Memórias Tricolor #40 – Camisa 10

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Camisa 10

E hoje com alegria chegamos a Coluna Memórias Tricolor nº 40, uma grande alegria e honra poder ocupar este espaço no SPNet e compartilhar com amigos um pouco da história do Futebol sob a ótica Tricolor. Porém hoje vamos mais longe e vamos falar da camisa mais pesada entre todos os jogadores, a Camisa 10…

Sempre há exceções, mas goleiro usa a camisa 1, laterais a 2 e 6, zagueiro 3 e 4, o grande atacante 7, 9 ou 11, e a camisa 10 o maior craque do time. Esse hábito (craque com a 10) surgiu do que muitos chamam de a “mística da 10”, o número ostentado pelo Maior Jogador do Futebol Brasileiro. Assim a Coluna Memórias Tricolor desta semana vai contar a história de 4 Camisas 10 que foram simplesmente sensacionais, os 4 melhores camisas 10 dos times paulistas: Divino, Príncipe, Rei e Verdugo.

Divino

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Quando lembramos ou citamos o nome de um jogador do passado inevitavelmente o associamos ao seu clube e seguindo os passos de seu Pai Domingos da Guia, um zagueiro fantástico que tem seu nome gravado até no hino do Bangu (RJ) e ostentava o apelido de Divino Mestre. Nascido no Rio de Janeiro em 3 de abril de 1942, Ademir da Guia é sinônimo de Palmeiras, jogou de 1962 a 1977, é o jogador que mais vestiu a camisa do clube com 902 jogos, sendo 512 vitórias, 233 empates e 157 derrotas.

Alto, dotado de grande habilidade e fina classe, Ademir da Guia herdou o apelido Divino de seu pai. É considerado pela imprensa e torcedores como o maior ídolo da história do Palmeiras. Foi sempre titular absoluto e jogou no período da “Academia”, quando somente o Palmeiras conseguia quebrar a sequencia de títulos do Santos. Se não fosse por Ademir da Guia talvez o Santos tivesse sido campeão paulista por onze vezes consecutivas.

Pela seleção brasileira pouco jogou, foi convocado 14 vezes e disputou apenas uma partida, a disputa do 3º lugar da Copa de 74.

Após a aposentadoria enveredou pelos caminhos da política sendo Vereador na cidade de São Paulo, porém não repetiu na política o sucesso dos gramados.

Príncipe

Nascido em 1º de janeiro de 1946 na cidade de São Paulo, Roberto Rivelino fez história pelo Corinthians de 1965 a 1974 quando jogou 474 partidas e marcou 144 gols e também em 4 temporadas pelo Fluminense onde jogou de 1975 a 1978 um total de 158 partidas e 53 Gols.

Canhoto, tinha um grande chute que rendeu o apelido de Patada Atômica, mas sua principal marca foi um drible até então inédito nos campos, em que fazia um movimento de vai-e-vem com a bola usando o mesmo pé, o drible “elástico”. Rivelino sempre disse que copiou de um colega de futsal de origem japonesa chamado Sérgio Echigo. O futsal foi muito importante em sua formação, sendo Rivelino um dos primeiros jogadores a migrar das quadras para os campos.

Pela seleção brasileira Rivelino fez parte do lendário elenco da Copa de 70, em um time tão completo que jogou mais a esquerda e com a camisa 11, afinal a 10 sempre teve um único dono de 58 a 70. Foi Campeão Mundial e participou também das copas de 74 e 78.

Teve diversos apelidos como Riva, Bigode, Patada Atômica, Garoto do Parque, Reizinho do Parque, Curió das Laranjeiras e Príncipe, sendo este último em reverência ao seu talento e por em sua época já existir um Rei, Pelé, um grande adversário em jogos contra o Santos e companheiro na Copa de 70. Rivelino é tido como um dos melhores jogadores da história dos clubes que passou. Atualmente é comentarista esportivo.

O Rei

Não há como contestar, nem discutir, o Melhor Jogador de Futebol nasceu na cidade mineira de Três Corações, em 23 de outubro de 1940, filho de uma senhora muito exigente Dona Celeste Arantes e de um conhecido futebolista do Sul de Minas Gerais Sr. João Ramos do Nascimento, o Dondinho. Seu nome é uma homenagem ao inventor Thomas Edison, mas ficou gravado Edson, Edson Arantes do Nascimento.

Ainda criança queria ser jogador, em 1943 seu pai jogava pelo São Lourenço e sempre levava o filho para assistir, com 3 anos o garoto se impressionava com as defesas do goleiro do time do pai e gritava “Defende Bilé”, logo todos o chamam de “Bilé” que com o tempo virou “Pelé”.

