Febre Tricolor – Correção de rota

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Gestões desequilibradas afastaram clube de conquistas

Com o encerramento do ano de 2017, o São Paulo chegou ao quinto ano sem a conquista de títulos. São 9 anos sem triunfar em ligas nacionais, 12 anos sem levantar os canecos da Libertadores e Estadual. Pretendo, no entanto, recortar um intervalo menor para ponderar o motivo de recentes desequilíbrios. E quais as soluções dos comandantes do futebol, Raí e Ricardo Rocha, para corrigir a rota e retomar a grandeza da instituição como um todo; notadamente transparentes e elucidadas nas duas entrevistas concedidas pelo ídolo e executivo do setor.

O recorte é entre os anos de 2014 e 2018. O presidente Carlos Miguel Aidar – pioneiro no ano de 1987 por um futebol melhor, quando conduziu a liga de clubes – não queria fazer uma gestão inferior àquela que o marcou. Desconsideradas as “suspeitas” de aplicações irregulares de verbas do clube, foi feito um amplo investimento que talvez o caixa não comportasse naquele momento.

Sem perceber, naquele ano de 2014, o Tricolor tinha uma equipe formatada com Alexandre Pato, Luís Fabiano, Alan Kardec, Michel Bastos, Kaká, Paulo Henrique Ganso, Rogério Ceni e Wesley. Era o último ano de respiro da macroeconomia, que afetaria a America Latina sensivelmente a partir daí. Os salários dos jogadores foram divulgados por diversos veículos, de modo que é hipócrita não avaliá-los de acordo com essa informação que obtivemos.

O Tricolor pagava metade dos vencimentos de Pato (R$ 400 mil), Luis Fabiano (R$ 700 mil), Ganso (R$ 400 mil), Rogério Ceni (R$ 800 mil), Wesley (R$ 300 mil)… com o prestígio que tem, Kaká, possivelmente, não recebia menos de R$ 500 mil, Michel Bastos, vindo da Europa, também estava nesse patamar e, Alan Kardec, jogador de pré-lista de Copa do Mundo, também girava em torno dessas cifras.

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O fato é que nenhum clube sulamericano pode pagar isso. Um momento econômico favorável é meramente especulativo, e tais fatos deveriam ter sido considerados pela diretoria. Não havia possibilidade de competição. O Cruzeiro de Marcelo Oliveira, dos anos de 2013/14, é o time que vi mais parecido com o que praticava Telê Santana. O resultado é que o Tricolor formou um time de astros no meio do campeonato, que sequer se aproximou do campeão.

A conta

Comando técnico sofreu quatro mudanças, em 2015

O resultado desse pesado investimento não demoraria a ser cobrado. Após as saídas de alguns desses jogadores, o São Paulo enfrentou dificuldades no ano de 2015 com mudanças de treinadores e dificuldade para montar uma equipe competitiva. Muricy Ramalho deixou o clube em abril, e o Tricolor apostou no colombiano Juan Carlos Osório, lhe prometendo a montagem de uma equipe de qualidade.

Houve intensa crise de gestão no clube, que culminou na saída do colombiano na metade do Campeonato Brasileiro, quando optou por aceitar o convite da seleção do México. Não foram poucos os escândalos diretivos, abalo da imagem institucional e decisões precipitadas como a contratação do técnico Doriva. Pior que contratá-lo, foi demiti-lo em seguida e terminar o ano com um bom trabalho do interino Milton Cruz. A equipe ainda terminou na 4ª colocação do campeonato, contando com grandes atuações de Paulo Henrique Ganso e Luís Fabiano.

Veio o ano de 2016 e novas dificuldades enfrentadas pelo clube, e suplantadas pelo bom trabalho desenvolvido por Gustavo de Oliveira, que formou um time sem dinheiro. Algumas de suas apostas precisas foram as contratações por empréstimo do atacante Jonathan Calleri e a descoberta do meia Christian Cueva no duelo contra o Toluca. Com muita dedicação a equipe de Edgardo Bauza chegou à semifinal da Libertadores, mas o técnico também saiu pra dirigir a Argentina. O ano terminou com intensas dificuldades, a chegada de Ricardo Gomes e Marco Aurélio Cunha pra fazer o time pelo menos terminar em 10º.

