Olá amigos, minha coluna de hoje será uma reprise importante!
Foi publicado na grande imprensa que a Prefeitura de SP quer anular a doação do terreno aonde está construído o Estádio do Morumbi (Veja nesse link ) . Só estão esquecendo “apenas” de verificar que a doação de parte do terro aonde está o SPFC e seu clube social, está registrado em cartório e outorgado por todas as entidades da época. E como diz neste texto feito por mim especialmente para o Daniel Perrone publicou no Blog do Torcedor que ele tem no Globo.com e posteriormente também publicado no site da rádio São Paulo Digital, a Imobiliária Aricanduva fez a doação de parte do terro que não tinha valor de mercado nenhum e que a prefeitura poderia utilizar essa área para construir uma praça popular, já que o córrego desvalorizava o terreno. O tal córrego passa por baixo do estádio e foi canalizado pelo SPFC com a obra do estádio. Obra que seria “obrigação” da prefeitura, mas que na época não poderia fazer porque não tinha uma empresa de saneamento e sim uma “fiscalizadora” apenas dos esgotos na cidade de SP.
Esse texto também serve até para ajudar a tirar essa mania pequena de quem não tem apreço por leitura e muito menos por história, que outros torcedores insistem em dizer mentiras e inverdades sobre a nossa história. Por isso o torcedor tricolor precisa saber mais e mais sobre a verdadeira história do nosso Amado Clube Brasileiro.
Até para também reverenciar ao Dr Laudo Natel que lançou a autobiografia “Laudo Natel: Um Bandeirante”, editado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e escrito por Ricardo Viveiros. E um capitulo especialíssimo sobre a construção do Morumbi. Fiquei lisonjeado ao ter esse artigo a seguir ser usado como uma das fontes do livro e citado por esse dirigente que é ídolo nos meios diretivos do clube e do futebol como um todo.
Ótima leitura e garanta ótimas risadas com os amigos dos outros clubes, mostrando, além do seu amor, conhecimento sobre o MAIOR DO MUNDO!
“Se é para sonhar, que seja grande!”
Acredito que muitos gostariam de saber quando, como e de onde surgiu a idéia para construir o estádio do Morumbi. Pesquisei, liguei, mandei e-mails e o material está pronto! Talvez uma reunião inédita de informações sobre a construção do estádio do Cícero Pompeu de Toledo. Agradecimento especial ao Michael Serra, historiador do SPFC que confirmou, ajudou e desmentiu detalhes e datas importantes.
Após a sua re-fundação em 1935 o SPFC, que sempre pensou em ter seu estádio próprio, usava improvisadamente o Campo da Antarctica Paulista, na Moóca, quando da fusão com o Estudantes em 1938 comprova o desejo do clube desde então. E em 1942 ele se associou ao clube alemão que alugava o Canindé. Em 1944 ele comprou o Canindé. O sonho do grande estádio chegou a ser passado para o papel, num anteprojeto, mas foi atrapalhado pela Prefeitura: o traçado da Marginal Tietê cortaria o terreno do São Paulo e o anteprojeto teve que ser abandonado. E segundo a Revista Tricolor numero 3, em setembro de 1949 o clube volta a sonhar com um grande estádio. Desse momento em diante dirigentes e membros importantes começam a procurar por um terreno onde o clube poderia construir o tão desejado estádio.
Em meio as discussões sobre a construção do estádio, segundo apurações com quem conhece a história, um dos dirigentes da época proferiu uma frase que ficou marcada; “Se é para sonhar que seja grande!”.
O primeiro terreno que interessou aos dirigentes são-paulinos foi o do Ibirapuera, onde hoje está o parque do Ibirapuera. Mas o então vereador Jânio Quadros lutou para que o terreno não fosse vendido, muito menos que fizessem ali um estádio.
Depois foi verificado que havia um terreno à margem do rio Pinheiros que pertencia a Light (antiga empresa de fornecimento de energia elétrica da capital de SP e parte do interior). Ao verificar a metragem do terreno, constatou-se que ele seria pequeno para o projeto desejado pelo clube.
Mais precisamente em abril de 52 que o clube organizou e criou a Comissão Pró-estádio. Com isso acontecia uma divisão administrativa do SPFC, uma que cuidaria do clube e outro da obra do estádio. Como presidente dessa comissão o ex-jogador e agora dirigente, Cícero Pompeu de Toledo. Em agosto de 52 a Imobiliária Aricanduva doa ao SPFC parte do terreno para a construção do estádio. Transação lícita e registrada em cartório.
(nota: Como a região do Morumbi era inabitada naquela época, era de total interesse da Imobiliária Aricanduva doar o terreno para um clube de futebol com a condição da compra da outra parte aonde ficaria a área social do clube, além da intenção desenvolver a região, valorizando seus terrenos próximos)
No final de 1952 três empreiteiras apresentaram seus projetos para a construção do estádio. Duas brasileiras e uma soviética. O Clube acerta com a Vilanova Artigas e apresenta a maquete do Estádio para o público e imprensa na sua sede social de gala na Av. Ipiranga. A maquete foi confeccionada pela empresa Maquette Zanini Ltda.
