GloboEsporte
Marcelo Hazan
Um ano após contratação, Tricolor não fechou parceiros para explorar imagem do meia.
Daniel Alves apertou o “F”, como ele mesmo diz, e aceitou voltar ao Brasil em agosto do ano passado para realizar o sonho de vestir a camisa do São Paulo. As dificuldades financeiras do clube, agravadas pela pandemia do novo coronavírus, no entanto, deixaram o camisa 10 sem receber os vencimentos conforme o combinado em contrato. Mas o meia afirmou não estar preocupado com isso.
– Sabendo tudo o que o clube tem de problemas nessa parte, apertei o “F” e falei: “Vou para o São Paulo, porque é meu sonho e vou realizar”. Então estou aqui – disse o jogador.
A engenharia financeira dos vencimentos de Daniel Alves inclui salários, direitos de imagem, bônus e luvas. Inicialmente, o São Paulo pagaria R$ 500 mil mensais na CLT, sem ajuda de parceiros, e depois, o restante, seria pago em parcelas semestrais, com a ajuda de parceiros.
Só que a crise e a falta de parceiros mesmo depois de um ano de contrato não permitiu que o Tricolor pagasse a primeira parcela semestral, vencida em abril deste ano.
– Quando decidi vir ao São Paulo, sabia dos problemas e que para poder chegar a um consenso teria que ter algum parceiro, se não iria gerar uma certa dificuldade para o clube. Normal, porque todos clubes padecem da mesma situação, não ia ser o São Paulo que seria diferente. Mesmo assim decidi vir realizar meu sonho, sabendo de todas as dificuldades – acrescentou Daniel Alves.
Se somados todos os valores entre salários, luvas, bônus e direitos de imagem do início ao fim do contrato (agosto de 2019 a dezembro de 2022), a média é de cerca de R$ 1,5 milhão por mês. O clube não considera esse valor como definitivo porque, caso consiga parceiros, o número cai.
Daniel Alves em treino do São Paulo — Foto: Divulgação/São Paulo
Crítica ao marketing do Tricolor
Maior vencedor de títulos, Daniel Alves completa um ano de São Paulo em branco
Caso não conseguisse os parceiros para pagar os salários de Daniel Alves, o São Paulo contava com a venda de produtos licenciados explorando a imagem do jogador. Além disso, havia a expectativa de um crescimento no número de sócios-torcedores com o “fator Dani”.
O que se viu nesse período, porém, foram poucas ativações de produtos com o nome e a imagem do jogador. As camisas, que sempre contaram com Daniel Alves como garoto propaganda, não tiveram o número de vendas divulgado.
Já o aumento dos sócios não foi o esperado – o clube citou um acréscimo de 7 mil associados depois da chegada do reforço, em agosto do ano passado, mas, com a pandemia, o plano foi prejudicado.
– Muito difícil falar de algo que foge das minhas mãos. Não controlo o marketing do São Paulo. Se controlasse, algumas tomadas de decisão seriam diferentes, porque tenho outra ideia do que faria no meu caso e no caso de um clube desse tamanho. Mas é aquilo: tem de controlar o que está nas suas mãos. E isso foge – disse Daniel Alves.
A crise nas contas
A dificuldade financeira do São Paulo se agravou na pandemia. Sem competições e treinos, o clube cortou 50% do salário de todos os jogadores, sem um acordo formal com os atletas.
Mesmo assim, houve relatos de atrasos nos pagamentos de junho e julho. A possibilidade cogitada de manter essa redução até o final do ano também teve rejeição.
Durante as negociações entre São Paulo e jogadores, Daniel Alves foi um dos articuladores da conversa. Como um dos mais experientes e líder do grupo, o atleta entendeu a situação vivida e, inclusive, aceitou receber uma das parcelas semestrais fora do prazo, que inicialmente era em abril.
– Não me apego a isso (dinheiro), e sim à parte humana, de muitas pessoas passando dificuldade. Dentro do próprio clube algumas pessoas tendo dificuldade de manter empregos, então é nessa parte que construo a minha relação, na parte humana. Não na parte de: “Ah, um estúpido que só pensa em dinheiro”. Não penso em dinheiro. Dinheiro para mim é um mal-bem necessário, porque traz muito mais coisas ruins do que coisas boas – disse.
– Por isso entendi em certos momentos algumas coisas do São Paulo, redução e problemas financeiros, e os problemas internos de relação clube-jogador-remuneração. Tudo isso é problema de bastidor. Isso não pode ser exposto, porque nós temos de nos respeitar – acrescentou.
– Enquanto eu formar parte, vestir esse escudo e defender essas cores eu vou ser homem pra caralho pra defender ela como se deve. Como eu entendo que se deve defender uma profissão e respeitando todos os profissionais que vêm aqui todos os dias trabalhar nessa loucura toda, mas sempre sorrindo pra ti, servindo com maior prazer. É por isso que faço as coisas, essas são as razões que me movem. O resto faz parte do show, e o show não tem só verdades, tem mentiras também. Mas cada um que compre o que quiser – finalizou.
A venda de Antony ao Ajax, da Holanda, amenizou um pouco a grave crise financeira do São Paulo. O clube recebeu cerca de R$ 60 milhões em julho.
Mas o clube precisa cortar gastos e, mesmo com o retorno das competições, negocia uma nova redução de 25% no salário dos atletas até o fim do ano.
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