Aos onze anos Edson tinha o apelido de “Dico” e morava em Bauru, interior de São Paulo e logo foi jogar no time juvenil do Bauru Atlético Clube, o Baquinho e o treinador era Antoninho Bigode, mas logo o famoso jogador do passado e técnico de grande olho e faro Waldemar de Brito (Coluna Memórias Tricolor #038) surgia na vida de Pelé e viu no garoto um futuro promissor.

Foi Waldemar de Brito que em 1956 levou Pelé ao Santos, onde o jovem iria despontar e conquistar o Mundo, e “Bilé”, “Dico” e Edison se tornaria Rei, o Rei Pelé. Pelo Santos, Pelé jogou por 19 temporadas de 1956 a 1974, 1.116 jogos, marcando incríveis 1.091 gols, não é somente o maior jogador do Santos como o que mais gols marcou e mais vezes foi Campeão, os números de Pelé sempre foram e serão superlativos.

Muitos podem não gostar de algumas atitudes e passagens na vida de Edson Arantes do Nascimento, mas dentro das 4 linhas, no gramado verde não teve nenhum jogador igual, Pelé foi absoluto, Rei, o Maior. Pelé também jogou como goleiro, jogou por quatro oportunidades no Santos e não levou nenhum gol em um total de 54 minutos debaixo das traves. Pelé chutava com força e precisão com as duas pernas, sua cabeçada era mais certeira que muito chute de bons jogadores e quando a bola vinha alta ela agarrava em seu peito e deslizava ao solo. Arrancadas, cruzamentos, lançamentos, chutes e dribles certeiros foram sua marca.

Nenhum jogador jamais chegou a feitos que Pelé conquistou, em 1969 em uma excursão do Santos à África a equipe precisou passar entre as cidades de Kinshasa e Brazzaville no Congo Belga que estava em guerra civil, as forças rivais declararam a interrupção das agressividades e na região da fronteira chegou a ocorrer a transferência da tutela da delegação de um exército para o outro. Pelé e o Santos pararam a Guerra.

Namorador, Pelé teve muitos amores, entre elas a modelo Xuxa em seu início de carreira. Foi Ministro dos Esportes de 1995 a 1998 e por sua influência adequou a legislação brasileira as diretrizes internacionais da FIFA. Em 2000 foi aclamado como o Melhor Jogador do Século pela FIFA.

Foi Pelé que imortalizou a Camisa 10, que então passou a ser utilizada pelo melhor jogador do time, tanto no Brasil como no exterior. Mas aqui um fato curioso, Pelé atacante então pelo Santos usava a 9, e na Copa do Mundo de 1958 a distribuição foi aleatória e coube a Pelé a 10, que então ficou para sempre como a Camisa do Rei.

A expressão “Gol de Placa” surgiu no em 5 de março de 1961 em partida entre Fluminense 1 x 3 Santos no Maracanã quando dominou no meio de campo, driblou vários adversários e marcou. O Jornalista Palmeirense Joelmir Beting explodiu em euforia e disse que o Gol merecia uma Placa. Foi cunhada uma placa de bronze que foi colocada na entrada do Estádio do Maracanã.

Durante a década de 60 Pelé recebeu muitos convites para ir jogar nos grandes times do mundo, mas sempre quis ficar no Santos, somente ao fim de sua carreira em 1975 foi para o New York Cosmos e jogou até 1977 em 106 jogos com 64 gols.

Pela Seleção Brasileira, Pelé disputou 92 jogos e marcou 77 gols, conquistou um inédito Tricampeonato em 1958, 62 e 70, sendo que em 62 se machucou, mas esteve até o fim com os jogadores. Em 58 e 70, reinou absoluto, sempre de forma decisiva.

Edson Arantes do Nascimento é com total certeza o Rei do Futebol, o Maior Jogador de Futebol do Mundo.

Verdugo

Um dia perguntaram a Pelé quem era em sua opinião o melhor jogador com quem tinha jogado ou enfrentado, Pelé logo citou 5 jogadores que lhe rendiam muita admiração e descreveu assim Pedro Rocha: “Foi o maior jogador uruguaio que vi jogar. Ele jogava com a cabeça levantada, cabeceava muito bem e dava passes curtos e longos com precisão”. 

