O modelo pelo qual o São Paulo Futebol Clube foi gerido na última década tem tudo para deixar de existir no ano de 2017. Espera-se revolução no setor administrativo, financeiro e social para se retomar o rumo de clube mais vitorioso do futebol do Brasil. A sequencia de erros ocorridos principalmente nas duas últimas temporadas provocaram esse momento, em decorrência sobretudo de um aprendizado histórico de como acertar.
A presidência de Leco ficará marcada pela grandeza de mudança. Em sentido estrito o que fica de positivo em relação ao seu antecessor, Carlos Miguel Aidar, é a retomada da austeridade e melhoria das finanças, com a chegada de novos patrocinadores, crescimento do programa Sócio-Torcedor, ações de marketing, venda de jogadores-chave e toda uma engenharia para sanar o terrível momento financeiro vivido pelo Tricolor.
Mas o sentido amplo é que redunda em grandeza. Foi o presidente a dar o pontapé inicial a uma nova era, porque mostra até aqui amar o clube. Em dezembro ocorrerá a submissão do novo estatuto à assembleia tricolor e com ele a possibilidade do São Paulo ser gerido na base da competência, por conselheiros remunerados e das mais diversas áreas técnicas/científicas. De fato, terão condições de dar o seu suor em um modelo de planejamento eficiente.
Após o setor organizacional retomar o seu equilíbrio, poderá exercer influência no futebol. É inadmissível que um clube tenha seis ou sete treinadores em menos de dois anos: Osório, Milton Cruz, Doriva, Bauza, Jardine e Ricardo Gomes, foram alguns dos que passaram pelo clube e possuem características totalmente diferentes. Ricardo Gomes e Bauza valorizam posse de bola; Milton Cruz e Doriva são pragmáticos; Osório e Jardine jogam ofensivamente, e o clube ficou sem nenhuma linha de trabalho para seguir.
Novo futebol
O primeiro fato revolucionário para 2017 é a contratação de Rogério Ceni. Num primeiro olhar, improvável de dar certo. Não tem experiências anteriores como treinador, auxiliar técnico ou mesmo professor de educação física. Está fora da linha da curva em relação a tudo que se pratica em nível de futebol brasileiro. Se questionarem o sãopaulino Muricy Ramalho, por exemplo, sobre o que ele acha disso, diria que é contra. Ele sempre defendeu a rodagem no futebol e foi um dos principais críticos quando da escolha de Dunga na Seleção Brasileira. Em tese, não se faz um bom treinador por mera identificação com clube ou seleção.
Rogério Ceni pode ser a exceção. Acredito piamente nisso devido os seguintes fatores: tem um nível de inteligência acima do que se observa nesses profissionais, tem o respeito dos jogadores desde quando era atleta e defende dois dos modelos de futebol mais admirados por esse colunista. Já que os atuais diretores “jogaram para torcida” com a contratação do ídolo, o mínimo que devem a ele é tempo para trabalhar. Defendo que se cumpra um contrato de dois anos, independente da prática.
A escassez de títulos do São Paulo é inimiga de Rogério Ceni. Um dos modelos de futebol que o ex-goleiro defende e que me encanta é a coletividade ampla. Algo semelhante ao que foi implementado por Roger Machado no Grêmio, e que foi brilhantemente transformado em futebol competitivo por Telê Santana, Josep Guardiola e Fernando Diniz. Transformar esse jogo bonito coletivo em competitivo é tarefa para poucos, ou quase ninguém. Rogério Ceni é capaz de fazer isso, mas não haverá paciência da direção, no meu entender.
O caminho mais curto para que Rogério Ceni dê certo no São Paulo é o outro modelo de futebol que gosta: o futebol/total. Aqui não importa a coletividade, mas sim a intensa movimentação. É justamente o perfil dos técnicos que visitou durante o seu aprendizado, quais sejam Juan Carlos Osório, Jorge Sampaoli e Jurgen Klopp. É o chamado futebol moderno, compacto, de marcação em bloco e aproximação das linhas. Esse padrão favorece sistemas como 3-5-2, 3-4-3, o que se especula possa ser implementado no Tricolor.
Por outro lado, o gerente de futebol precisará acompanhar o raciocínio de Rogério Ceni. É inadmissível que o São Paulo contrate jogadores como Jean Carlos, Robson, Douglas, Daniel, Ytalo, Gilberto, William Bigode, Rafael Marques, quando se sabe que não terão a mínima condição de somar. É perda de tempo e dinheiro. Ceni precisa de material humano de qualidade e me parece ser grande o esforço da atual direção nesse sentido. É preciso incorporar aos bons jogadores já presentes no elenco para se ter sucesso.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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Sem dúvida o sucesso de Rogério Ceni no comando do time vai passar por uma estratégia que envolva diretoria e comissão técnica no quesito contratação. Trazer as peças certas é 70% do trabalho, não adianta trazer jogador com nome, porém que não se enquadre em um sistema tático e principalmente na filosofia e conduta. O SPFC precisa de jogador com vontade de ser campeão, jogador que venha para dar o sangue em campo e que queira fazer história. Para este processo o primeiro passo é se livrar das “tranqueiras” que temos no elenco.
O trabalho do Ceni começar cedo é muito importante, agora precisa a diretoria dar respaldo.
Com certeza!