O pagamento da conta

Ceni foi prejudicado por venda de jogadores competitivos

O ano de 2017 foi mais dramático. O ídolo Rogério Ceni foi contratado como treinador e teve de suportar um dos momentos mais terríveis do clube, não pelo árduo trabalho daquela diretoria, mas pelo que havia sido feito em 2014. Uma base promissora salvou o São Paulo, do que poderia ter sido uma terrível crise financeira. O ponta David Neres foi negociado com o Ajax e, posteriormente, após a acertada resistência de Ceni, foi negociado Luiz Araújo com o Lille, que partiu ao lado do companheiro Thiago Mendes.

Em recente entrevista o ex-treinador do Tricolor, Rogério Ceni, revelou que o zagueiro Maicon lhe pediu pra sair e aceitar uma proposta da Turquia, pois não mais acreditava no projeto. Foi exatamente o que aconteceu. Por pouco não houve também a saída de Cueva. Desacreditado, Michael Beal (assistente técnico inglês trazido por Ceni) saiu do clube. O motivo da saída foi exatamente a venda de Mendes e Araújo. Acreditava o auxiliar técnico que o time havia perdido velocidade e competitividade. Desesperançoso, Ceni revelou que Mendes era essencial ao esquema por cumprir o papel tático do jogador box to box – que tem facilidade para percorrer todo campo de ataque e defesa.

O fato é que não havia o que ser feito. A dívida bancária do São Paulo assombrava, os números totais de prejuízo chegaram aos 300 milhões. Aos poucos o árduo trabalho de diretores, como o vice-presidente de administração e finanças, Adilson Alves Martins, fez com que o déficit fosse saneado. Só com venda de jogadores foram R$ 181 milhões. Os jovens talentos poderiam render até mais se o clube atravessasse um momento de mais estabilidade e também render um resultado esportivo almejado.

A reconstrução

River Plate pode oferecer até US$ 13 milhões por Lucas Pratto

Querem os atuais comandantes do futebol do São Paulo, Raí e Ricardo Rocha, devolver, nesse primeiro momento, a estabilidade ao departamento. A manutenção do trabalho do técnico Dorival Júnior, embrião desenvolvido no segundo turno do Campeonato Brasileiro do ano passado, é fator que agrega nesse sentido. A integração da base tricolor com o profissional é ferramenta para desenvolvimento de novos ídolos, entrega esportiva e financeira ao clube.

Outro prisma para estabilidade e formação de um elenco vencedor é a manutenção da base do time do ano passado. O goleiro Sidão, os zagueiros Militão, Aborleda, Rodrigo Caio, os volantes Petros e Jucilei, o meia Cueva e o atacante Marcos Guilherme compuseram essa espinha dorsal.

O meia Hernanes foi um vantajoso negócio para aquele período, entretanto o técnico Manuel Pellegrini, do Hebei Fortune-CHI, deseja contar com o atleta nesse momento. O jogador recebe 2,5 milhões por mês e não há como o Tricolor comprá-lo ou resistir, até porque não tem como regredir para 2014.

Por outro lado, o atacante Lucas Pratto faz parte dos planos, mas avisou ao clube que tem interesse de seguir ao River Plate entendendo que essa é uma chance que o aproxima da Copa do Mundo, mas, sobretudo, por ter um contato mais próximo com sua filha. O São Paulo só aceitará uma oferta que cubra R$ 20,7 milhões investidos em 50% do passe dele, no meio do ano passado (6,2 milhões de euros). A imprensa argentina especula que, dependendo das metas, o valor poderá chegar a US$ 13 milhões – o que atende à pretensão do Tricolor. O jogador deverá partir.

