Luiza Oliveira e Vanderlei Lima
Do UOL, em São Paulo
- Marcelo Cañete é apresentado no São Bernardo
Marcelo Cañete chegou ao São Paulo como uma das grandes promessas sul-americanas em 2011. Cinco anos depois, a realidade se mostrou bem diferente e mais dura. O jogador não conseguiu vingar no São Paulo, foi emprestado para quatro clubes e hoje joga no modesto São Bernardo-SP. A trajetória o faz se sentir ‘queimado’ no futebol brasileiro.
“Me sinto muito esquecido, queimado talvez. A palavra certa é ‘queimado’ no futebol brasileiro. (…) Eu digo queimado porque eu fui emprestado para vários clubes e sem muita competitividade, e eu não consegui responder com o meu futebol, entendeu? Todos os clubes que eu passei não eram da mesma grandeza que a do São Paulo, não era do mesmo nível, e eu não consegui mostrar o meu futebol e eu fui abaixando o nível, abaixando o nível, até aqui. Eu não posso falar nada, estou no São Bernardo, é um time pequeno, mas é o único clube que me valorizou e que me trata como atleta profissional”, disse, em entrevista ao UOL Esporte.
Cañete chegou ao São Paulo marcado por ter sido revelação do Boca Juniors e pela boa campanha na Libertadores com a Universidad Católica-CHI. Mas foi já no segundo jogo com a camisa tricolor, em outubro de 2011, que a vida começou a traçar caminhos tortuosos para ele. Poucos minutos depois de entrar em campo contra o Vasco, em São Januário, ele rompeu o ligamento do joelho direito e precisou passar por cirurgia. Foram onze meses de uma longa recuperação que custaram caro. Na luta para ganhar massa muscular e voltar a pegar ritmo de jogo, viu o clube contratar Paulo Henrique Ganso e Jadson. Aí minaram de vez suas chances de competir por uma vaga no meio de campo.
De 2013 a 2015, foi emprestado para Portuguesa, Náutico e São Bernardo. Ainda jogou no CRB antes de assinar definitivamente com o São Bernardo. Nessas idas e vindas, ao voltar do primeiro empréstimo com a Lusa, ele diz que conversou com o diretor do São Paulo, Gustavo Vieira de Oliveira, pedindo uma chance, que seria concedida.
“Aí eles me deram uma chance: ‘beleza então, nós vamos acreditar em você’. Então eu fiz uma pré-temporada muito boa, eu estava bem fisicamente, estava pegando ritmo na pré-temporada, jogos, treinos, amistosos e aí começou o Paulista de 2014. E a gente jogou contra o Bragantino, em Bragança. O jogo estava 2 a 0 para o Bragantino e no intervalo eu fui avisado que ia entrar. Eu entrei e fui bem pra caramba, eu dei duas assistências para gol, deixei cara a cara com o goleiro, e eu fiquei feliz pela atuação que eu tinha feito. Só o resultado que foi ao contrário, foi 2 a 0 para eles. Só que quando chegou no vestiário, aí os caras falaram: ‘Cañete, você tem que correr mais’. Aí você fica pensando: ‘Será que a situação é comigo? Será que os caras estão no meu pé?’. Então eu comecei a desacreditar em mim”.
O meia atacante conta que não abaixou a cabeça e pediu para treinar em dobro, mas acabou sendo separado do grupo profissional e encaminhado para treinar em Cotia com os meninos das categorias de base. “Depois disso, falaram: ‘você vai treinar o dobro?. Então vai treinar com o preparador físico’. E me afastaram. São coisas que não davam para entender, eu não conseguia entender. ”
O argentino não consegue esconder sua chateação com o clube porque acredita que o São Paulo não agiu bem por não lhe dar mais chances. “Não foram (legais) porque eu era o patrimônio do clube, eu pertencia 100% ao clube. Se eu fizesse um grande torneio porque eu tenho potencial, seria bom para o São Paulo, tanto para eles quanto para mim, mas não valorizaram o jogador, encostaram em Cotia. Mandaram treinar com os moleques e você já se sente fora, não me senti como atleta profissional, foram várias situações que você fica mal. ”
Panelinha dos brasileiros
Mas as dificuldades para um estrangeiro fazer sucesso no Brasil não são um caso específico de Cañete, ao menos na visão dele. Ele acredita que Centurión teria o mesmo destino e ficaria encostado se não fosse a chegada do técnico argentino Edgardo Bauza.
“Ele estaria encostado lá também, porque ele já estava perdendo a vaga, perdendo o espaço, ninguém dá uma moral para ele, é o mesmo que aconteceu comigo”, diz ele, que admite até um pé atrás com os brasileiros.
“Talvez a cultura brasileira seja diferente. Acolhe muito bem só que também, se você deixa a confiança rolar, a maioria dos caras abusa desta confiança. Então tem que ter um limite, manter uma certa distância, entendeu? Tem que saber lidar, então esta divisão eu percebi sim, mas não com todo mundo, com os próprios jogadores, comissão técnica, com pessoas da diretoria, mas tem que saber separar as coisas. Mas infelizmente tem a indiferença e a trairagem, entendeu?.”
Apesar de todas as decepções, aos 25 anos, Cañete ainda alimenta o sonho de fazer sucesso no Brasil e conta com o apoio da esposa Micaela e das filhas Martina, de quatro anos, e Simona, de um ano. Para dar novo rumo à sua vida, ele rescindiu com o São Paulo no meio do ano passado e assinou com o São Bernardo, que disputa o Campeonato Paulista, até 2018. E mantém o otimismo de que ainda vai brilhar em terras tupiniquins.
“Eu acredito que isso vai acontecer, eu penso que sim, porque eu estou trabalhando para isso. Todo dia eu faço dois períodos com o personal, então eu estou me preparando para isso, para este momento chegar e eu fazer acontecer. Aqui eu estou tendo um começo muito bom e espero continuar assim para depois do Paulista acontecer uma coisa boa para ter um nível de competitividade muito grande. (…) Eu ainda tenho 25 anos e tenho que dar a volta por cima, não fico pensando no que passou, das coisas você aprende.”
Eis aí um empasse.
Por um lado, ñ há como negar a desvalorização do SPFC por seus atletas. Haja visto o atraso no pagamento de seus direitos.
Por outro lado, um jogador mediano, que teve a oportunidade de mostrar de mostrar seu futebol, ainda que pouca. e não o fez.
E assim caminha o SPFC, pra onde vai, ninguém sabe ainda.
Novidade? O que a gente mais viu foram jogadores medianos, bons, ótimos ou ruins sendo queimados no SP seja pelo técnico, pela diretoria, ou pela própria torcida. Se for fazer uma lista de jogadores que foram queimados no SP será um livro…
Foi assim com: Jadson, Fernandão, Falcão (do futsal), Arouca, Cícero Santos, Alex Dias, Washington, Casemiro, Henrique, Oscar, Cañete, Clemente Rodriguez. Todos esses e muito mais foram queimados. E em outros times esses caras voaram. É só ver os exemplos mais atuais e conhecidos de Jadson, Casemiro e Oscar.
Tenho um amigo gambá que uma vez me disse que se o Casemiro fosse jogador do curintha, ele seria rei.