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Thiago Fernandes
Formado em direito e especialista em publicidade e marketing, Julio Casares, de 59 anos, é candidato à presidência do São Paulo, cargo que deixará de ser ocupado por Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, em 2021. Prestes a deixar uma carreira de 30 anos para se dedicar exclusivamente ao mandato, que também é disputado por Roberto Natel, ele diz que o Tricolor paulista é o seu primeiro amor da vida. O pleito para definir o futuro mandatário tricolor ocorrerá na primeira quinzena do próximo mês. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Casares apontou o que pretende fazer em seu mandato e contou o início da relação de amor com o São Paulo.
“Embora seja um clube associativo, ele precisa ter princípios de empresa, com plano de metas, normas de compliance, comprometimento de resultados e profissionais remunerados que venham do mercado com notório saber. Isso tudo imprimindo uma gestão com foco, ambição, determinação no sentido de ter metas para cada unidade de negócio. O ritmo empresarial é desenhar o potencial da sua marca, não a marca histórica do que representa o São Paulo, mas o seu extrato geográfico de torcedores, onde ele está distribuído. É através do jogador e do torcedor que traremos as glórias para o São Paulo”, afirmou Julio Casares, que ainda explica o início da relação com o clube:
“Meu primeiro amor da vida foi torcer pelo São Paulo aos 6 anos. Eu descobri essa marca, camisa, nomes, cores… É o primeiro da vida de um garoto, foi um caso de amor à primeira vista. Eu morava na periferia de São Paulo com essas dificuldades todas e tinha o sonho de assistir jogos no Morumbi. Eu comecei a frequentar o Morumbi no início da década de 1970. Antes, tinha ido ver um jogo no Pacaembu, em 1967, quando o São Paulo quase foi campeão paulista contra o Corinthians. O Pacaembu lotado, gritando me deixou empolgado. Eu sempre trabalhei, desde os 14 anos de idade. Eu tinha um amor pelo São Paulo que, para mim, ir ao Morumbi era melhor que ir à praia. Se tinha a opção de ir ao Morumbi, qualquer passeio virava secundário”, acrescentou.
Na conversa com a equipe do UOL Esporte, que durou 41 minutos, Casares fala em recuperar a credibilidade do São Paulo no mercado, detalha o seu planejamento para o futebol no Morumbi, revela o que deseja fazer com a questão orçamentária e explica a antiga relação com o mandatário afastado, Carlos Miguel Aidar. Confira, abaixo, a entrevista do candidato à presidência do clube.
Como gerir o São Paulo, com R$ 500 milhões em receita O patrimônio histórico do Morumbi já está lá, patrimônio da nossa vida, assim como o CT da Barra Funda e o CFA Laudo Natel, da base. Tendo isso, você tem que imprimir uma filosofia profissional. Como fazer isso? Tendo pessoas com experiência na iniciativa privada, obter apoios importantes de empresários, abrir as portas para os grandes empresários brasileiros, que também são torcedores do São Paulo. O clube tem uma dívida muito grande, que precisa ser realinhada, mudando o seu perfil, negociando com cada credor, trabalhando e querendo desenvolver o trabalho para saber como a dívida foi composta. É chamar os credores e honrar os contratos, mas dentro das condições que permitam o São Paulo trabalhar com um time competitivo.
A gente precisa de responsabilidade financeira, austeridade financeira, plano de metas, comprometimento, normas de compliance, governança. Isso tudo é a experiência que adquirimos pela vida privada e por um plano de gestão elaborado por pessoas altamente técnicas. Embora o clube seja associativo, ele não conflita com uma gestão profissional empresarial e corporativa. Com essa sinergia, você traz mais força para a marca. Eu sempre dou exemplo da gestão do presidente José Eduardo Mesquita Pimenta, o grande vencedor dos títulos de Libertadores e Mundial. Ele venceu Conmebol, Recopa e outros mais. O presidente Pimenta conseguiu, em um clube associativo,imprimir uma gestão empresarial, ganhando títulos importantes. Com a pressão de um clube que não ganha há muito tempo, vamos atuar em várias áreas. O futebol da base é importante na revelação de jogadores, e o futebol profissional para ser competitivo e ganhar títulos, que é o que nós queremos.
