Violência e fuga de Gil. 10 anos da maior vitória são-paulina no Majestoso

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UOL – Vanderlei Lima

São Paulo goleou o rival no Pacaembu, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro

São Paulo goleou o rival no Pacaembu, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro

 

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O dia 8 de maio ficou marcado na história do clássico Majestoso. Há exatamente 10 anos, o São Paulo aplicava sua maior goleada sobre o Corinthians, 5 a 1 em pleno no estádio do Pacaembu, em jogo válido pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro.  Foi o placar mais expressivo da história do time do Morumbi sobre o arquirrival desde sua refundação, em 1935 –o extinto São Paulo da Floresta já havia conseguido uma goleada por 6 a 1, em 1933.

Embalado após o título do Paulistão, o São Paulo vivia um momento iluminado em 2005, que terminaria com as conquistas da Libertadores e do Mundial. Enquanto isso, o Corinthians passava por um momento de instabilidade sob o comando do técnico Daniel Passarella no final daquele ano, após duas trocas de técnico, o Alvinegro se recuperou e foi campeão brasileiro.

Com gols de Luizão (2), Rogério Ceni, Cicinho e Carlos Alberto (contra), o time do Morumbi não tomou conhecimento do rival, que precisou suportar um forte protesto da torcida naquela partida. Houve tentativa de invasão de parte dos torcedores, o que assustou os corintianos na época.

O clássico foi tão marcante que deixou lembranças em diversos personagens que estiveram em campo. Teve choro da mãe do então novato goleiro corintiano Tiago, uma “fuga” do atacante Gil, que conta que deixou o estádio em um taxi antes do fim da partida por receio da violência dos torcedores. Os são-paulinos lembram que receberam até um bicho dobrado pelo expressivo resultado.

Choro da mãe: “Tira meu filho daí”

Antônio Gaudério/Folhapress

Aos 22 anos, Tiago acabava de assumir a meta corintiana após Fabio Costa ser barrado. Empolgados, os pais do goleiro vieram, de ônibus, do Paraná para ver o filho em ação pela primeira vez na carreira.

Ao ver a goleada sofrida pelo Corinthians, a mãe de Tiago chorou de forma inconsolável e chegou a pedir para o assessor do atleta tirá-lo de lá.

“Foi a primeira vez que a minha mãe me viu jogar no estádio. Ela e o meu pai vieram de ônibus do Paraná para me ver jogar. Chegaram no dia do jogo e iam voltar depois da partida. Na época, o meu assessor e hoje empresário, Fabiano Gudjenian, estava no estádio sentado ao lado da minha mãe. Ela só chorava, é corintiana, estava um pouco desesperada. O Fabiano disse que a minha mãe falava: ‘Fabiano, tem que dar um jeito de tirar o Tiago de lá'”, conta o goleiro.

A “fuga” de Gil

Foto Eduardo Knapp/Folha Imagem

A goleada são-paulina gerou uma grande revolta da torcida corintiana. O coro ‘a, e, i, o, u, agora eu quero ver pra sair do Pacaembu’, era entoado a plenos pulmões pelos mais exaltados.

A situação tensa começou a preocupar alguns membros do elenco, como o atacante Gil. Substituído durante o duelo, o jogador ficou com medo de alguma agressão e foi embora antes mesmo do fim do clássico.

“Eu só esperei a lista do doping, quando vi que meu nome não estava, disse: ‘Doutor, vou pegar um táxi e vou embora.’ Eu sabia que a torcida já estava revoltada ficamos preocupados com algum tipo de agressão. Eu me precavi e acabei indo embora. Fui ao hotel, peguei meu carro e eu fui escutando na rádio o que estava acontecendo”, lembra Gil.

“Eu estava apreensivo. Quando acabou o jogo, estava chegando em casa. Eu lembro que eu falei com o Carlos Alberto e eles demoraram duas horas para sair do Pacaembu porque a torcida estava revoltada. Eu tive a infelicidade de ter saído, mas também a oportunidade de não ficar ali naquela pressão toda”, aumenta.

A revolta da torcida

Eduardo Knapp/Folha Imagem/Arquivo

As manifestações de indignação da torcida corintiana ficaram mais intensas no segundo tempo. Os mais exaltados entraram em confronto com a Polícia Militar ao tentarem invadir o campo. Após a partida, os jogadores do Corinthians encontraram muita dificuldade para deixar o estádio do Pacaembu.

“Estava no segundo tempo e eu lembro que atrás do meu gol começaram a passar policiais. Não lembro a quantidade, quando olhei para trás, vi a torcida forçando o portão. Continuei jogando, conheço o clube, joguei desde os meus 14 anos no Corinthians. Então, eu sabia da pressão. Alguns torcedores invadiram, quebraram o portão, foi bem difícil”, afirma Tiago.

“Eu fui embora esperando as notícias e torcendo para que nada acontecesse com os jogadores, com os meus companheiros de trabalho. Felizmente não aconteceu nada, somente a revolta na hora da partida. Depois, o Corinthians conseguiu deslanchar e ainda ser campeão brasileiro em 2005”, conta Gil.

Bicho dobrado no São Paulo

Fernando Donasci/Folhapress

Se o clima ficou tenso no Corinthians, a situação foi diferente no São Paulo. Após o 5 a 1, os jogadores chegaram a receber até mesmo o dobro da bonificação por vitória, o popular “bicho”.

“Na época, os jogadores chegavam no intervalo e falavam no vestiário para o Juvenal Juvêncio: ‘Tem que dobrar isso aí, hein?’.  Aí o Juvenal acatava na hora”, lembra o zagueiro Alex Bruno, que defendeu o São Paulo naquele clássico.

O São Paulo tirou o pé?

Keiny Andrade/Folhapress

Foram três gols em 17 minutos de jogo, situação que fez o São Paulo ficar mais calmo na partida e apenas tocar a bola. Com a torcida do Corinthians ameaçando invadir o gramado e o rival completamente vencido, há quem diga que o clube do Morumbi tirou o pé para não aumentar a diferença.

Alex Bruno defendia o Tricolor na época do clássico e garante: o São Paulo diminuiu o ritmo.

“Eu não sei se eles estavam nervosos ou sem confiança com a pressão da torcida. Se fossemos mais acirrados, conseguiríamos fazer mais. Não forçamos mais pelo momento. Eu acho que daria para fazer mais, eles estavam muitos nervosos, desequilibrados, irritados pelo placar adverso”, disse.

Apesar de “tirarem o pé”, alguns jogadores do São Paulo afirmam que não menosprezaram o Corinthians. O objetivo era apenas jogar futebol e vencer o jogo.

“Não desrespeitamos eles de maneira alguma. Jogamos futebol mesmo. E aquele foi o nosso dia, estava tudo dando certo”, lembra o atacante Luizão, autor de dois gols no clássico.