Muricy não tem como resolver os problemas do time enquanto houver jogadores omissos

114

Fonte: UOL – Vitor Birner

Aidar e Muricy

Carlos Miguel Aidar, pouco depois de assumir a presidência do São Paulo, teve um bate-boca com Muricy no vestiário.

Não por isso, e nem por questões de competência do comandante, cogitou trocar o técnico.

Publicidade

O funcionário reprovou os nomes dos jogadores que o primeiro mandatário do clube pretendia contratar para o elenco.

E Aidar queria e quer tirar do caminho as pessoas mais próximas de Juvenal Juvêncio.

Me contaram, na época, que pensou em Tite.

Foi o mais citado por ele nos bate-papos com os conselheiros.

De acordo com informação do jornalista Osvaldo Pascoal, mandou um interlocutor sondar a possibilidade de o treinador assumir o cargo no fim do ano.

Tite, ciente que retornaria ao Parque São Jorge, cortou o assunto na raiz.

Sampaoli, quase inviável por questões econômicas e até do crescimento da própria carreira, foi citados pelo gestor.

Mas o time jogou melhor no returno do brasileirão, ficou com a vaga na Libertadores e nada foi mexido.

Ataíde Gil Guerreiro, consultado, preferiu dar sequência ao trabalho em vez de começar outro.

Aidar tem respeitado as decisões do vice-presidente de futebol.

Não chegou na Barra Funda

A pesada crise política do clube não entrou no CT da Barra Funda por causa do Ataíde.

O local tem outros problemas, aqueles antigos citados aqui no blog, que tornam o ambiente menos competitivo que o necessário, e que aumentam ou diminuem de acordo com o momento.

A chegada de Kaká, por exemplo, os minimizou.

E antes, a do próprio Muricy Ramalho.

O treinador tem o respeito dos funcionários mais antigos e influentes do CT da Barra Funda, conhece a política interna do local, sabe como reagir diante dos entraves criados lá e como administrá-los ou evitá-los

Por isso conseguiu impedir o rebaixamento do time no campeonato brasileiro.

Os treinadores antes dele, como Autuori e Ney Franco, foram engolidos pelo ambiente.

Não foi o trabalho tático superior ao dos concorrentes que fez de Muricy um vencedor.

Ele conhece o assunto, não é um ‘burro com sorte’ como Levir Culpi ironicamente se auto-intitulou ao contar no livro com este nome a própria história, e tem convicções sobre a forma de jogar.

Demorei para entender isso, pois discordo de muitas delas.

Eu e o Muricy Ramalho

Minhas críticas ao técnico, em especial no período do tricampeonato brasileiro, renderam 3 a 4 anos de recusa do boleiro em dar entrevistas para qualquer programa (direito dele, não tem obrigação, e eu respeito) do qual participei.

Há algum tempo passei a entender as virtudes de Muricy Ramalho..

De alguma forma sabe se impor, e os jogadores, apesar de demorarem um pouco, ‘compram’ o trabalho dele.

Basta reparar no desempenho do São Paulo no segundo semestre de todos as temporadas com sob a direção do técnico.

Melhor que antes

Leio nas redes sociais a avalanche de críticas a respeito do atual Muricy Ramalho.

Parece ter sido o novo eleito de parte da torcida como responsável pela derrota diante do Corinthians.

Uns dizem que a saúde o atrapalha, outros citam falam que ficou obsoleto, e há quem simplesmente reclame dele.

Discordo de todos.

Muricy, hoje, é um técnico melhor que no passado.

Tenta formar o time com mais variações táticas.

A natural preocupações com a sobrevivência não é o cerne de tudo.

A fraca atuação diante do Corinthians, no jogo que entrou para a história, não foi nenhuma novidade.

O amigo (a) leitor (a) não lembra de como o São Paulo, com time superior ao do Grêmio de Mano Menezes e Tuta, foi eliminado da Libertadores em 2007?

Ou da desclassificação diante do Cruzeiro, no Morumbi, quando, como na derrota de ontem, não chutou uma vez sequer em gol?

Ganhou o Brasileirão após fracassar contra os gremistas e não teve a chance após perder dos cruzeirenses, pois foi demitido por Juvenal Juvêncio, que o segurou depois de três perdas de Libertadores sob fortes protestos dos torcedores.

Aceitaram a superioridade

Tal qual expliquei no post do Majestoso de ontem, discordei do esquema tático e escolha dos titulares feitas por Muricy Ramalho.

Mas não coloco apenas na conta do técnico a fraca apresentação.

Ganso, por exemplo, jogou como muita gente defende (não faço parte deles), na meia, entre os volantes e atacantes, com enorme liberdade para se movimentar e criar.

E não fez nada.

Foi omisso, apático, como se disputasse apenas mais um jogo e não o primeiro clássico na Libertadores diante do maior rival do São Paulo.

Luis Fabiano, estabanado, perdido, irritado, não contribuiu.

Tinham que voltar e ajudar o meio de campo logo depois de verem que o time perdera a disputa no setor.

Tanto faz quais são suas posições de origem e maiores virtudes.

É preciso recuperar a bola para fazer algo com ela e, o meia, tem que se mexer para achar espaços onde pode fazer o grande talento se transformar em algo útil para o time.