É favorável ao clube-empresa? Esse é um tema que ainda não está totalmente pacificado em termos de legislação e práticas no Brasil. Somos um clube associativo desde 1930, um dos mais jovens clubes do Brasil. O modelo associativo não significa incompetência, o que significa incompetência é a gestão, o perfil da pessoa que vai gerir o clube, o perfil da sua diretoria. Qualquer proposta que tenha modernidade e traga mudanças no sistema do clube de futebol, como é o São Paulo. Nesse momento, temos como prioridade reorganizar o São Paulo. Nós precisamos realinhar a sua dívida, reorganizar internamente e readquirir credibilidade no mercado, nós podemos pensar em novos formatos.Mas nesse momento é completamente inapropriado. Temos que reorganizar o São Paulo, reconstruir o São Paulo e ver novos desafios. Nenhum formato ficará engavetado, tudo será discutido nos fóruns adequados, que são Conselho Deliberativo, Conselho Consultivo, Conselho de Administração e assim por diante.
Como avalia o candidato Roberto Natel? Desde o início da campanha, não menciono o nome do adversário, até em respeito ao adversário. A nossa conduta é diferente, tenho ética e transparência no exercício da nossa campanha. Eu prefiro não comentar, prefiro dizer que cada um é responsável pelo que mostra e pelo que faz, em respeito ao torcedor, ao conselheiro e ao sócio que lá vive. Essa campanha de fazer acusações, de acusar pessoas de forma leviana, elaborando fake news, realmente essa campanha está sendo um tiro no pé.
Estou ganhando adesões porque as pessoas querem ouvir propostas, ouvir questões acadêmicas e de vida de cada candidato. Uma canelada sentida ali ou acolá, a gente fica triste. O papel do candidato não é mencionar o oponente. Às vezes, eu sou mencionado quatro, cinco vezes em uma campanha só. Eu fico triste, mas ele que faça a campanha dele, eu o respeito.
A chapa branca está constituída, a chapa grafite também. Estamos apresentando ideias desde 25 de junho, quando fizemos uma live em coletiva de imprensa, aberta para todo mundo. Dali em diante, você não ouviu da minha boca qualquer nome de adversário. Com isso, estamos ganhando cada vez mais adesões dos sócios. Outro dia, recebi o apoio espontâneo e voluntário do maior empresário do Brasil, o Abílio Diniz. Eu recebo apoio também de pessoas simples nas ruas. Todos fazem parte do mesmo contexto. Essas pessoas têm esperança no programa, na experiência que apresentamos, na ‘são-paulinidade’.
Críticas de opositor por ter sido vice de Carlos Miguel Aidar
Entrei no São Paulo pelas mãos do Jayme Franco e do Fernando Casal de Rey. Desde então, passei pela gestão do Paulo Amaral, do José Augusto, do Pimenta, do Marcelo Portugal Gouvêa, do Juvenal, do Carlos Miguel, só da do Leco que não assumi. Diferentemente, o candidato adversário foi vice-presidente de todos os últimos que mencionamos. A minha passagem pela gestão do Carlos Miguel foi da mesma forma como a do meu adversário, ele representava uma esperança, tinha sido um grande ex-presidente, foi campeão, liderou o Clube dos 13. Nós acreditávamos nele, mas a campanha não foi exitosa.
