Esqueça os memoriais decorados e com recursos gráficos dos grandes clubes brasileiros. A diferença começa desde a entrada pela pequena porta na “Avenida 8 de Octubre”, em Montevidéu, até o interior da sala de troféus do Danubio. Campeão nacional da temporada 2013/2014, o clube que revelou Rubén Sosa, Zalayeta, Recoba e Cavani, entre outros, se denomina a “universidade do futebol uruguaio”.
Mas vive séria crise econômica. Resumida com bom humor pelo funcionário administrativo Fernando Diaz com a pequena “Margarita”, gata mascote que anda livremente pela sede do adversário do São Paulo nesta quarta-feira, às 22h, pela Taça Libertadores.
– Nós brincamos dizendo que a crise econômica do Danubio chegou a tal ponto que não temos um cão guardião, mas sim um gato guardião (risos). É como uma mascote. Ela apareceu um dia magra, comeu e ficou – explicou.
Margarita protege a sala da troféus do Danubio, em Montevidéu (Foto: Marcelo Hazan)A situação financeira do Danubio faz o clube ver a Libertadores com olhos bem diferentes dos times brasileiros, cujas reclamações pelas cotas de participação são recorrentes. Apenas figurar na fase de grupos dessa edição significou aproximadamente US$ 150 mil (R$ 468 mil) em patrocinadores, incluindo acordos com empresas brasileiras. Quatro delas, aliás, vão estampar suas marcas no uniforme da equipe no jogo desta quarta-feira, diante do Tricolor, no estádio Luis Franzini, do Defensor.
Esse montante arrecadado com os acordos na competição representa praticamente todo o gasto mensal do Danubio com o departamento de futebol profissional: US$ 180 mil (R$ 562 mil). O orçamento incluindo as despesas com as categorias de base, origem de toda a tradição do clube uruguaio, chegam a cerca de US$ 330 mil (aproximadamente R$ 1,03 milhão), segundo o funcionário. Para se ter uma ideia, o salário mensal de Alexandre Pato, dividido igualmente por São Paulo e Corinthians, é de R$ 800 mil
Sede do Danubio é modesta: clube vive complicada crise financeira (Foto: Marcelo Hazan)– É capaz que venham dirigentes do Corinthians e do São Paulo dizendo: “Queremos saber como vocês fazem” (risos). Sabemos que no mundo do futebol são valores mínimos, mas para nós é muito sacrificante gastar 330 mil dólares por mês, porque há um profissionalismo muito pobre por aqui. Para o nível local é parelho, mas precisamos fazer contratações com o objetivo de obter resultados e classificar para a Libertadores, onde mostramos nosso produto ao mundo – afirmou Diaz.
Justamente por isso, a Libertadores é uma espécie de mina de ouro para o Danubio. O time uruguaio tem pouquíssimas chances de classificação no Grupo 2, liderado por Corinthians (12 pontos), seguido de São Paulo e San Lorenzo com seis pontos cada. Mas não vai deixar de lutar.
Zerado na competição sul-americana e goleado pelos rivais paulistas por 4 a 0, o Danubio divide a liderança do “Clausura”, campeonato local, com o Peñarol, batido por 3 a 2 em jogo realizado no último sábado. O resultado dá confiança para encarar o Tricolor.
– Estamos em dívida com a torcida. O jogador uruguaio nunca vai jogar por jogar ou atuar para perder. Você entra em campo buscando o melhor. O resultado é outra coisa. Contra o São Paulo teremos a mesma seriedade de sempre. Não vamos entregar fácil para ninguém. Deixaremos o melhor, pois os jogadores sabem que a Libertadores é uma vitrine internacional e a participação é uma fonte de dinheiro muito importante para nós – finalizou.
Praticamente fora da Libertadores, o Danubio não deve ter um “caldeirão” diante do São Paulo. A expectativa é de aproximadamente cinco mil torcedores. Nada que vá diminuir o ímpeto da universidade do futebol uruguaio.
Fernando Diaz trabalha na administração do Danubio (Foto: Marcelo Hazan)
