Fonte: UOL – Vitor Birner
Aidar e Muricy
Carlos Miguel Aidar, pouco depois de assumir a presidência do São Paulo, teve um bate-boca com Muricy no vestiário.
Não por isso, e nem por questões de competência do comandante, cogitou trocar o técnico.
O funcionário reprovou os nomes dos jogadores que o primeiro mandatário do clube pretendia contratar para o elenco.
E Aidar queria e quer tirar do caminho as pessoas mais próximas de Juvenal Juvêncio.
Me contaram, na época, que pensou em Tite.
Foi o mais citado por ele nos bate-papos com os conselheiros.
De acordo com informação do jornalista Osvaldo Pascoal, mandou um interlocutor sondar a possibilidade de o treinador assumir o cargo no fim do ano.
Tite, ciente que retornaria ao Parque São Jorge, cortou o assunto na raiz.
Sampaoli, quase inviável por questões econômicas e até do crescimento da própria carreira, foi citados pelo gestor.
Mas o time jogou melhor no returno do brasileirão, ficou com a vaga na Libertadores e nada foi mexido.
Ataíde Gil Guerreiro, consultado, preferiu dar sequência ao trabalho em vez de começar outro.
Aidar tem respeitado as decisões do vice-presidente de futebol.
Não chegou na Barra Funda
A pesada crise política do clube não entrou no CT da Barra Funda por causa do Ataíde.
O local tem outros problemas, aqueles antigos citados aqui no blog, que tornam o ambiente menos competitivo que o necessário, e que aumentam ou diminuem de acordo com o momento.
A chegada de Kaká, por exemplo, os minimizou.
E antes, a do próprio Muricy Ramalho.
O treinador tem o respeito dos funcionários mais antigos e influentes do CT da Barra Funda, conhece a política interna do local, sabe como reagir diante dos entraves criados lá e como administrá-los ou evitá-los
Por isso conseguiu impedir o rebaixamento do time no campeonato brasileiro.
Os treinadores antes dele, como Autuori e Ney Franco, foram engolidos pelo ambiente.
Não foi o trabalho tático superior ao dos concorrentes que fez de Muricy um vencedor.
Ele conhece o assunto, não é um ‘burro com sorte’ como Levir Culpi ironicamente se auto-intitulou ao contar no livro com este nome a própria história, e tem convicções sobre a forma de jogar.
Demorei para entender isso, pois discordo de muitas delas.
Eu e o Muricy Ramalho
Minhas críticas ao técnico, em especial no período do tricampeonato brasileiro, renderam 3 a 4 anos de recusa do boleiro em dar entrevistas para qualquer programa (direito dele, não tem obrigação, e eu respeito) do qual participei.
Há algum tempo passei a entender as virtudes de Muricy Ramalho..
De alguma forma sabe se impor, e os jogadores, apesar de demorarem um pouco, ‘compram’ o trabalho dele.
Basta reparar no desempenho do São Paulo no segundo semestre de todos as temporadas com sob a direção do técnico.
Melhor que antes
Leio nas redes sociais a avalanche de críticas a respeito do atual Muricy Ramalho.
Parece ter sido o novo eleito de parte da torcida como responsável pela derrota diante do Corinthians.
Uns dizem que a saúde o atrapalha, outros citam falam que ficou obsoleto, e há quem simplesmente reclame dele.
Discordo de todos.
Muricy, hoje, é um técnico melhor que no passado.
Tenta formar o time com mais variações táticas.
A natural preocupações com a sobrevivência não é o cerne de tudo.
A fraca atuação diante do Corinthians, no jogo que entrou para a história, não foi nenhuma novidade.
O amigo (a) leitor (a) não lembra de como o São Paulo, com time superior ao do Grêmio de Mano Menezes e Tuta, foi eliminado da Libertadores em 2007?
Ou da desclassificação diante do Cruzeiro, no Morumbi, quando, como na derrota de ontem, não chutou uma vez sequer em gol?
Ganhou o Brasileirão após fracassar contra os gremistas e não teve a chance após perder dos cruzeirenses, pois foi demitido por Juvenal Juvêncio, que o segurou depois de três perdas de Libertadores sob fortes protestos dos torcedores.
Aceitaram a superioridade
Tal qual expliquei no post do Majestoso de ontem, discordei do esquema tático e escolha dos titulares feitas por Muricy Ramalho.
Mas não coloco apenas na conta do técnico a fraca apresentação.
Ganso, por exemplo, jogou como muita gente defende (não faço parte deles), na meia, entre os volantes e atacantes, com enorme liberdade para se movimentar e criar.
E não fez nada.
Foi omisso, apático, como se disputasse apenas mais um jogo e não o primeiro clássico na Libertadores diante do maior rival do São Paulo.
Luis Fabiano, estabanado, perdido, irritado, não contribuiu.
Tinham que voltar e ajudar o meio de campo logo depois de verem que o time perdera a disputa no setor.
Tanto faz quais são suas posições de origem e maiores virtudes.
É preciso recuperar a bola para fazer algo com ela e, o meia, tem que se mexer para achar espaços onde pode fazer o grande talento se transformar em algo útil para o time.
