, 25 já foram dispensados. Alguns jogaram pouco, a torcida nem lembra o nome. E há o caso de Mateus Petri, que veio do XV de Piracicaba, foi titular na Copinha do ano passado – o badalado Patryck Lanza, hoje no profissional, ficou no banco – e que já voltou ao XV, depois de passar por uma contusão.

Além de jogadores, mais 25 profissionais deixaram o clube. Treinadores como Orlando Ribeiro (sub-20, campeão) e Lucas Macorin, sub-15, além de psicólogos, preparadores físicos, analista de desempenho, ortopedista, supervisor, auxiliar técnico, preparador de goleiro, coordenador de captação e fisioterapeuta. E, consequência ou não, o São Paulo ficou sem títulos em 2022 e não teve jogadores convocados para a seleção sub-17. Apenas em termos de comparação, o Palmeiras teve cinco.

Marcos Biasotto é o responsável por Cotia. Ele chegou juntamente com Julio Casares, que o considera altamente qualificado e sempre o elogia. Uma de suas missões era aumentar a agressividade na captação de jogadores. E não considera que haja uma busca exagerada sob seu comando.

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“A contratação de atletas nas categorias Sub-17 e Sub-20 é uma prática comum em todos os clubes. Comissões técnicas e diretoria avaliam o elenco constantemente e, caso observem carências em algumas posições, a ideia é repor esses atletas. Algo que não se deve ignorar é que o elenco principal subiu vários jogadores recentemente e isso nos obrigou a buscar novas opções no mercado”, diz.

Ele cita pelo menos 15 atletas: Young, Nathan, Luizão, Beraldo, Pablo Maia, Patrick, Talles Costa, Rodriguinho, Juan, Pedro Vilhena, Caio, Belém, Ythallo, Marquinhos e Vitinho.

“Sem contar os atletas que sobem por alguns jogos e retornam para a base. Além da necessidade de buscar novas opções, em razão da utilização no time principal, também tivemos casos de atletas que estavam em fim de contrato e não seriam utilizados, por isso foram liberados”< acrescenta.

Pedro Smania, antigo gerente de Cotia, discorda da captação em grande número. Mas ele deixa claro que fala de forma geral e não especificamente sobre o caso do São Paulo:

“Não vejo nada de errado na captação de jogadores mais velhos, mas acredito que deva ser pontual. Essa é a base e repito que não estou falando apenas do São Paulo, do meu trabalho: captação agressiva em idades menores, acompanhamento o tempo todo e contratação pontual de revelações prontas ou quase prontas para o profissional.”

Ele explica que quando esteve à frente de Cotia trouxe Juan (União São João), Pablo Maia (peneira), o goleiro Leandro (Amparo), Beraldo (XV de Piracicaba), Nathan (América de Teófilo Otoni), João Adriano (Criciúma), Young (Desportivo Brasil) e o centroavante Facundo.

Projeto é formar

Biasotto não vê causa e efeito entre alta rotatividade e falta de títulos. E nem considera ganhar campeonatos como o mais importante. “A prioridade da base não é conquistar títulos. O São Paulo trabalha para formar bem atletas e cidadãos e isso tem sido feito. Basta olhar a quantidade de atletas vindos de Cotia, que estão no time principal ou que já foram negociados e trouxeram retorno financeiro ao clube. Mesmo assim, em 2021 ganhamos a Copa do Brasil e a Supercopa, chegamos na final do Brasileiro Sub-20 e ficamos em terceiro na Copinha”, explica.

E as convocações precisam ser analisadas em um período maior, segundo ele: “O meia Guilherme Batista foi convocado para um período de treinos. O treinador é que pode explicar porque não teve ninguém na lista. E, de 2021 ate hoje, tivemos 16 convocados para as seleções de base. O Patryck foi campeão sul-americano e Beraldo e Rodriguinho também foram chamados, só que pedimos a liberação”.

A alta rotatividade em Cotia não se restringe a jogadores. Mais de 25 pessoas entre treinadores, auxiliares, preparadores físicos saíram. Para Biasotto, nada a estranhar: “As trocas dentro de um clube de formação são normais. Alguns funcionários pedem para sair. O Alex, por exemplo, chegou neste período, fez o trabalho dele de forma muito competente e decidiu sair para trabalhar em uma equipe principal. E tem alguns que a gente avalia que não estão dentro do que a gente espera e por isso são desligados.”

Comando do time Sub-20

Antes com Alex, o sub-20 do São Paulo agora é comandado por Beletti. Para Biasotto, o trabalho do ex-meia foi ótimo. “Ele auxiliou na transição de 15 atletas para a equipe principal. Além disso, chegou à final do Brasileiro Sub-20 (pela primeira vez na história), e perdeu a semifinal da Copinha para o Palmeiras, que foi o campeão. Consideramos que o trabalho dele foi excelente. Belletti está chegando agora e merece respeito, por tudo que fez como atleta e pelos títulos conquistados. Ele não é um iniciante no futebol”.

Cotia foi famosa por ter uma política rigorosa contra empresários de garotos. O São Paulo se orgulhava de ter 100% dos direitos de quase todos. Não é mais assim. Biasotto explica, usando outros clubes como exemplo. Algo na linha “todos fazem, por que a gente não pode fazer?”

“Hoje em dia, há vários casos de clubes que têm apenas uma parte dos direitos de um jogador em formação. Isso faz parte das negociações. O São Paulo sempre tenta ficar com o percentual mais alto dos atletas. Quando chegamos ao clube, já tínhamos um percentual muito grande de jogadores com parte dos direitos. Alguns até conseguimos aumentar o percentual do São Paulo”, explicou.

UOL