Reposição

Scarpa é o nome mais próximo de se concretizar

Desde que chegou ao São Paulo Futebol Clube, o diretor executivo de futebol Raí trabalha seguidas horas para reforçar o clube. Há quem entenda um atraso no planejamento que de fato há, por dois fatores: a dificuldade enfrentada na tabela de classificação da Liga Nacional em 2017 e o calendário apertado do futebol brasileiro. Para o bom observador, porém, já se sabe desde dezembro que o São Paulo pretendia usar uma equipe recheada de jovens jogadores nas rodadas inaugurais do Campeonato Paulista, e só ter a equipe principal no clássico diante do Corinthians.

Mirando no exemplo do Palmeiras, clube com mais potencial para contratar, àquela equipe foi reforçada com o zagueiro Émerson Santos, os laterais Diego Barbosa e Marcos Rocha, além do meia Lucas Lima. Este colunista afirma, peremptoriamente, que o São Paulo não terá reforços de peso menor do que estes.

Conforme informou Raí na coletiva da última sexta-feira, são estudadas contratações “precisas e de qualidade”. Embora a imprensa fale muito sobre Diego Souza, o jogador mais próximo de fechar é Gustavo Scarpa. Deverá ser oferecido ao Fluminense R$ 3,5 milhões de euros mais quatro jogadores. Iriam por empréstimo: Lucas Fernandes e Reinaldo. Em definitivo: Bruno e Húdson. A proposta agradou ao técnico Abel Braga, mas o sumiço do jogador das Laranjeiras não.

Como o próprio Raí apontou, Diego Souza interessa ao clube. Não é – nem de longe – o principal objetivo. O nome é utilizado para dispersar a atenção em relação aos outros que têm sido procurados. O treinador Dorival Jr. teria vetado a chegada do atacante Aloísio Boi Bandido.

Nenhum diretor do São Paulo confirmará a informação, mas se Lucas Pratto decidir ir ao River Plate, no dia seguinte a busca por Jonathan Calleri irá se intensificar. Já há conversas entre as partes. O excelente jornalista argentino, Pablo Gravellone, tuitou essa semana que Jony pode voltar ao São Paulo; acredita ele que no mês de julho. O comentário, inclusive, foi retuitado pelo pai do jogador, Guille Calleri. É o nome que já trabalham como alternativa a Pratto.

Outras conversas são com os pontas Marinho (Changchun Yatai) e Gabriel Barbosa (liberado pelo Benfica para negociar com outros clubes). Para as laterais as conversações são com o lateral direito Victor Ferraz (Santos) e com o lateral esquerdo Alexis Soto (Racing, de Avellaneda).

Conforme esclarecido pelo diretor Raí o time será composto da base do ano passado incorporada com jovens jogadores, a manutenção da comissão técnica e essas contratações “precisas e qualificadas”, para tentar retomar o caminho das conquistas, que já se distanciam em 5, 9 e 12 anos.

Contato:

@RealVelame ou [email protected]

Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

ATENÇÃO: O conteúdo dessa coluna é de total responsabilidade de seu autor, sendo que as opiniões expressadas não representam necessariamente a posição dos proprietários da SPNet ou de sua equipe de colaboradores.

10 COMENTÁRIOS

  1. Boa coluna Velame
    Minha única preocupação é o Leco estar utilizando Raí e Ricardo Rocha como bois de piranha, prometendo mundos e fundos e não cumprindo nada, causando outro grande stress no meio da temporada, faz 3 temporadas que está é nossa realidade.
    Quero acreditar que nossa diretoria está trabalhando em muito sigilo, porém se não for isso, f….

    • Obrigado Eugênio, fico feliz vindo de ti.

      Acho que não tem como dar maior liberdade do que está sendo dada ao Raí. O caminho que eu vejo para um time de futebol é este… manter uma base anterior, manter o trabalho do técnico e tentar evitar as baixas (o que é bem difícil para os times sulamericanos)… contratações não podem ser de baciadas, tem que ser precisas mesmo…

      O Leco não tá se metendo no futebol… se houver erro será pelo trabalho dos nossos diretores mesmo. Mas eu confio muito na capacidade do Raí.

