Uma das principais críticas sofridas pelos cartolas do futebol brasileiro após o nível técnico dos Campeonatos Nacionais dos últimos anos, foi a incapacidade de descobrir talentos do futebol sulamericano e perder esses jogadores para centros de menor capacidade econômica do continente. O bairrismo de alguns dirigentes, jornalistas e torcedores dificultam essa estratégia, mas o São Paulo Futebol Clube está na vanguarda e reuniu um verdadeiro Portal do futebol sulamericano nessa Temporada 2016.
Já são seis jogadores estrangeiros e um treinador no elenco. Três argentinos (Centurión, Calleri e Bauza), um uruguaio (Lugano), um peruano (Christian Cueva), um colombiano (Wilder Gisao) e um chileno (Eugênio Mena). Foi ainda tentado o lateral direito argentino Julio Buffarini e o volante paraguaio Ortigoza, sem sucesso nas últimas duas estocadas. É claramente uma nova estratégia adotada pelo departamento de futebol, comandado pelo diretor Luiz Cunha e pelo gerente Gustavo Vieira de Oliveira.
Mena e Lugano eram velhos conhecidos do futebol brasileiro. O lateral esquerdo jogou em equipes como Santos e Cruzeiro. O zagueiro foi ídolo do Tricolor na conquista de Libertadores e Mundial 2005. Guisao veio devido ao conhecimento do ex-treinador Osório, aposta acertada do ex-presidente Carlos Miguel Aidar. Calleri, Cueva, Buffarini e Ortigoza são indicações de Edgardo Bauza, em conjunto com os diretores. Todas elas acertadas. Mas a gestão não limitou-se a isso. Observou muito bem atletas brasileiros que estavam na Europa, e nos revelou gratas surpresas como Kelvin e Maicon.
Observação discreta
Nas últimas décadas o São Paulo observou o mercado sulamericano de modo discreto. Até pelo regulamento das competições nacionais, tinha no máximo três jogadores estrangeiros no plantel. Em um desses momentos, no auge, contamos, em 2014, com o lateral esquerdo argentino Clemente Rodríguez; o meia-atacante argentino Marcelo Cañete, e o ponta colombiano Dorlan Pabón. Nenhum desses vingou 100%, Pabón teve um papel melhor, até por ser um jogador selecionável. Somente em 2015, porém, decidiu fazer uma aposta progressista. Aidar elegeu para comandar a equipe um treinador colombiano: Juan Carlos Osório. Facilitou para o clube não só pela categoria do treinador, mas para um trabalho de adaptação dos atletas.
Foi um dos únicos acertos da gestão Aidar. Humildemente, o que foi acertado, foi mantido. Dessa vez a gestão Leco apostou no argentino Edgardo Bauza e lentamente parece colher frutos. A goleada de 7 a 1 sofrida pelo Brasil contra a Alemanha, na Copa do Mundo, parece ter freado um pouco o bairrismo da crítica especializada, e parece ter aberto os olhos dos dirigentes de que apesar do talento natural dos brasileiros, precisamos aprender com os outros a como jogar sem a bola; não só definir um sistema tático, mas também saber fazer estratégias de jogo durante os 90 minutos. Isso, sem dúvida, abriu o mercado brasileiro para treinadores estrangeiros. Hoje temos como exemplos também Paulo Bento (português do Cruzeiro) e Milton Mendes (português do Santa Cruz).
Para que se faça também justiça, não apenas o São Paulo encampou este papel de vanguarda. O Cruzeiro Esporte Clube sempre esteve atento ao futebol sulamericano, e conta no atual elenco com importantes jogadores como o uruguaio De Arrascaeta e o argentino Sanchez Miño. Anteriormente, já havia descoberto o talentoso meia Walter Montillo e abriu espaço para o mesmo brilhar no futebol brasileiro. Teve também a estrela do lateral esquerdo Juan Pablo Sorín no elenco, o que jamais seria possível nos tempos atuais, pois ainda estava em um momento muito bom da carreira e ganharia muito no mercado atual. O Palmeiras tentou fazer o mesmo com Ricardo Garega, com a vinda de quatro jogadores argentinos, mas o fez de modo descoordenado, em minha visão, e sem analisar o plantel como o todo.
Uma boa colocação do Tricolor no Campeonato Brasileiro e no principal torneio sulamericano que ainda disputa, a Copa Libertadores, pode ser preponderante nesse papel de integração com outros países da América do Sul. A conquista de títulos não somente reforça novas experiências, mas nos mostra que a prática poderá levar ao sucesso quem aposta de modo racional. Nesse patamar esteve também o Internacional de Diego Aguirre e Andres D’Alessandro. É hora de deixar de bater na trave, e acertar o gol.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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