Palavra de Cassio

Os jogadores mais experientes, quando notam que algo não funciona em campo, têm obrigação de falar com o técnico para o treinador alterar a proposta.

Dependendo do momento, precisam, por dificuldade de comunicação com o técnico, tomar decisões, entre eles, durante os 90 minutos.

Não podem simplesmente ficar olhando enquanto esperam os ventos soprarem a seu favor.

Participei, ontem, do Fox Sports Radio e o goleiro Cassio foi entrevistado.

Ele confirmou que os jogadores corintianos, quando notam que algo não caminha a contento durante o jogo, conversam com o técnico, ele os escuta e faz os ajustes.

No São Paulo, a impressão é que os ‘com moral’ jogam para si mesmos.

Dividir a responsabilidade

O Ganso quer a bola para criar. O Luis Fabiano para finalizar.

Parecem crer que nada além disso lhes compete. Que vão lá para fazer o deles e não para fazer o time campeão.

O futebol de hoje exige mais do jogador.

Passou a hora de dividirem as responsabilidades nos sucessos e nos fracassos.

É essa coesão coletiva que permitirá ao time superar momentos difíceis.

Rogério Ceni, por jogar no gol, não tem como liderá-los em diversos momentos.

Nos tempos em que o São Paulo conquistava título, teve parceiros para tal como Lugano, Junior, Danilo …

Não irei, como muitos querem, colocar Muricy na cruz.

Os acertos táticos e de formação certamente tornam o time muito mais forte, ele falhou em ambos no clássico, mas para ser cascudo e campeão o São Paulo precisa mais que posicionamento preciso e técnica.

O futebol, além dos duelos tático, técnico e físico, tem o psicológico, o mental, e, em regra, quando um time perde o embate emocional fica mais fraco nos demais.

Se é derrotado, por exemplo, no tático, muitas vezes consegue o resultado interessante porque o desejo de vencer transformado em concentração e intensidade na disputa de cada lance ajudam a tapar as lacunas.

Principalmente nos confrontos equilibrados em técnica individual e preparação física.

A direção precisa cobrar dos jogadores mais capazes o auxílio que o técnico, seja Muricy, João ou José, precisa para formar um time campeão.

E exigir do treinador, após ter o apoio funcional dos deles, o padrão correto de jogo.

E mais

O São Paulo deve arrumar o jeito de acabar com essa história de o sujeito jogar ou ter privilégios para recuperar a posição porque possui mais nome.

Esses foram reconhecidos, na maioria das vezes, na hora de acertaram o salário.

Quando alguém recebe tratamento especial, como os companheiros correndo por ele, passa a ter obrigação maior de resolver os jogos, pois o esforço alheio inútil e contínuo faz o profissional que se incomoda com derrotas se sentir um imbecil.

Nem é preciso de muita perspicácia para imaginar o impacto disso no elenco.

Previsível

Tudo que citei poder alterado com atitudes diferentes dos jogadores. A parte de Muricy é pagar o preço de colocar em campo um time menos técnico, a direção apoiar, para o coletivo ser solidário e forte.

Reproduzo aqui a minha coluna do Lance!

Foi publicada 5 dias antes do clássico.

Não houve nada atípico no jogo.

O São Paulo vai ‘estrear’ contra o Corinthians?

Não há como afirmar quem vencerá o Majestoso, primeiro após 55 edições de Libertadores, da próxima quarta-feira. Na parte técnica, a da qualidade individual, os times se equivalem.

O futebol não é apenas um duelo de habilidades motoras de trato da bola. Questões táticas, físicas e psicológicas pesam em grandes confrontos.

Se o Corinthians repetir a regularidade e a pegada mostrada diante de Once Caldas e Palmeiras, quando teve um pouco de dificuldade apenas na marcação de cruzamentos e pelos lados do campo, algo normal no atual estágio de preparação, e o São Paulo mantiver o comportamento dos compromissos no torneio estadual, o Alvinegro irá comemorar os três importantes pontos.

Nas vitórias contra os pequenos e no empate do meio de semana na Vila Belmiro, oscilou muito durante os 90 minutos, deu espaços além dos normais entre as linhas de meio e defesa, criou pouco em grande períodos desses jogos, e alguns de seus atletas no gramado pareceram contrariados, como se fossem obrigados a cumprir um protocolo dos mais chatos.

Eis a questão: o Alvinegro, nessas duas semanas, foi guerreiro, solidário, privilegiou a parte coletiva e ninguém ganhou a titularidade por causa do nome ou do currículo na equipe, e o São Paulo foi mole por causa de alguns boleiros, não todos, que não entraram em campo com a tal da fome de ganhar.

A confiança dos torcedores corintianos e a preocupação dos vice-campeões brasileiros com o duelo que entrará na história e terá enorme impacto dentro e fora de ambos os clubes reflete o começo de temporada.

O clássico mostrará se a enorme diferença de respeito pela camisa foi consequência da importância dos jogos que disputaram ou da falta comprometimento de alguns comandados de Muricy.

Perder ou ganhar é do futebol. Faz parte, desde que todos se entreguem de corpo e alma enquanto milhões dão a audiência que lhes rende altos salários.