Febre Tricolor – Tempos difíceis

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Cueva é o último dos jogadores decisivos que restou no ataque
Cueva é o último dos jogadores decisivos que restou no ataque

A queda do São Paulo da Copa Libertadores da América era um prenúncio de tempos difíceis, mas nem o mais cético torcedor sãopaulino imaginaria que o time fosse colher resultados tão ruins. De time consistente e difícil de ser batido no início do ano, após um começo irregular na competição sulamericana e no Campeonato Paulista, passou o Tricolor a ser uma equipe sem resultados. Não é que jogue mal, mas perdeu todos os seus atletas decisivos e isso pode prejudicar outros jogadores que estavam em crescimento.

Em tese a defesa do São Paulo deveria ser um exemplo de solidez. De fato tem tomado poucos gols, mas poderia ser bem melhor. Tem um zagueiro de extrema categoria que é o Maicon, um lateral esquerdo excelente na marcação como o Mena, contratou outro lateral direito que marca e apoia bem que é o Buffarini; mesmo sem contar com Rodrigo Caio, tem-se o experiente Lugano e o promissor Lyanco. Mas o que acontece é que o São Paulo não tem jogadas agudas. O ataque está morno, sem sal.

O único atleta do ataque Tricolor que demonstra poder de decisão, na atual fase, é Cueva. O jogador tem a difícil missão de substituir Ganso, não o fará, mas dentro de suas características tem se destacado. Parece sempre que Cueva dará um drible ou um passe a mais, porém suas jogadas tem sido decisivas, o que lhe levou a balançar as redes em algumas ocasiões. As demais opções que temos para o setor ofensivo são jogadores complementares, mas sem o mesmo poder de decisão. Sem picardia e agressividade.

Disse na semana passada e repito: jogadores como Chávez, Gilberto, Ytalo e Kelvin não vão decidir nada. O último é um jogador útil, como é Centurion, mas alterna momentos de instabilidade. O Michel Bastos é um oasis de qualidade do ataque Tricolor, mas desce ladeira abaixo após os momentos decisivos da equipe. Nesse momento, como bem disse o comentarista da ESPN Br, Zé Elias, o Michel passou a andar em campo; não está ligado como estava na Libertadores. Se o ataque não ajuda, o crescimento de jogadores como Húdson, Thiago Mendes e João Schmidt fica estagnado.

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Era Jardine

O que pode suprir essa carência ofensiva do São Paulo é o jogo coletivo. Este será um processo árduo e produtivo ao final. Resta saber se o São Paulo terá essa possibilidade, dada a posição que se encontra no campeonato. As lesões de David Neres e Lucas Fernandes frearam um pouco o crescimento de uma geração que tem muito a colaborar com o time profissional, mas os demais atletas seguem inseridos no contexto da integração. A possibilidade de André Jardine assumir como interino é também a do São Paulo buscar a ter um perfil ofensivo que não tinha desde a saída de Juan Carlos Osório para a seleção mexicana.

Como dito, o entrave para André Jardine implantar uma nova filosofia é o momento sem resultados que a equipe atravessa, justamente pela ausência de jogadores de definição. Dado essa realidade a diretoria se inclina pela possibilidade de optar por um treinador experiente, não mais estrangeiro nas palavras do presidente Leco. Uma pena, pois entre as melhores das opções disponíveis está o argentino Marcelo “El Loco” Bielsa, desde que fosse convencido a retornar ao futebol sulamericano.

Não se levando em conta mais essa opção; Jardine, um treinador jovem e de muito talento, poderia sim ganhar um tempo para trabalhar. Pode, em minha avaliação, render bastante para o crescimento do time. De futebol coletivo entende como poucos, resta ver como a equipe Sub-20 jogava bonito no ano passsado.

Estatuto aprovado

A aprovação do Estatuto do São Paulo nesse final de semana, sem dúvidas, foi uma importante vitória política para o grupo que dirige atualmente o clube. Na assembleia geral participaram não só conselheiros, mas também o conjunto de sócios do São Paulo (que é diferente dos tão visados sócios-torcedores). Foram 588 votos favoráveis a reformas estatutárias, incluindo a continuidade dessa gestão interina até a próxima eleição, de abril do ano que vem. Futebolisticamente e financeiramente é uma gestão que vem acertando, sem cometer excessos anteriores.

O que falta para o São Paulo é acelerar a integração da base para o futebol profissional. Tem um exemplo positivo entre seus rivais: o Santos. Há dois anos o presidente santista Modesto Roma Jr. dizia que as equipes do futebol que não se antenassem à nova realidade financeira, sofreriam prejuízos. Entre os times que sofreram prejuízos estava o São Paulo, após apostar em um elenco caríssimo com salários como o de Kaká, Pato, Luis Fabiano, Kardec e Wesley. O Santos foi no caminho inverso e apostou na base. Como resultado tem a certeza de grande retorno após vendas de Gabriel, Zeca, Gustavo Henrique, Thiago Maia e Lucas Lima, e já o surgimento de novos valores como Vitor Bueno. O Tricolor pode e deve fazer o mesmo, pois está com uma safra de jogadores muito boa e jovem.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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