O sucesso da equipe de André Jardine, campeã da Copa do Brasil, Brasileiro e Libertadores Sub-20, se deve a precisão dos passes e velocidade em que as jogadas aconteciam. Um entrosamento que não acontece de um dia para o outro, que se consolida quando os meninos se conhecem por mais de uma década. Como isso é impossível no futebol profissional, dada a agilidade dos mercados internacionais chinês e europeu, no interesse em aquisição de jogadores nacionais, a alternativa é implantar um sistema de jogo desde o infantil que adapte todos os atletas, além de tentar manter a base do time com longos contratos.
Essa é a dinâmica que o São Paulo, como clube, vem implementando em longo prazo. Atualmente, no elenco profissional, o Tricolor tem 12 jovens da base em meio a 30 atletas, o equivalente a 40% da equipe. São eles o goleiro Léo; os laterias Auro e Matheus Reis; os zagueiros Rodrigo Caio, Breno, Lucão e Lyanco*; os volantes Artur e João Shmidt; o meia Lucas Fernandes; e os atacantes Luíz Araújo e Pedro Bortoluzzo. Provavelmente, assim que se recuperar da contusão, o ponta David Neres também deverá ser integrado. São esses jovens jogadores, que trabalham mais de 10 anos juntos desde a base é que proporcionarão esse entrosamento de dois toques na bola.
Mas o mínimo de passes não é o único fator a ser observado. A velocidade do futebol hoje requer que os passes sejam velozes. O jogador precisa ter uma leitura de jogo à frente da média para fazer a diferença no futebol mundial, e assim surgem os grandes craques. Para que o São Paulo possa identificar esse tipo de jogador, é essencial o trabalho dos olheiros e de quem identifica esses atletas com o talento bruto a ser lapidado. Se juntar o que de melhor encontrar com a eficiência tática e longevidade, logo terá um time vencedor formado em casa.
Qual tem sido o erro do futebol brasileiro? Desfaz dos seus atletas desde de jovem e não impõe um sistema de jogo em todas suas equipes. Qual tem sido o erro do São Paulo? No momento, só falta a longevidade. Está identificando os atletas com talento nato, implantou na base o mesmo sistema de jogo do profissional e passou a integrar a base no elenco principal. É preciso agora o aproveitamento, como Bauza vinha fazendo com magnitude e a longevidade desses atletas no clube, para formação de uma base sólida.
Missão de Ricardo Gomes
A missão de Ricardo Gomes para o futuro é seguir aproveitando os atletas advindos da categoria de base do São Paulo, que têm mais de 10 anos no clube. Esses atletas farão parte de uma base sólida para o profissional, e não pode o clube deles se desfazer prematuramente. Para isso o setor financeiro/administrativo do clube tem de ser parceiro, e também estabelecer planejamento. As vendas têm que se dar com atletas amadurecidos. Daqueles que o torcedor vai “chorar a saída”.
Temos um belo exemplo no estado de São Paulo. Os piadistas dizem que a água que os meninos bebem na Vila Belmiro é abençoada. Não é nada disso. O clube está implementando um sistema de jogo e dando longevidade àqueles que surgem. Faltam alguns pequenos ajustes para que o Santos comece a ganhar títulos importantes. A chance disso acontecer esse ano é grande, aparece como favorito ao Brasileirão. Como já foi com duplas Neymar/Ganso e Robinho/Diego; agora poderá ser com Lucas Lima/Gabriel e experiência de Ricardo Oliveira, um matador nato.
O São Paulo perdeu essa tradição da base em algum ponto no passado. O time comandado por Telê Santana funcionou assim: atletas do São Paulo que mantinham um entrosamento na base e alguns jovens vindos de clubes do interior para reforçar a equipe. Esse sistema pode ser aprimorado, mas, naquela época, o entendimento do Sr. Telê sobre o clube como um todo proporcionou isso. Quando a diretoria prometia trazer um medalhão, ele dizia: “Não precisa disso, vamos guardar dinheiro”. Impressionante, mas o São Paulo entrava em campo contra Barcelona e Milan, sabendo que iria ganhar, tal o grau de evolução que esse trabalho chegou.
Por algumas palavras do gerente de futebol Gustavo de Oliveira me parece que o São Paulo pretende retomar esse modelo em longo prazo. O que pode atrapalhar? Justamente a necessidade que o seu torcedor/consumidor tem de ser premiado com títulos o quanto antes. O último título importante do Tricolor foi a Copa Sulamericana de 2012, que parte da mídia considera um torneio secundário. Por outro lado, a expectativa é baixa para o restante da temporada, e isso pode ser um fator positivo. Embora Ricardo Gomes não seja o treinador dos sonhos do torcedor, pode ser que o clube dê essa guinada independente do comando técnico, desde que os setores estejam interligados sob estratégia.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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