A emotividade latina que nos é peculiar dificulta a compreensão racional de um cenário, especialmente quando o mesmo não nos é favorável. É um ambiente em que se cria um ranço difícil de ser contornado, agravado pela falta de paciência de uma torcida acostumada com positividades. Na ânsia de se entender o que passa assumimos um papel de gestor esportivo, treinador de futebol e questionamos especialistas, conduzidos pela máxima do senso comum. Emprestando frase dita pelo Dr. Enéas Carneiro, somos conduzidos “qual uma manada de búfalos à beira do precipício”.
Uma das formas de encarar de frente a situação e tentar estabelecer uma relação de causa e consequência é a análise dos números. O grupo político detentor do comando atual do São Paulo, encabeçado por Juvenal Juvêncio, saiu vitorioso da eleição do São Paulo no ano de 2002 com uma vitória apertada do ex-presidente Marcelo Portugal Gouvêa – que, na ocasião, venceu Paulo Amaral por apenas dois votos. Daquele período para cá o Tricolor atingiu patamares jamais alcançáveis por outros clubes brasileiros (terceiro título Mundial e tri-brasileiro), mas também figurou na zona de rebaixamento em algumas oportunidades.
A primeira vez em que o São Paulo figurou na zona de rebaixamento nesse período foi justamente quando conquistaria o mundo pela terceira vez: em 2005. Naquele ano ocupou a 18ª colocação, mas terminou a competição em 11º. Mais recentemente, em 2013, passou doze rodadas na zona de rebaixamento e trouxe Muricy Ramalho para encerrar em 9º. Indubitavelmente, as más campanhas e a falta de competitividade da equipe estão mais frequentes. Em 2016, mesmo entre os quatro melhores clubes da América, voltou a brigar contra o rebaixamento sob o comando de Ricardo Gomes.
Culpados
De extremamente exigentes com mínimas falhas, são-paulinos passaram a conviver com o sofrimento. A latinidade traçada no primeiro parágrafo pulsa nesse momento com pedidos reiterados pela saída do presidente Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco. Mas seria Leco o culpado por todos os problemas do São Paulo? Me parece que não. Nesse período que o São Paulo deixou de ser competitivo, brigar por títulos e, agora, fugir do rebaixamento, estiveram no comando além de Leco, outros presidentes como Carlos Miguel Aidar e o próprio Juvenal Juvêncio (idealizador de todo o grupo).
Não há como ter uma noção para quem não acompanha internamente um clube de futebol. Apenas se presume. Mesmo aquele jornalista que atua como setorista não sabe 10% do que se passa em uma equipe, nas palavras do ex-treinador Muricy Ramalho. O que se teve de noticia na gestão Juvenal foi algum destrato com questões orçamentárias; na administração Aidar, supostos indícios de comissões indevidas; e, na de Leco, ausência de transparência e falta de um planejamento adequado para o futebol (reforçado pela entrevista do ex-auxiliar Michael Beale, dada nessa semana).
Com todo respeito a Beale, devido ao fato de mal conviver com Leco, conforme expressou, não poderia ter a menor ideia do que se passava no clube como um todo e foi até irresponsável ao falar sobre coisas que não eram de sua competência. Chama a atenção, porém, as falhas detectadas pelo inglês dentro do que era de sua alçada. Fez elogios à gestão de futebol de Jacobsen e, em determinado momento, deixou escapar a dificuldade de Vinícius Pinotti lidando no setor.
Todos esses detalhes passam desapercebidos no momento de ira da torcida, que clama por resultados e pede a saída de Leco como única alternativa para o São Paulo voltar a vencer. Não é assim que funciona. Grupos opositores aproveitam esse oba-oba e se esbaldam com a massa insatisfeita, em prejuízo à instituição, advirto. Não é um fenômeno novo. Muito comum na política, inclusive.
Gerente de futebol
Retornando aos campos, Michael Beale nos ajudou a compreender como teremos uma equipe estável nos próximos anos. O clube precisa definir alguém do futebol como gerente do setor. Alguém que conheça da coisa e tenha carta branca do presidente e do Conselho de Administração. Não pode ser atrapalhado pela política do clube. O presidente tem que lhe definir um orçamento para trabalhar em vendas e compras de jogadores para formação de um plantel ao longo do ano. Tem que manter uma equipe base por vários anos seguidos.
O último grande nome do clube neste setor foi Marco Aurélio Cunha, com todas as prerrogativas citadas. Esse ano ouvimos boatos sobre Paulo Autuori e Muricy Ramalho. Contra os mesmos pesam o fato de não serem conselheiros do clube. Acreditem, isso pode ser determinante.
Você não pode dizer para uma comissão técnica que as vendas de Lyanco e David Neres vão dar estabilidade financeira e, num segundo semestre, mudar tudo e vender mais cinco jogadores. Isso é inaceitável. Esse foi o principal erro do planejamento de futebol do São Paulo. É evidente que precisa ser dada essa transparência, e que os setores de finanças e marketing estejam interligados. Nesse sentido, a campanha da SPNet pedindo à mudança na direção de futebol me parece razoável.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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Série B
Também já joguei a toalha LG. Negocio é reforçar o time pra B.