Consta ainda que o projeto original contava com estádio de futebol para 120 mil pessoas e com quatro anéis, e não três. Teríamos um ginásio ao “estilo Morumbizinho” com o objetivo de receber a prática de vários esportes; basquete, vôlei, hóquei e ciclismo. O ginásio teria a capacidade para 20 mil pessoas. A praça de atletismo e parque aquático com três piscinas, sendo uma olímpica, os dois espaços com arquibancadas para 5 mil pessoas; diversas quadras poliesportivas e sede social. Esse foi o projeto inicial.
No ano seguinte, 1953 o clube acerta com a Companhia Antártica Paulista um contrato de concessão de direitos exclusivos para a venda de produtos dentro do estádio com a Companhia Antárctica Paulista. O valor acertador girava na casa de Cr$ 5.000.000,00, para uso por 10 anos, a partir da inauguração, com possibilidade de prorrogação por mais 5 anos. O clube inicia também as negociações para a propaganda no estádio e a venda de souvenires para ajudar na construção. Nos mesmo período o SPFC recebeu inúmeras doações de sacos de cimento, além de doações em dinheiro de populares/torcedores. (nota: Eu particularmente tive conhecimento de que dois irmãos são-paulinos, moradores do Ipiranga levaram até o Morumbi, cada um em sua bicicleta, 2 sacos de cimento. História contada por uma das netas de um dos irmãos).
Em julho do mesmo ano inicia, e em dezembro termina a terraplanagem do terreno.
No ano de 1953 iniciam o estaqueamento e a construção das fundações do estádio com 144 tubulões pneumáticos. Cada um com capacidade de suportar uma carga para 700 toneladas e cerca de 3000 metros de estacas pré-moldadas de concreto armado, com suporte variável de 20 a 30 toneladas cada. Finalizada também a galeria de águas pluviais.
Em 1954 a Villanova acerta a transferência dos direitos de seu projeto ao SPFC, que, livre, procede algumas alterações, como a substituição das rampas à arquibancadas por bocas de acesso, fato que aumentou em 30% a capacidade do estádio.
No mesmo ano o São Paulo rompe o contrato e firma nova parceria agora com a Rádio Bandeirantes S/A para a venda das cativas do estádio. O produtor de rádio e TV, Oswaldo Molles é nomeado para ser o chefe da campanha publicitária.
Em fevereiro de 54 aconteceu um amistoso entre o Botafogo-RJ x SPFC. Na ocasião dizem que o então presidente da Comissão Pró-estádio, Cícero Pompeu de Toledo conversa com o presidente Getúlio Vargas para um empréstimo da Caixa Econômica Federal ao clube para ajudar no termino da construção do estádio no valor de Cr$ 35.000.000,00 (dinheiro da época era o Cruzeiro). O então presidente do Brasil recebe posteriormente Cícero Pompeu de Toledo no Palácio do Catete e inicia o processo para o empréstimo. Mas o valor solicitado e anunciado nunca chegou as mãos do SPFC. (nota: Esse fato nunca foi de fato comprovado).
Em abril de 1955 o SPFC vende para o Sr Wadih Saddi, conselheiro do clube, o Complexo Esportivo do Canindé pelo valor aproximado de Cr$ 12.000.000,00 com o objetivo de sanar as dívidas do clube. Parte do valor da venda foi direcionada para a construção do Morumbi. Portanto o SPFC continua no Canindé até 1957 quando o terreno e suas instalações foram revendidos à Portuguesa.
Em outubro o SPFC fecha contrato para a segunda fase das obras estruturais de 6 vãos de gigantes (espaços entre os tubulões de sustentação do estádio, mais 3 lances de cativas, vestiários, departamento médico, concentração, portões monumentais e bilheterias. Essa obras só foram iniciadas em 1956. E foi no final de janeiro de 56 que o Conselho Deliberativo escolheu o nome oficial do Estádio do Morumbi: Estádio Cícero Pompeu de Toledo. Outros 2 nomes foram discutidos para o estádio: Nove de Julho e dos Bandeirantes.
Em agosto do mesmo ano o clube inaugura o gramado, plantado com grama tipo Batatais sob orientação do Instituto Agronômico de Campinas. O gramado foi demarcado com as medidas FIFA por Vicente Feola. Festa e churrasco oferecidos à imprensa. No mesmo dia as primeiras traves redondas do Brasil também foram instaladas no campo do estádio.
Em setembro de 1957 finalizam o trabalho de fundações pneumáticas, ao custo aproximado de Cr$ 20.000.000,00.
No último dia do ano de 1957 o SPFC deixa o Canindé e a Portuguesa toma posse definitivamente.
Em março de 58 Cícero Pompeu de Toledo é condecorado pelo Conselho Deliberativo como Presidente de Honra do São Paulo Futebol Clube. Em abril de 58 Laudo Natel torna-se Presidente da Diretoria Executiva do SPFC e da nova Comissão Pró-Estádio
A Imobiliária Aricanduva faz uma nova doação em 59, de outro terreno anexo ao terreno onde o estádio é construído. Esse novo terreno tem um valor aproximado de Cr$ 200.000,00. Transação registrada também em cartório.
