Febre Tricolor – São Paulo caminha bem

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Leco deposita seu voto favorável ao estatuto -Foto: Rubens Chiri / Site Oficial

Não temos notícias sobre reforços de peso, entrada de grandes investimentos e nem elogios à infraestrutura do clube, como de praxe. Mas as mudanças organizacionais indicam que o São Paulo terá uma Temporada 2017 diferente, provavelmente com algum título ou reequilíbrio enquanto instituição. O que indica isso é o bom trabalho do técnico Rogério Ceni, que já começou; além da aprovação do Novo Estatuto do clube pela assembleia geral de associados, por 84% dos votos.

Em colunas anteriores trouxemos detalhes sobre o novo Estatuto Social do São Paulo Futebol Clube. Sobretudo foi ampliada a participação de sócios nas principais decisões, mas o que coloca o clube na vanguarda é a criação do conselho de administração. Não é apenas órgão consultivo, mas deliberativo. A possibilidade de remuneração dos profissionais que vão compor o conselho permite um contributo técnico/científico na tomada de decisões, com escolhas capacitadas para cada setor.

Ao presidente um número reduzido de competências, e necessário para acabar com um poder central que redundou no coronelismo em várias equipes brasileiras. A questão ética foi valorada. Várias cabeças pensantes e remuneradas reduzem drasticamente as possibilidades de propina, comissões de jogadores e outros subterfúgios que poderiam prejudicar as relações clubísticas; trazem ainda profissionalização à gestão, pois ninguém mais terá que fazer voluntariado pelo São Paulo.

Treinador

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Treinador não repetirá treinos diariamente. Foto - Igor Amorim
Treinador não repetirá treinos diariamente. Foto – Igor Amorim

Antes mesmo de ser apresentado oficialmente, o novo técnico Rogério Mücke Ceni já demonstra ser diferenciado. Seu primeiro ato foi acompanhar a final do Campeonato Paulista Sub-20, disputada entre São Paulo e Capivariano. Esteve ao lado do seu novo auxiliar técnico, o inglês Michael Beale (ex-treinador do Liverpool U23), do francês Charles Hembert (responsável pela logística da Seleção Brasileira e que deve ser anunciado como auxiliar de Ceni) e do diretor de marketing do Tricolor, Vinícius Pinotti.

A exemplo do que já havia ocorrido com o treinador colombiano Juan Carlos Osório, o Tricolor terá um sistema de treinos diferenciado. Em cada dia da semana haverá treino específico, o que já ocorre há décadas na Europa e que pode trazer evolução tática ao futebol local em longo prazo. Essa será a função do inglês Michael Beale – a aplicação da imensa teoria que construiu em uma equipe profissional.

O ex-treinador de Chelsea e Liverpool U23 é autor de nove obras sobre treinamentos; entre elas: 100 treinamentos para desenvolver zagueiros, 140 treinos de finalização, como formar centroavante criativo, como criar chances de gol no futebol moderno e 80 exercícios práticos de situações de jogo. A função é essencial.

Os treinamentos brasileiros são meras repetições de fundamentos. É cuidada da parte física, mas também a repetição à exaustão de finalizações, cruzamentos, passe, entre outros. Uma visão diferente de treinamento aplicada ao futebol brasileiro pode nos auxiliar em evolução tática.

Até em jogos virtuais de futebol, como o Champioship Manager e Football Manager, há décadas, já se aplica o modelo europeu de treinos diferenciados a cada dia da semana. Antes da Copa 2014, parecia tudo ser visto como preconceito em nosso país.

Como contrapartida, os campeões mundiais Pintado e Lugano devem compor a comissão técnica. Conhecem como ninguém o vestiário de atletas, a linguagem dos boleiros, e poderão suavizar a parte teórica de Beale.

O que me agrada nos dois é o caráter. Pouca gente sabe, mas Diego Lugano já auxiliou a diretoria em circunstâncias inusitadas, como diretamente resolver pendências financeiras com o atacante Jonathan Calleri, quando estava no clube.

Reforços

História entre Calleri e São Paulo deve chegar ao fim. Foto: John Sibley Livepi (Reuters)
História entre Calleri e São Paulo deve chegar ao fim. Foto: John Sibley Livepi (Reuters)

As necessidades não são poucas no elenco do São Paulo, que poderão até ser contornadas com um excelente trabalho tático a ser desenvolvido pela comissão técnica. O porém é que a capacidade técnica pode decidir competições e auxiliar no crescimento da equipe como um todo. A principal deficiência do elenco do São Paulo me parece ser um centroavante. Alguém com capacidade de definir partidas e que não pode ser mais ou menos.

Nessa semana foram praticamente sepultadas as esperanças da torcida tricolor de contar com o retorno do atacante Jonathan Calleri. O diretor de futebol, Marco Aurélio Cunha, já havia definido a contratação como “improvável” e agora falou das dificuldades de “pagar em euros”. Mas o que frustrou as expectativas foi a declaração de Guille Calleri, pai do jogador. Disse que Jony permanecerá na Europa, e adotou o velho discurso padrão de que “um dia irá voltar”. Analiso a decisão como ruim para jogador e clube.

Não raros são os jogadores que saíram do São Paulo para os clubes de ponta da Europa, ainda mais aqueles com grande potencial. É uma prática entre atletas argentinos fazer carreira por times medianos europeus, o que na maioria das vezes não leva a lugar nenhum, ou pelo menos representa um desprezo de potencial. Geralmente o brasileiro pega o trampolin e já sai daqui para os clubes mundiais de ponta.

A história entre Calleri e São Paulo deverá se resumir aos seis meses desse ano. De modo nenhum isso poderá influenciar a aceitar jogadores de menor calibre. Tem que se visar outros atacantes de ponta que estão no futebol sulamericano e com idade produtiva, como exemplos Marco Rubém (Rosário Central), Carlos Sanchez (Monterrey) ou Borja (Atlético Nacional). O último foi uma descoberta da equipe colombiana, estratégia que poderia ser utilizada pelos olheiros tricolores.

Outra posição que me parece ser prioridade no São Paulo é a de segundo volante. Thiago Mendes amadureceu a ponto de ser titular do clube em qualquer cenário, mas precisa de um companheiro a altura. O fato de João Schmidt querer cadeira cativa na equipe titular pra renovar demonstra fragilidade. Necessitamos de volantes modernos, com produtividade de marcação e protagonismo no ataque, características que passam distantes de Felipe Mello. Armador pode ser necessário, mas é secundário. Entendo que essas são as carências que devemos pontuar.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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