Pedro Virgilio Rocha Franchetti, nasceu em 3 de dezembro de 1942 e iniciou sua carreira no Peñarol em 1959 como meia ponta-de-lança, foi o principal jogador do Peñarol em sua fase mais gloriosa da história. Pedro foi Campeão Uruguaio por sete vezes, Tricampeão da Libertadores e BiCampeão Mundial. Único uruguaio a disputar 4 Copas do Mundo defendendo La Celeste Olimpica. É com certeza o melhor jogador uruguaio.

Em 15 de setembro de 1970 Pedro se transferiu para o São Paulo que acabava a obra do grandioso Morumbi, contratava várias estrelas como Gérson, Pablo Forlan e Toninho Guerreiro, e acabava de ser Campeão Paulista dando fim ao maior jejum de títulos da história do Clube. No São Paulo, Pedro passou a ser conhecido como Pedro Rocha e ganhou o apelido de “Verdugo”, que significa “carrasco” em razão de sua enorme habilidade em castigar sem piedade seus adversários.

O início no Tricolor foi difícil, adaptação ao novo clube, país e idioma eram somadas a uma suposta perseguição por parte de outros jogadores, mas logo Pedro Rocha começou a mostrar seu talento e foi decisivo nas conquistas do Campeonato Paulista de 1971 e 1975 além dos Vice-Campeonatos Brasileiros de 1971 e 1973.

Em 1972 o Pedro Rocha foi o primeiro jogador estrangeiro a ser artilheiro no Brasil, conquistando a artilharia do Campeonato Brasileiro de 1972 ao lado de Dario do Atlético Mineiro com 17 gols. Pedro Rocha entrou para a história do São Paulo levando o Clube a primeira participação na Copa Libertadores em 1972 e no vice-campeonato de 1974. No primeiro jogo da final Pedro Rocha foi decisivo e fez o primeiro gol da final na vitória contra o Club Atlético Independiente da Argentina, para azar Tricolor Pedro Rocha estava contundido, mas mesmo assim com seu espírito de luta jogou contundido e ficou de fora do último jogo. Sem nosso principal jogador o São Paulo ficou em vice, mas o sonho da Libertadores que chegaria 18 anos depois tinha início.

Pouco antes do início do Campeonato Brasileiro de 1977 Pedro Rocha aos trinta e quatro anos deixou a equipe. O São Paulo passava por uma reformulação e fez troca de grande parte do elenco, e então após 375 jogos e 113 gols nosso então melhor Camisa 10 deixou a equipe.

Após deixar o São Paulo Pedro Rocha jogou por Curitiba, Palmeiras, Bangu, Monterrey do México e em 1980 encerrou a carreira no Al-Nassr da Arábia Saudita. Virou treinador e dirigiu diversas equipes de pequena expressão.

Muricy Ramalho assim definiu Pedro Rocha: “Ele era muito educado, um cara diferente no futebol. Caladão, não era de muita brincadeira e gostava muito de jogar sinuca. Era invencível, tinha uma precisão para defender e atacar, até parecia que estava jogando futebol. Para ficar perto dele, comecei a jogar sinuca também. Melhorei muito, mas nunca consegui vencer Pedro Rocha. Mas estava ali, perto dele. Era a prova de que estava vencendo na vida. O cara era um gênio da bola”.

Em 2009 sofreu um AVC, que deixou sequela, viveu os últimos anos de sua vida sofrendo de atrofia do mesencéfalo, que comprometia seus movimentos e sua fala, isso o deixou muito deprimido. Em 2 de dezembro de 2013, as vésperas de completar 71 anos Pedro Rocha, nosso eterno camisa 10 nos deixou indo morar no Céu e jogar pela Equipe Celeste.

Esta Coluna é dedicada a todos os verdadeiros amantes do futebol arte, a todos os verdadeiros torcedores, tratamos de nossos grandes rivais.

Rivais Sim, Inimigos Nunca! Pois sem adversários não há futebol, e sem futebol não há emoção. Obrigado Príncipe Rivelino, Divino Ademir, Rei Pelé e Pedro Rocha, el Verdugo. Viva o São Paulo Futebol Clube!

Gustavo Flemming, 40 anos de amor ao SPFC, é empresário no segmento de pesquisa de mercado e consultoria em marketing.

Contato: [email protected]

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2 COMENTÁRIOS

  1. Tive a felicidade de ver vários jogos do Dom Pedrito no Morumbi e no Pacaembu.
    Era um jogador clássico.
    Cabeceava como poucos e, algo que essas amebas de hoje não sabem fazer, chutava a gol!
    Devia ser proibido dar a camisa 10, que já vestiu o Pedro Rocha, para esses parasitas do inferno!