Palavra de Cassio
Os jogadores mais experientes, quando notam que algo não funciona em campo, têm obrigação de falar com o técnico para o treinador alterar a proposta.
Dependendo do momento, precisam, por dificuldade de comunicação com o técnico, tomar decisões, entre eles, durante os 90 minutos.
Não podem simplesmente ficar olhando enquanto esperam os ventos soprarem a seu favor.
Participei, ontem, do Fox Sports Radio e o goleiro Cassio foi entrevistado.
Ele confirmou que os jogadores corintianos, quando notam que algo não caminha a contento durante o jogo, conversam com o técnico, ele os escuta e faz os ajustes.
No São Paulo, a impressão é que os ‘com moral’ jogam para si mesmos.
Dividir a responsabilidade
O Ganso quer a bola para criar. O Luis Fabiano para finalizar.
Parecem crer que nada além disso lhes compete. Que vão lá para fazer o deles e não para fazer o time campeão.
O futebol de hoje exige mais do jogador.
Passou a hora de dividirem as responsabilidades nos sucessos e nos fracassos.
É essa coesão coletiva que permitirá ao time superar momentos difíceis.
Rogério Ceni, por jogar no gol, não tem como liderá-los em diversos momentos.
Nos tempos em que o São Paulo conquistava título, teve parceiros para tal como Lugano, Junior, Danilo …
Não irei, como muitos querem, colocar Muricy na cruz.
Os acertos táticos e de formação certamente tornam o time muito mais forte, ele falhou em ambos no clássico, mas para ser cascudo e campeão o São Paulo precisa mais que posicionamento preciso e técnica.
O futebol, além dos duelos tático, técnico e físico, tem o psicológico, o mental, e, em regra, quando um time perde o embate emocional fica mais fraco nos demais.
Se é derrotado, por exemplo, no tático, muitas vezes consegue o resultado interessante porque o desejo de vencer transformado em concentração e intensidade na disputa de cada lance ajudam a tapar as lacunas.
Principalmente nos confrontos equilibrados em técnica individual e preparação física.
A direção precisa cobrar dos jogadores mais capazes o auxílio que o técnico, seja Muricy, João ou José, precisa para formar um time campeão.
E exigir do treinador, após ter o apoio funcional dos deles, o padrão correto de jogo.
E mais
O São Paulo deve arrumar o jeito de acabar com essa história de o sujeito jogar ou ter privilégios para recuperar a posição porque possui mais nome.
Esses foram reconhecidos, na maioria das vezes, na hora de acertaram o salário.
Quando alguém recebe tratamento especial, como os companheiros correndo por ele, passa a ter obrigação maior de resolver os jogos, pois o esforço alheio inútil e contínuo faz o profissional que se incomoda com derrotas se sentir um imbecil.
Nem é preciso de muita perspicácia para imaginar o impacto disso no elenco.
Previsível
Tudo que citei poder alterado com atitudes diferentes dos jogadores. A parte de Muricy é pagar o preço de colocar em campo um time menos técnico, a direção apoiar, para o coletivo ser solidário e forte.
Reproduzo aqui a minha coluna do Lance!
Foi publicada 5 dias antes do clássico.
Não houve nada atípico no jogo.
O São Paulo vai ‘estrear’ contra o Corinthians?
Não há como afirmar quem vencerá o Majestoso, primeiro após 55 edições de Libertadores, da próxima quarta-feira. Na parte técnica, a da qualidade individual, os times se equivalem.
O futebol não é apenas um duelo de habilidades motoras de trato da bola. Questões táticas, físicas e psicológicas pesam em grandes confrontos.
Se o Corinthians repetir a regularidade e a pegada mostrada diante de Once Caldas e Palmeiras, quando teve um pouco de dificuldade apenas na marcação de cruzamentos e pelos lados do campo, algo normal no atual estágio de preparação, e o São Paulo mantiver o comportamento dos compromissos no torneio estadual, o Alvinegro irá comemorar os três importantes pontos.
Nas vitórias contra os pequenos e no empate do meio de semana na Vila Belmiro, oscilou muito durante os 90 minutos, deu espaços além dos normais entre as linhas de meio e defesa, criou pouco em grande períodos desses jogos, e alguns de seus atletas no gramado pareceram contrariados, como se fossem obrigados a cumprir um protocolo dos mais chatos.
Eis a questão: o Alvinegro, nessas duas semanas, foi guerreiro, solidário, privilegiou a parte coletiva e ninguém ganhou a titularidade por causa do nome ou do currículo na equipe, e o São Paulo foi mole por causa de alguns boleiros, não todos, que não entraram em campo com a tal da fome de ganhar.
A confiança dos torcedores corintianos e a preocupação dos vice-campeões brasileiros com o duelo que entrará na história e terá enorme impacto dentro e fora de ambos os clubes reflete o começo de temporada.
O clássico mostrará se a enorme diferença de respeito pela camisa foi consequência da importância dos jogos que disputaram ou da falta comprometimento de alguns comandados de Muricy.
Perder ou ganhar é do futebol. Faz parte, desde que todos se entreguem de corpo e alma enquanto milhões dão a audiência que lhes rende altos salários.