Reta final de Diniz no São Paulo teve desânimo e atletas planejando saída

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UOL

Pedro Lopes

Ao longo de novembro do ano passado, enquanto o “dinizismo” do São Paulo liderava o Campeonato Brasileiro, nem o mais pessimista dentre os torcedores imaginaria que o futuro traria uma derrocada tão dramática, com a quase inevitável perda do título e demissão de técnico a cinco rodadas do fim da competição. O último mês de Fernando Diniz no Morumbi foi de desmoronamento, causado pela deterioração nas relações do elenco, a acelerada transição entre diretorias fora de campo e fracasso na busca por alternativas de jogo.

Se já não bastassem os problemas internos, o atentado ao ônibus que levava a delegação são-paulina a um jogo contra o Coritiba, no dia 23 de janeiro, pode ter sido o último incidente a soterrar as ambições da equipe de Diniz. O ataque ocorreu em uma rota alternativa, quase nunca utilizada. Entre os jogadores, houve —e há até hoje— desconfiança de que uma pessoa de dentro do clube, que convive com eles no dia a dia transmitiu a localização do veículo para os autores do crime.

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Desde então, empresários de pelo menos três jogadores foram contatados com pedidos para que começassem a buscar outro clube para seus clientes: eles planejam o futuro longe do Morumbi. É a escalada de um descontentamento, e o volume de dívidas com o elenco e a conhecida necessidade que o clube terá de vender em 2021 alimentam as expectativas de saída. Se, dos portões para fora, o discurso de seguir em busca do título era mantido, dentro do São Paulo o ar já havia mudado. A derrota para o Atlético-GO no domingo (31), por 2 a 1, apenas sublinhou isso.

O começo do fim Diniz terminou 2020 com mais uma eliminação em mata-mata. Esta, menos traumática do que as anteriores —as derrotas para o Mirassol pelo Campeonato Paulista e para o Lanús pela Sul-Americana—, veio em dois confrontos equilibrados com o Grêmio na Copa do Brasil. Apesar da queda, ainda havia motivos de sobra para apostar em um fim de temporada positivo para o trabalho desenvolvido no São Paulo, que liderava o Brasileirão e vinha de duas vitórias na competição.

Pela frente, para iniciar 2021, um confronto diante do Red Bull Bragantino. O jogo, que era uma oportunidade para a retomada da confiança e o início de uma arrancada final rumo ao troféu se transformou em um pesadelo e um divisor de águas no clima e nas relações internas do elenco são-paulino. O São Paulo foi a campo em Bragança Paulista com dois desfalques importantes, Juanfran e Arboleda – ambos tinham condição de jogo e ficaram de fora por decisões extracampo do comando do futebol. Diniz apostou em uma solução que ele próprio, meses antes, havia criado, escalando o jovem volante Diego Costa como zagueiro.

Diego, entretanto, não era o mesmo da arrancada rumo à liderança em novembro, vinha de algumas falhas e era bastante contestado pela torcida. Na partida, voltou a errar, e o São Paulo foi derrotado por 4 a 2, em uma jornada que começou a evidenciar as dificuldades do treinador em encontrar novas alternativas dentro do elenco. No primeiro tempo, Diniz se envolveu em uma discussão extremamente ríspida com Tchê Tchê, e foi gravado xingando o jogador com termos como “Perninha”, “mascaradinho” e “ingrato”. O meio-campista retrucou. No segundo tempo, ainda acabou expulso por uma falta fora do lance de bola.

A briga causou uma deterioração grande no clima nos treinamentos. Diversos jogadores perceberam o treinador mais quieto, retraído. Os primeiros pedidos de desculpa não foram aceitos, e Diniz teve que se retratar com todo o elenco e com a família de Tchê Tchê. Apesar do compromisso em deixar a desavença de lado e buscar o título, o clima não voltou a ser o mesmo.

Sem resultados, com queixas.

Na sequência, o São Paulo perdeu para os reservas do Santos em casa e depois empatou com o Athletico Paranaense fora. A essa altura, a queda nos ânimos depois da discussão entre Diniz e Tchê Tchê evoluía para ruídos de insatisfação entre alguns atletas que vinham tendo menos oportunidades, e queixas sobre as diferenças no tratamento que o comandante dava aos mais jovens quando comparado ao dado a nomes mais experientes como Daniel Alves. Além disso, quase todos os jogadores tinham valores atrasados a receber do clube e a comunicação com a nova diretoria foi atrapalhada —muito por conta da demissão do executivo Alexandre Pássaro, que era o responsável por manter a conversa sobre as dívidas com jogadores e empresários.

Nesse contexto de instabilidade, o São Paulo desmoronou ao ser massacrado pelo então vice-líder Internacional por 5 a 1 em pleno Morumbi, perdendo a ponta do Campeonato Brasileiro. Ao longo desse processo de queda, o desespero de Diniz e sua dificuldade em encontrar opções para reverter a tendência foram se tornando mais e mais evidentes, com um aumento notável na quantidade de substituições trocando jogadores defensivos por atacantes.Nomes que tiveram participação praticamente nula durante toda a temporada como Tréllez e Gonzalo Carneiro começaram a ser lançados a campo como soluções em partidas complicadas.

O cenário depois da goleada diante do Inter era de pessimismo e confiança abalada, mas ainda havia no elenco quem acreditasse que havia no tanque do São Paulo combustível suficiente para um último esforço de reação. Essa chama, entretanto, foi extinta quando mais de 20 torcedores emboscaram o ônibus da delegação rumo ao Morumbi para enfrentar o Coritiba.

Pedras foram parar dentro do veículo, estilhaços de vidro feriram o atacante Luciano. As bombas caseiras usadas no atentado abriram rombos na fuselagem —segundo o especialista do esquadrão antibombas da Polícia Militar que as analisou, elas poderiam matar os jogadores. Houve atletas que pediram para que o time não entrasse em campo. O São Paulo empatou contra o penúltimo colocado do Brasileirão e viu o Internacional se distanciar na liderança.

O clima no CT da Barra Funda, então, se tornou ainda mais pesado. Com relações fraturadas em várias frentes envolvendo diretoria, atletas e comissão técnica, o São Paulo oficializou a saída de Fernando Diniz —o auxiliar Marcos Vizolli assume o time interinamente. O técnico deixou o clube sem títulos, com um aproveitamento total de 54,4% dos pontos disputados na temporada e a quarta posição do Campeonato Brasileiro.

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