Vento Sul – O fator Hernanes

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Quem assistiu ao jogo de domingo, assim como eu, sentiu, até os 15 minutos do segundo tempo, um misto de raiva, incredulidade e decepção com a atuação que o tricolor vem desempenhando neste campeonato paulista. Com uma arrancada digna de trazer esperança até os mais céticos dos torcedores, a nação são-paulina viu o time dar uma espécie de “apagão” e tropeçar em jogos que esperávamos resultados completamente diferentes, isso é fato (não sejamos hipócritas aqui).

Vimos uma equipe engajada e quase que imbatível nas duas primeiras rodadas cair no primeiro clássico, sendo derrotado pelo Santos por 2×0 e, na rodada seguinte, cair diante do Guarani por 1×0. Contra o São Bento na última rodada, os resultados medíocres das rodadas anteriores só não se repetiram por um único motivo: o golaço do profeta. Um gol tão lindo, mas tão lindo, que poderia se tornar um elogio do tipo “Nossa, você está tão linda hoje, parece até o gol do Hernanes contra o São Bento”.

Após o gol, pude perceber que aquela apatia que o time se encontrava até então no jogo (muito, talvez, pelo desempenho nas rodadas anteriores e péssima atuação no primeiro tempo) foi meio que afastada e a equipe encontrou ânimo para segurar o resultado positivo e conquistar os tão almejados três pontos.

Passado o jogo, comecei a pensar no papel que Hernanes vem desempenhando no time, não somente dentro, como também fora dos gramados, e cheguei à seguinte conclusão: percebi que muita gente está depositando no profeta uma espécie de responsabilidade que, talvez, não lhe caiba: a de carregar uma equipe nas costas.

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É inegável que Hernanes é, hoje, uma peça fundamental na equipe e um dos principais jogadores que já passaram pelo clube. A torcida possui em carinho enorme, por tudo que ele fez pelo São Paulo, especialmente em 2017, quando nos ajudou a superar, talvez, um dos piores momentos do clube desde seu nascimento, nos livrando de um rebaixamento iminente e inédito.

Hernanes, hoje, é a cabeça e o coração da equipe, e é exatamente esse o ponto que me preocupa. Depositar em apenas um jogador tamanha responsabilidade, por mais que saibamos que ele sabe lidar com este tipo de situação, é algo perigoso. Assim como o ditado popular que diz que “uma andorinha só não faz verão”, creio que não podemos esperar que o destino do clube, suas atuações, bem como o resultado dos jogos, dependam apenas de um jogador principal.

Temos obviamente, a consciência de que o profeta é um líder do grupo, auxiliando tanto na resolução de conflitos internos, quanto nas situações em campo que demandem uma orientação tanto técnica, quanto emocional, porém não podemos esquecer que Hernanes, apesar de ser O jogador, é um entre 11, 25.

Penso que é muito perigoso depositar tamanha responsabilidade em apenas um jogador, pois caso ele não atenda ou supere as expectativas, acaba por decepcionar uma grande leva de torcedores, dirigentes e comissão técnica, transformando, quase que imediatamente, aquele que outrora era um jogador que tirava o time de situações difíceis, em apenas um jogador trivial “incapaz de realizar o que era esperado dele”.

Convenhamos que nossa torcida, por mais apaixonada que seja, possui um histórico de “cornetar” até quem, um dia, já foi ídolo. Recentemente, Tiago Volpi teve que desativar os comentários em sua conta do instagram, em razão dos ataques que sofreu por parte da torcida por conta do que estes torcedores julgaram uma falha no jogo contra o Ajax, pasmem, EM UM TORNEIO AMISTOSO!

Chega a ser injusto e desesperador pensarmos na possibilidade disto acontecer num futuro próximo com um jogador tão completo e tão importante quanto o Hernanes. Por isso, mantenho a minha opinião de que, apesar de ser um jogador líder, o alicerce de todo o time, não podemos esquecer que a responsabilidade pelos resultados negativos e o dever de alcançar resultados positivos são de todos os atletas, dirigentes e comissão técnica do São Paulo Futebol Clube. Em momentos de crises e sequência de derrotas, raramente vemos estes últimos serem execrados, tanto pela torcida, quanto pela mídia.

O fator Hernanes, hoje, é de extrema importância para o tricolor paulista, pois ele significa esperança e fé em atuações e resultados melhores, pois fortalece o espírito de equipe do time, celebra a harmonia entre os dirigentes e, indiretamente, afasta todos os requisitos necessários para que uma crise se instale no time. Mas precisamos lembrar de que ele é um ser humano, passível de erros e que não devemos crucifica-lo acaso ele não atenda ou supere as nossas expectativas em determinados momentos ou partidas.

Lembrem-se de que somos nós quem criamos as expectativas e, injustamente, depositamos nos outros, na esperança de que façam o que esperamos, e nossa reação mais comum quando isso não acontece é diminuir o outro, focar nos seus defeitos para justificar a decepção. Que a torcida tenha maturidade para não cometer esse mesmo erro com o profeta, pois ele já demonstrou, em diversas oportunidades, todo seu amor e respeito ao São Paulo Futebol Clube e sua torcida.

Todos agora estão apreensivos e esperando o jogo decisivo de amanhã, contra o Talleres, pela copa libertadores. Obviamente, todos aguardam uma atuação tricolor impecável, e que Hernanes seja, novamente, uma figura decisiva e líder da equipe, nos levando ao triunfo contra a equipe argentina. Já observo comentários à respeito da péssima campanha e classificação do clube no campeonato argentino, numa espécie de justificativa para apontar o tricolor como favorito, impondo, intrinsecamente, um dever de vitória.

Torno a dizer que esperar isso de apenas um jogador é errado e injusto. Acredito muito que possamos sair vitoriosos amanhã para darmos o primeiro passo rumo ao tetra, mas tudo isso virá graças ao entrosamento da equipe e ao bom trabalho desempenhado pela comissão técnica (Jardine, pelo amor de Deus, nunca te pedi nada). O fator Hernanes será um diferencial, uma espécie de motivação, pois ajudará muito no psicológico, especialmente dos jogadores menos experientes.

Assim, termino a coluna de hoje desejando ao profeta um excelente retorno ao São Paulo Futebol Clube, e que ele não seja injustiçado pela torcida, pois já se mostrou um jogador apaixonado pelo clube que veste a camisa. Que tenha sabedoria para lidar com os momentos difíceis, ânimo para buscar resultados e paciência para lidar com os infortúnios que, por ventura, possam acontecer.

É isso. Sigam firmes, tricolores. Amanhã começa a nossa saga, com nosso retorno à uma competição que nunca deveríamos ter deixado de participar! Estamos juntos!

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Morgana Koenig é advogada, catarinense, praticante de artes marciais, ama escrever e é completamente apaixonada pelo São Paulo Futebol Clube.