Agora, o que eu coloco é que somamos vitórias, derrotas, fracassos, acertos e erros. Isso tudo serve para uma avaliação. Eu presenciei grandes momentos e momentos difíceis. Isso nos dá uma experiência muito grande. Meu compromisso, diferentemente do meu adversário, é não falar nada dele. É mais uma pergunta que ele levanta. Tudo o que falam da gente é algo requentado e político, que não pega. Algumas situações foram avaliadas internamente, inclusive pelo Conselho de Ética, e elas não foram nunca politizadas. O São Paulo tem desafios, questões em esferas policiais e na Justiça, que deverão ser objeto dessa mesma avaliação que nós passamos.
Eu tenho a tranquilidade de ter sido avaliado e saber que o assunto foi arquivado sem nenhuma menção contra nós. As pessoas têm que entender também que objetos recentes poderão ser objetos do próprio Conselho de Ética futuro. Eu não me preocupo com isso, eu me preocupo com as questões propositivas.
O que eu quero finalizar é que, com essa questão, depois do Aidar, eu passei por dois crivos, no Conselho de Administração, inclusive com voto do atual vice-presidente (Roberto Natel). Ele votou em mim para o Conselho de Administração e, depois, para vitalício com a maior votação do plenário. A gente fica chateado porque a pessoa que tem, com o espírito leviano, de tentar levantar as coisas, pode sofrer com isso em algum momento. Não de mim, porque eu respeito, até pela formação cidadã. Eu não faço ilação a nenhum nome e a nenhuma pessoa.
Como trabalhar o futebol? O futebol é a razão maior da nossa associação. É lá que vamos atuar com muita força desde o primeiro dia da nossa gestão. O que vamos estabelecer lá? Nós vamos estabelecer nova organização, novos procedimentos, novos métodos, nova hierarquização de decisões e uma reformulação ampla no CT da Barra Funda.
Nada contra quem está lá, mas é uma necessidade de um departamento que investiu muito e entregou pouco. Acertando no futebol, tendo todos os princípios que já anunciamos, um coordenador de futebol com experiência e boa relação com a comissão técnica, um diretor-executivo do mercado, eu não vou negociar cargo. Vai ser esse ou aquele que vai ver, já vai ter um diretor-executivo de mercado, e também um diretor-executivo da base. Esse tripé vai ter a missão de restaurar a dinâmica, a meritocracia, o desenvolvimento, a produtividade, a análise da fisiologia e da área médica, a análise de toda a estrutura pessoal do futebol. A mentalidade vencedora.
O São Paulo precisa voltar a ter mentalidade vencedora, com reformas estruturais no futebol. Vamos ter o Comitê Avançado de Futebol (CAF), um órgão auxiliar para que você, em uma pretensão de jogador ou na promoção de jogador de base, ele poderá avaliar os atletas, qual a disciplina dele dentro e fora de campo.
Teto orçamentário será implantado Não acredito em um teto salarial, acredito em orçamento. Se o São Paulo pode gastar R$ 10 milhões, ele vai compor em cima disso. É uma questão de mercado o valor salarial. Haverá um teto orçamentário, não um teto salarial. Teremos uma pessoa ligada à gestão financeira perto do futebol. Até porque, na outra ponta, eu precisarei pagar dívidas. Gastar mais do que arrecada é algo ruim, agora gastar mais do que arrecada nesse momento é mais complicado ainda.
Projeto de sócio-torcedor.
O sócio-torcedor do São Paulo tem que ser refundado, porque ele deixa a desejar. Ele tem que ter um sistema, benefício, é claro, e ter a concepção de que o torcedor que entra está ajudando o clube. Ele precisa receber um relatório mostrando que 90% do dinheiro que ele coloca vai para o futebol. O sócio-torcedor põe o dinheiro lá e ele não quer saber se estou reformando a piscina ou o próprio estádio. O sócio-torcedor precisa saber onde está sendo investido o dinheiro gasto por ele, e ele saberá através de relatórios públicos.
