Ninguém duvida que Ricardo Gomes é homem de ética ímpar. Além disso, desde os tempos de quarta zaga da seleção brasileira, Paris Saint-Germain, desfilou um futebol elegante e de fino trato. É pessoa diferenciada em relação ao que se acompanha de treinadores brasileiros, mas definitivamente não era o nome certo para dirigir o São Paulo. Não tem um currículo que apresente conquistas, não tem o perfil combativo de Edgardo Bauza e pode até agravar os seus problemas de saúde em um time que deve gerar o maior estresse emocional entre todas as equipes do Campeonato Brasileiro 2016.
Não foi humano do São Paulo trazer Ricardo Gomes para comandar o clube (já passamos por isso com Telê e até Muricy). O treinador teve um acidente vascular cerebral (AVC) já no comando da equipe há seis anos atrás, e passou por outros dois problemas semelhantes no Vasco da Gama. No Botafogo era cautelosamente blindado até para dar entrevistas na imprensa, e trabalhou com um time de elenco claramente limitado, mas também que tinha consciência disso e não lhe oferecia maiores pressões por conquistas. De maneira totalmente diferente, apesar de altos investimentos, principalmente no ano passado, o São Paulo não obteve títulos e enfrenta pressão sensível.
Se apostam num trabalho em longo prazo de Ricardo Gomes, não há presidente que aguente essa pressão se o Tricolor não apresentar resultados positivos em tempo curto. Foi pelo menos ousado o plano de Leco de trazer um treinador que enfrenta tanta resistência e rejeição de uma torcida. Num ato de desespero, mesmo não sendo o ideal, alguns torcedores pediram até a manutenção de André Jardine. De fato, o treinador do Sub-20 do São Paulo apresentou ano passado resultados expressivos no Campeonato Brasileiro Sub-20, Copa do Brasil Sub-20 e Libertadores-Sub 20, deixando de ganhar apenas a Copa São Paulo de Futebol Júnior, mas, mesmo ele, era uma aposta arriscada.
O que o São Paulo precisava nesse momento era de um técnico tarimbado, talvez até estrangeiro, por que não? Se conseguisse convencer um nome como Marcelo Bielsa a voltar a treinar equipes sulamericanas, teria a melhor das contratações. Se não tem dinheiro pra pagar salários pomposos, mas quer trabalho a longo prazo, radicalizando em relação ao estilo de Bauza (como faz agora), poderia apostar em Fernando Diniz. Tem um estilo parecido com o de Jardine e prima por um jogo de dois toques.
Sequência do Brasileirão
Pra ser bem honesto não espero outra coisa senão a vaga no G4 do Campeonato Brasileiro. Não dá pra ter a mínima ideia do que vai acontecer na Copa do Brasil, mas ao menos que o São Paulo possa brigar pela manutenção na Copa Libertadores. Não dá pra engolir até hoje a forma como deixou o torneio continental desse ano, sem poder lutar, com duas arbitragens desastrosas. O São Paulo depende da Libertadores mais que outras equipes, esteja como estiver, futebolisticamente falando.
Não acho que o time seja tão ruim como apontam alguns torcedores, com possibilidades de lutar “contra rebaixamento”. Também não acho que a critica especializada dá a exata dimensão do elenco, dizem ser “limitado”, o que não é. O São Paulo ainda tem jogadores de extrema categoria como Cueva, Maicon, Michel Bastos, Rodrigo Caio e Buffarini; e ainda jovens muito promissores como Kelvin, Lucas Fernandes, David Neres e Luiz Araújo. O elenco é muito bom e não deve nada a muitos dos times que estão na frente. O único elenco que desequilibra em relação aos demais é do Atlético Mineiro, favorito ao título.
O que o torcedor sãopaulino espera é o improvável: que Ricardo Gomes realize o melhor trabalho de sua vida, que o time encaixe e jogue o fino da bola com ataque envolvente e, principalmente, que volte a conquistar títulos seguidamente, pois o último deles grande foi a Copa Sulamericana de 2012. Para isso acontecer a diretoria radicalizou e mudou totalmente o perfil do treinador em relação ao anterior, como Aidar inclusive já tinha feito, na mudança Osório/Doriva. Resta ver se agora (por que funcionaria?) vai funcionar.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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