  2. Os caras caem no conto de qualquer um…pagar dívida eh coisa d clube trouxa, a diretoria do SP sabe disso e fica fingindo q paga e nao contrata ng e todo mundo aceita enquanto deveria nao pagar e contratar jogador bom e ganhar titulos e visibilidade de novo…estamos longe dessa realidade com esses bananas na direção e na torcida q aceitam qualquer desculpa de sobriedade vinda desses crápulas. Ficam falando em manter a base e vendem o Pratto, perdem Hernanes…vtnc

    • Leo,

      Se eu não pagar uma dívida eu não consigo dormir, nesse sentido somos diferentes. Não me acho trouxa, me acho honesto.

      Só é bom ficar endividado quando você tá investindo em longo prazo e pagando aos poucos…

      O clube não “perdeu” Hernanes. Não se perde o que nunca teve. Ele só veio por empréstimo porque aceitaram uma cláusula dos chineses de que eles poderiam pedir o jogador de volta em janeiro. O antigo treinador não contava com ele. Veio o Pellegrini, e os jogador estrangeiro que ele queria ter pro setor não se concretizou, a saída do argentino foi pedir o retorno do Hernanes. Imagino que ele deixe no Hebei Fortune o Lavezzi, Hernanes e Mascherano como estrangeiros. O Hernanes ganha 2,5 milhões de salários por mês, durante o período de empréstimo ao São Paulo, o Tricolor livrou 500 mil deste valor. Não é nesse momento um jogador em nível de Brasil, infelizmente… por isso até que prefiro que você construa uma base forte do que tome esses empréstimos irreais… se eles forem atrás do Calleri, que seja em definitivo.

      O Pratto, por enquanto, não está vendido. Para que o São Paulo contratasse ele do Atlético-MG estipulou-se uma cláusula que, no caso de uma proposta de 10 milhões de euros o São Paulo seria obrigado a vender. Sem essa cláusula o Galo não liberaria o atleta pro São Paulo. Não há interesse do clube em negociar Pratto, isto é, o River Plate vai ter que pagar 11 milhões de euros ou 13 milhões de dólares, que é o valor que se afirma na Argentina que a proposta pode chegar caso ele cumpra metas.

  3. Antes de tudo, desejo um grande ano a você Velame.

    Em relação ao que foi proposto, eu já li em alguns artigos que o Alexis Soto viria em uma negociação envolvendo o Jonathan Gomes.

    Concordo com o Dorival em não trazer o bovino de volta, acho um jogador do mesmo nível de Gilberto

    Scarpa ainda fechando seria uma grata surpresa visto a concorrência com outros clubes com mais bala na agulha e participando da Libertadores.

    Em relação ao Calleri, acho que é mais desejo de torcedor do que uma realidade.

    O trabalho está atrasado, o tempo é inimigo, o cara vai de ídolo a vilão em segundos. Abre o olho Raí.

    No mais um grande domingo

    • Também achava que o Calleri era um desejo do torcedor… mas, estou te dando a informação aí… uma que eu já tinha, e confirmada pelo jornalista Gravellone (retuitada pelo pai do jogador) e pelo Osvaldo Pascoal (Da Fox) também.

      A procura é real e já tem mais de mês.

      Quanto ao Scarpa, ocorre que o Palmeiras (único que tem mais bala na agulha de fato)… não está tão interessado, por já ter três meias (Moisés, Guerra e Lucas Lima) e que jogava com apenas um ano passado.

      O Corinthians tá afundado em dívidas, dificuldades de pagar salários, se for prudente usará o dinheiro do Jô pra sanear um pouco disso.

      Outro concorrente é o Cruzeiro, também com menos bala na agulha. Corre o risco do time que já devia afundar de vez, pagando 1 milhão por mês pro Fred. Tá contratando pra ganhar a Libertadores mesmo, de qualquer jeito.