GloboEsporte.com
Marcelo Hazan, Martin Fernandez e Tossiro Neto
Acusado pelo ex-vice de futebol de desviar dinheiro do clube, presidente renuncia
ao cargo, no qual será substituído interinamente por Carlos Augusto Barros e Silva.
Aidar, horas antes de oficializar a renúncia, em restaurante no Morumbi (Foto: Joanna de Assis)
Chegou ao fim o mandato de Carlos Miguel Aidar na presidência do São Paulo. Diante de graves acusações do ex-vice de futebol, Ataíde Gil Guerreiro, e em meio a uma crise política sem precedentes na história do clube, o qual voltou a presidir em 16 de abril de 2014, ele foi convencido de que deixar o cargo seria a melhor opção. Despediu-se dos funcionários por e-mail e entregou sua carta de renúncia nesta terça-feira, em reunião no escritório de Antônio Claudio Mariz de Oliveira, advogado e conselheiro do clube, na região da Avenida Paulista. Carlos Eduardo Barros e Silva, o Leco, presidente do Conselho Deliberativo, assume o cargo e tem 30 dias para convocar novas eleições.
– Agora o presidente é o Carlos Augusto Barros e Silva.
ACOMPANHE EM TEMPO REAL A COBERTURA DA CRISE NO TRICOLOR
Essa foi a única frase dita por Aidar ao deixar o prédio onde entregou a renúncia
A gota d’água foi uma gravação feita por Ataíde Gil Guerreiro, na qual Aidar supostamente confessa práticas de corrupção no comando do clube. O presidente do Conselho afirmou ter ouvido a gravação e classificou o conteúdo como “grave”.
No início da semana passada, Aidar e Guerreiro saíram no braço em um hotel da capital paulista. Demitido da vice-presidência de futebol um dia depois de ter acertado um soco no então chefe, o dirigente elaborou dossiê com uma série de acusações (das quais diz ter provas) contra Aidar. Entre elas, a de desvio de dinheiro em diversas negociações de jogadores.
A queda de Ataíde, na terça-feira da semana passada, resultou na saída de uma série de outros dirigentes e, consequentemente, no isolamento do presidente, que já via a oposição política articular movimentos em busca de seu impeachment havia algumas semanas.
A mais recente suspeita recaiu sobre a contratação de Iago Maidana, que está sendo analisada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva e poderá render sanção – o clube corre risco de ser proibido de registrar novos atletas por determinado período. Nem mesmo Juan Carlos Osorio confiava nele, como o próprio técnico colombiano admitiu publicamente antes de pedir demissão e assumir a seleção mexicana.
A renúncia de Aidar é o último capítulo de seu retorno ao clube depois de 24 anos distante. Presidente em dois mandatos na década de 1980, o dirigente voltou à política do São Paulo com apoio do antecessor Juvenal Juvêncio, no ano passado. Pouco depois de eleito, porém, rompeu relações com o antigo aliado ao tirá-lo do comando das categorias de base, e se tornou seu maior desafeto, causando um racha histórico.
Desde então, a cada movimento errado ou suspeita de irregularidade (como o polêmico contrato de comissão no acordo com a Under Armour, fornecedora de material esportivo), mais e mais conselheiros deixavam de apoiá-lo. Os membros da oposição, que Aidar dizia inicialmente “caber em uma Kombi”, aumentaram gradativamente.
Nos últimos dias, diferentes correntes dentro do clube passaram a se articular em busca de seu impeachment. O e-mail de Ataíde, ao qual a imprensa teve acesso, porém, acelerou o processo, e Aidar se convenceu de que deveria renunciar de forma espontânea em vez de enfrentar o desgaste de um arrastado processo político no Conselho.