O sócio-torcedor também tem que ser interativo, as pessoas gostam de participar de quiz, receber prêmios instantâneos. Temos também que pensar no são-paulino à distância, aquele que está fora do Estado de São Paulo. Ele pode ter benefícios. Nós vamos ter o sócio internacional, temos comunidade na Austrália, na Europa, nos Estados Unidos. São aquelas pessoas que participam e nos ajudam de fora do país. Essas modalidades vão fazer com que o novo conceito de sócio do São Paulo seja formatado. Isso fará crescer a receita e a interatividade do nosso sócio-torcedor.
Potencializar receita do Morumbi Me deixa à vontade essa pergunta, porque eu criei o Morumbi Concept Hall. Fui eu que criei no aproveitamento dos vãos de uma área térrea, que era uma área marginal para uma área prima. Quando desenhamos o Morumbi Concept Hall, recebi muitas críticas falando que eu era um visionário. Aquilo, para mim, foi um elogio. Nós precisamos de homens visionários. Hoje, ele existe, mas deixou uma lacuna que é a ativação do Morumbi Concept Hall. Podemos fazer shows intimistas, megashows, shows modulares, lançamento de produtos de automóveis, de cartões de crédito, seminários… Tem estacionamento lá dentro para eventos.
Precisamos de um diretor-executivo do mercado, com experiência em eventos, shopping center e organização de lançamento e produtos. Ele vai ter uma remuneração através da meritocracia. Se ele conseguir os objetivos, levando os eventos para o Morumbi Concept Hall, independente do dia de jogos, ele comporá o seu vencimento com uma variável bastante substantiva. O Morumbi Concept Hall está lá, mas deixou de ter eventos lá dentro. O Morumbi Concept Hall é um negócio. É preciso ter um homem de negócios para oferecer turismo e para as grandes empresas lançarem produtos e eventos lá dentro.
Estatuto Social do São Paulo Sou favorável a uma discussão do Estatuto Social do São Paulo antes de 2023. Mas isso deve ser feito com muita calma. Temos um Estatuto Social novo, com virtudes e defeitos. É corrigir o que já não deu certo na prática. Não precisamos esperar o final do mandato para fazer a revisão, temos que fazer revisão pontual, discutir. Naturalmente, o novo presidente do Conselho Deliberativo fará uma revisão pontual. Vamos corrigir coisas que não deram certo.
O que pretende levar ao São Paulo Eu quero dizer que, com a minha experiência de gestão, eu terei a emoção profissional, mas eu serei mais um deles, que nasceu com o amor ao São Paulo, claro que com a responsabilidade e representatividade do cargo. Não sou só o candidato da esperança, a esperança está na união, na cumplicidade com o torcedor, na forma de se comunicar. Eu quero deixar aqui o meu sentimento de uma pessoa que está largando o conforto de uma carreira de 30 anos para me dedicar exclusivamente ao São Paulo. Eu quero todos entrando comigo às 8h da manhã e saindo às 22h. Eu delegarei, mas estarei presente no futebol e na área social.
Estaremos ao lado de vários companheiros técnicos e abnegados fazendo uma transformação do São Paulo. Uma pessoa que larga esse conforto, eu tenho 59 anos, estou à espera de netos, eu teria o conforto de ficar torcendo pelo São Paulo. Mas quero um São Paulo diferente, porque é um São Paulo que precisa dos homens no momento estratégico. A tendência seria abrir portas para algum aventureiro, e o São Paulo ficaria cada vez pior. Temos propostas, disposição, capacitação e experiência na vida de gestão, de pessoas e números. Isso faz com que o São Paulo seja de todos, desde um grande empresário até pessoas comum.
O Morumbi é grande, tem que agregar pessoas de todas as classes. O Juntos Pelo São Paulo trará um São Paulo de todos. Quando perder, que seja uma derrota de ensinamento, e que o São Paulo honre a camisa dentro e fora de campo. Por isso, estamos fazendo uma campanha limpa. Os sócios já viram quem é quem. Eles sabem quem são as figuras caricatas que tentam implantar fake news. A gente vê isso com as adesões que estão chegando. Esse é meu compromisso com o futuro do São Paulo.
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