Inauguração da Pista de Atletismo em abril de 60. A obra foi supervisionada por Dietrich Gerner. Devido ao tamanho do campo de futebol delimitado a pista não teve metragem oficial.
Os primeiros bancos das numeradas e cativas vinham com o nome dos proprietários gravados. A Indústria de Parafusos Mapri S/A deu 400 mil unidades de parafusos em troca de 2 cadeiras cativas e 1 painel publicitário no muro do estádio. O muro que foi construído no entorno do estádio teve de início 47 espaços destinado a painéis publicitários de 2,5m x 6m.
Uma inauguração parcial do estádio aconteceu em 02/10/60 na partida contra o Sporting Lisboa, de Portugal (1×0 para o São Paulo: 1º gol do novo estádio de Arnaldo Poffo Garcia, o Peixinho). Na ocasião o estádio foi inaugurado com os seguintes setores: setor térreo completo, os trechos entre o G45 e o G3 (sentido horário) do anel intermediário e do superior. O estádio teve a benção do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelo Motta. O público do primeiro jogo foi de 56.448 pessoas.
Em outubro de 60 o SPFC realiza um novo jogo amistoso contra o Nacional de Montevidéu como segunda parte da festa de inauguração do estádio com jogo No jogo preliminar, o time de Veteranos do São Paulo x Seleção Paulista.
No final de outrubro de 1960 o título patrimonial do clube foi criado pelo Conselho Deliberativo com o custo de Cr$ 100.000,00, como forma de ajudar financeiramente ainda mais as obras do setor social.
Após um ano da inauguração parcial do estádio, o clube inaugurou o busto de Cícero Pompeu de Toledo.
Em março de 61 iniciam as obras do parque aquático do clube. Três meses depois iniciam-se a construção das torres de 43 metros de altura para a instalação da iluminação do estádio. As cabines primárias de transformação de 13.200 volts para 220 volts com transformadores de 150 Kva nas torres de iluminação e demais instalações elétricas.
Em setembro de 1961, os torcedores ganharam uma linha exclusiva para chegar ao estádio com a inauguração da linha de ônibus Largo de Pinheiros-Morumbi Estádio.
A Seleção Brasileira estréia no Morumbi disputando a Taça Oswaldo Cruz, Brasil 4 x 0 Paraguai.
No ano seguinte, em setembro de 1962 a inauguração do Parque Social com entrega das piscinas e vestiários. Nessa festa o então presidente Laudo Natel foi jogado em uma das piscinas recém inauguradas. Com isso, a sede oficial do clube passa a ser o Estádio Cícero Pompeu de Toledo.
Em junho de 64 realizou-se a inauguração do busto de Laudo Natel nas dependências do estádio.
No final de 64 o SPFC faz um acordo para a compra do terreno (última parte e bem mais valorizada) junto a Imobiliária Aricanduva que se seria efetuada em março de 1965. Igualmente registrado em cartório.
Em abril do mesmo ano foi definido o contrato de construção das arquibancadas.
O Primeiro jogo noturno do Morumbi aconteceu no dia 22/02/68, com seu sistema de iluminação provisório. O jogo foi um amistoso entre São Paulo 3 x 3 Atlético Paranaense.
Em 68 o clube faz o lançamento do carnê promocional “A Grande Jogada é Construir o Paulistão”. Paulistão era um apelido pretendido para o Estádio Cícero Pompeu de Toledo. Foram vendidas 700.000 unidades do carnê. Um sucesso! Eram 6 séries distintas de mais 100.000 unidades cada vendidos a Cr$ 5,00. Desse montante somente 60 mil foram devolvidos.
Início da fase final de construção do estádio aconteceu em abril de 69 com prazo de entrega da obra era outubro de 1969.
O primeiro campeão no estádio foi o Santos quando se sagrou campeão paulista em 21/06/69.
Em 25/01/70 o clube realiza a inauguração definitiva do estádio numa partida que terminou empatada por 1×1 entre o SPFC contra o Porto, de Portugal. O público total do jogo foi de 107.069. Mas o público pagante foi de 59.924, ou seja, 47.145 pessoas eram de convidados.
Essa foi a grande, épica, curiosa e verdadeira história da construção do Morumbi!
Ricci Jr. é paulista, músico e produtor musical, jornalista, sócio/diretor da Uehbe Digital Marketing, frequentador de estádios desde 84. Criou em 2011 a web rádio São Paulo Digital credenciada ACEESP e transmite todos os jogos ao vivo nos estádios. Escreve nesse espaço todas as terças-feiras.
ATENÇÃO: O conteúdo dessa coluna é de total responsabilidade de seu autor, sendo que as opiniões expressadas não representam necessariamente a posição da SPNet ou de sua equipe de colaboradores.
Deixem a prefeitura pegar o terreno de volta, mas que não arranhe o estádio