Análise: em tarde de erros e estratégia “meio-certa”, ponto vira prêmio à coragem do São Paulo

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GloboEsporte.com

Alexandre Lozetti

De jogadores ao árbitro, decisões erradas colocam Tricolor em apuros diante do Flamengo, mas Tchê Tchê, materialização das ideias de Cuca, deixa placar mais justo no Morumbi.


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Sem o suspenso lateral-direito Igor Vinícius, Cuca escalou o São Paulo para enfrentar o Flamengo com Walce, zagueiro de 20 anos, estreante, versátil como gosta o técnico. Pode ser lateral e volante.

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O plano de jogo inicial era construir a partir de um 3-5-2, com Walce sendo terceiro zagueiro, ao lado de Bruno Alves e Anderson Martins, e dando liberdade para Reinaldo, e se defender no 4-4-2, com o novato fechando o lado direito de uma linha defensiva de quatro.

Com a bola, São Paulo começava a construir suas jogadas no 3-4-3 — Foto: GloboEsporte.com

Com a bola, São Paulo começava a construir suas jogadas no 3-4-3 — Foto: GloboEsporte.com

Sem a bola, São Paulo voltava ao 4-4-2, com Walce na lateral — Foto: GloboEsporte.com

Sem a bola, São Paulo voltava ao 4-4-2, com Walce na lateral — Foto: GloboEsporte.com

A entrevista coletiva após o empate por 1 a 1 foi aberta com uma pergunta a Cuca: “por que não deu certo?”. Ele discordou. Na verdade, pode-se dizer que a estratégia deu “meio-certo”. Em três minutos, o São Paulo entrou três vezes na área, pela esquerda, com Reinaldo em ultrapassagem, Pato regendo e Tchê Tchê se infiltrando para finalizar. Ofensivamente, o esboço de um massacre.

Só que o Flamengo tinha Diego. O experiente meia do Flamengo e seu movimento de sair de fora para dentro, do lado para o meio, atordoaram o sistema de marcação do São Paulo, desentrosado. Quando ele recebeu pela esquerda, Antony só observou à distância (erro um: o meia do Flamengo marcou o atacante do São Paulo com mais agressividade no segundo tempo); Diego carregou e encontrou Berrío, que, de costas, venceu Bruno Alves no corpo (erro dois). Anderson Martins tentou compensar e saiu para fechar o passe para Lincoln (erro três). Berrío achou Hugo Moura e recebeu livre para abrir o placar.

Em desvantagem, Cuca notou o desencaixe de sua marcação e colocou Hudson na lateral com Walce de volante. Logo perdeu Alexandre Pato, em lance que Thuler deveria ter sido expulso. Ricardo Marques Ribeiro, árbitro que adora aparecer, abençoou o VAR antes do jogo, mas não quis utilizá-lo. Culpa também de Emerson de Almeida Ferreira, que estava na cabine e não o chamou.

Central do Apito: Paulo César de Oliveira diz que Thuler deveria ter sido expulso após entrada em Pato

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Atrás no placar, sem seu melhor jogador e diante de um Flamengo reserva, mas muitíssimo bem postado e maduro no Morumbi, o São Paulo se viu em apuros, a ponto de Cuca nem esperar o intervalo para trocar Anderson Martins por Hernanes. E Walce, em sua primeira vez como profissional, terminou a etapa inicial na terceira posição diferente: a sua de origem, zagueiro.

Cuca acerta e erra, mas foi absolutamente digna de aplausos sua maneira de encarar o jogo. Desde a opção por um jovem e manter a leveza do meio-campo até as tentativas de retomada de rumo. Era muito mais fácil escalar Jucilei e ter Hudson novamente na lateral, mas o técnico está comprometido com a ideia de um time móvel, rápido, flexível.

Se essa ideia fosse traduzida num nome, ela se chamaria Tchê Tchê. Não à toa o volante foi quase uma exigência de Cuca em seu retorno ao Morumbi. Se o elenco não tem um centroavante de área – carência que precisa ser resolvida pela diretoria –, era o volante quem finalizava de frente para o goleiro logo no primeiro lance. Tchê Tchê arriscou também de fora e voltou á área para aproveitar rebote de César em cabeçada de Hernanes e fazer um merecido gol.

Tchê Tchê comemora gol do São Paulo — Foto: Paulo Pinto / saopaulofc.net

Tchê Tchê comemora gol do São Paulo — Foto: Paulo Pinto / saopaulofc.net

Merecido porque no segundo tempo o Flamengo abriu mão da sua conduta tão admirável. Caiu, fez cera, amarrou o jogo e teve no árbitro um cúmplice com marcações exageradas de falta. O São Paulo, mesmo longe do brilhantismo, teve ímpeto e coragem. Quis jogar e foi premiado.

Há muito o que corrigir de agora até o fim da Copa América, para a continuidade da temporada: fisicamente, o elenco é muito desequilibrado. E em peças também. Cuca tem muitas e boas opções para a fase de construção, mas poucas na zaga, nas laterais e também na proteção do meio-campo.

A quantidade de cruzamentos errados para a área pede evolução no fundamento e um centroavante para aproveitá-los; Liziero foi liberado da recomposição defensiva depois que Pato saiu, ficando mais à frente, talvez em razão de sua deficiência física. Não rendeu. Para isso era melhor ter Igor Gomes e sua natural transição pelos espaços livres.

De qualquer modo, dos milhares de elencos montados e remontados pelo São Paulo nos últimos anos, este é o que parece mais capaz de, nas mãos de Cuca, se aproximar do tamanho da ambição de sua torcida. Isso porque o técnico também é ambicioso. É um trabalho a se olhar com atenção.