A fase decisiva da Copa Libertadores começa essa semana e com ela a chance do São Paulo tornar as coisas mais fáceis. É hora de jogar futebol! O técnico Edgardo Bauza, reconhecido como pragmático e objetivo, tem superado os seus próprios limites no comando técnico do Tricolor. Sabe o treinador argentino se tratar de um dos maiores desafios de sua carreira, ao chegar em um clube de elevada tradição em um momento de reequilibrar as finanças. O momento chave no Torneio Sulamericano determinará os frutos da insistência na filosofia de trabalho.
Desde que chegou a tática mantida (4-2-3-1) foi a mesma. Em apenas uma partida houve mudança para o 4-3-2-1. No decorrer de outro confronto houve a opção por dois atacantes. E foi só. Está claramente definida a predileção, inclusive por um conjunto de jogadores fixos. Foi formada uma base no time. Duas mudanças pontuais deram, no entanto, jogabilidade ao São Paulo. A entrada de Kelvin, como ponta direita, e de João Schmidt, na cabeça de área. Ambas resultaram nas duas melhores partidas do São Paulo esse ano: a vitória de 6 a 0 sobre o Trujillanos, e de 2-1 sobre o River Plate.
O crescimento de uma equipe de futebol está condicionada à força do meio-campo. O encaixe parece ter sido perfeito. Esse ano Húdson Rodrigues parece ter crescido como jogador, está em todas as partes do campo, realiza uma marcação mais rígida e se apresenta como opção, movimentação constante. Faltava no meio uma válvula de escape na armação. O retorno de João Schmidt poderá representar crescimento coletivo ao São Paulo. O jovem jogador tem sido desafogo para Paulo Henrique Ganso.
Muito foi falado na semana das expulsões de Dênis e Calleri, no heróico empate na altitude de La Paz. Pouca gente lembrou da possibilidade do importante retorno de João Schmidt, cujo prazo de recuperação era aproximadamente de duas semanas desde a lesão. É essa volta que poderá reverter em crescimento à equipe, desde agora, no confronto decisivo contra o Toluca-MEX, na próxima quinta-feira, no Cícero Pompeu de Toledo. O São Paulo precisa fazer o resultado, mas sobretudo precisa de um futebol convincente.
Poderio mexicano
O futebol mexicano se destaca pelo elevado poderio econômico. As condições de mercado fazem com que as equipes tenham mais possibilidades financeiras do que as brasileiras. Bons jogadores de nosso País, inclusive, ganham destaque em diferentes times mexicanos. Último exemplo recente o atacante Rafael Sóbis, finalista da Libertadores do ano passado pelo Tigres.
Não há uma predominância de uma equipe mexicana em termos de tradição. Observamos um equilíbrio entre times como Chivas, Tigres, Pumas, Toluca, Cruz Azul e, anteriormente, Necaxa e América. Algumas de nossas equipes tem maior tradição, porém não podemos desprezar a maior capacidade de investimento que possuem, o que leva, em tese, a construção de elencos mais qualificados.
Sem desprezar a qualidade do adversário é hora do São Paulo mostrar sua força. É justo fazer valer todo o empenho e heroísmo demonstrado pelo elenco pra chegar à classificação. Foram duas vitórias e um empate em um estádio dificílimo de jogar; mesmo tendo predominado o anti-jogo. Sem dúvidas, o São Paulo pode tornar as coisas mais fáceis. Mas, o importante, como ponderou este colunista, é que vencemos dos caras! E, agora, chegamos!
Exemplo de dedicação
Ao ver jogadores em nosso meio-campo como Michel Bastos, João Schmidt e Ganso, inegável reviver o meu romantismo de um futebol bem jogado e bonito. Acho que podemos superar nossos adversários se estivermos com confiança, com toques rápidos, criatividade, temos sim qualidade para chegar longe. Mas precisam demonstrar na prática.
O exemplo de dedicação foi demonstrado pelo treinador Fernando Diniz. Três anos de trabalho fazendo algo inédito, deixou pra trás equipes maiores do futebol paulista e está na final do Estadual. É jogo trabalhado desde o goleiro. Nem mesmo o Barcelona de Guardiola ou o São Paulo de Telê Santana foram tão longe em uma filosofia, que engloba os 11 atletas.
O estilo de Diniz foi contestado anteriormente, não foi fácil chegar ali. O próprio Tricolor venceu por quatro gols há dois anos, quando o então treinador Muricy Ramalho considerou bonito de se ver, mas impraticável pelo risco. Ainda bem que Fernando Diniz manteve seu perfil, mesmo com as críticas, para o bem do futebol brasileiro.
O exemplo nos serve, de alguém que apontou o São Paulo, na semana passada, como um dos maiores clubes do mundo. Retribuo dizendo: Fernando Diniz é dos técnicos mais corajosos do mundo. Ao meu ver é mais tranquilo adotar esse estilo por clubes com maior potencial financeiro. Difícil é formar cidadãos com carências sociais, educá-los e lhes transmitir um plano de futebol.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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