Um pacto pelo São Paulo. Este é o objetivo do presidente Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, ao transitar pelos mais variados grupos de conselheiros do São Paulo Futebol Clube. A escolha de Marco Aurélio Cunha para gerenciar o futebol, outro conciliador e articulador político, figura de peso, é justamente a última tentativa para reduzir a crise política que se tornou estratosférica, muito maior do que deveria ser, principalmente aflorada pelos maus resultados obtidos em campo. Para quem acredita, de outro plano observa inócuo Juvenal Juvêncio, a figura centralizadora desse grupo que era capaz de amenizar qualquer crise do tipo. Observa o que? Observa dois dirigentes de lados opostos agora unidos pelo clube.
A apresentação de Marco Aurélio Cunha mostra exatamente o que foi sua nomeação. O presidente Leco faz uma breve fala para sobre a chegada do novo gerente executivo de futebol e deixa a sala. Cunha passa a ser o centro dos holofotes e mostra como o futebol será trabalhado a partir deste momento: jogo a jogo. Para um bom observador nota-se que Leco “beijou a mão do diabo”. Na política tem dessas coisas. Em situações normais, jamais seria Marco Aurélio Cunha o seu homem do futebol. O momento não é de brincadeira, porém, dados os manifestos que teriam sido promovidos por “grupos de opositores” a chegada de MAC tornou-se essencial para que os mesmos sejam acalmados.
A saída de Gustavo Vieira de Oliveira começa a ser aclarada. Um gestor moderno como ele, com planejamento de futebol de longo prazo e gestão profissional é totalmente incompatível com Marco Aurélio Cunha. Este é um político que entende dos meandros do futebol, um gestor à moda antiga e que não pensa em longo prazo como demonstrou em sua própria coletiva, quer trabalhar com o resultado jogo-a-jogo. Para o momento uma figura política necessária, que trabalhou quando havia paz com seu ex-sogro Juvêncio, como superintendente de futebol. E que tinha muito poder.
Carismático
O torcedor passional adora líderes bonachões. Talvez não só o torcedor passional, também o eleitor desatento. MAC é este líder, que alguns torcedores imploram que seja presidente do São Paulo Futebol Clube no futuro. Essa notoriedade que ganhou junto à torcida é que o conduz para o clube novamente. Figuras muito bem quistas no passado, de grande competência junto aos seus pares, como João Paulo de Jesus Lopes, acabaram sucumbidos no passado pelo carisma de Marco Aurélio e sua habilidade de “jogar pra torcida” em meio às suas declarações. Ao novo gerente executivo de futebol não falta coragem, resolveu dar a cara a tapa ao torcedor em um momento delicado e sabe que se sair vitorioso desse processo muito provavelmente será presidente.
No meu estilo de ver o clube, de retomada para caminho de títulos, de integração da base em todas as suas categorias, planejamento de futebol, prefiro gestores profissionais como Gustavo Oliveira. Mas é insano achar que o clube não precisava de um choque de realidade e, nesse sentido, houve grandeza do presidente Leco em afastar vaidades de colocar MAC no alto do pedestal. Da crista da onda é que poderá emprestar seu trabalho para melhoria da equipe.
Desequilíbrio
Já trouxemos aqui o fato do time do São Paulo não atuar coletivamente há umas cinco temporadas, razão pela qual não obteve títulos expressivos senão uma Copa Sulamericana, em 2012. Depender de figuras de peso passadas como Kaká, Ganso, Luis Fabiano, Kardec e Pato para resolver sozinhos, justamente por não ser coletivo. Esse ano que não temos essa qualidade, também há desequilíbrio nas linhas do Tricolor. Quase ganhou do Botafogo, quase ganhou do Inter e quase ganhou do Palmeiras, mas poderia ter perdido os três; foram duas derrotas e muito desequilíbrio de uma equipe que não consegue manter um resultado.
Precisamos de uma qualidade mínima no ataque para poder criar mais, ser uma equipe mais contundente. Não haveria como ganhar do esquadrão aéreo de bolas alçadas na área pelos palmeirenses sem apresentar um jogo ofensivo de criatividade. Kelvin até que se esforçou e melhorou bastante em relação às suas últimas atuações, mas o menino Luiz Araújo foi engolido do lado direito e Wesley, que jamais pode ser lateral direito, deixou esse lado inexistente no clássico. Enquanto isso o menino Auro observava do banco, provavelmente em choque, que não é nem a quinta opção para lateral direita.
Nesse momento, em que o ataque não produz nada, a não ser o comandante Chávez, um lutador, Michel Bastos jamais poderia ser sacado da equipe. Mesmo que Ricardo Gomes o tenha identificado fora de forma, no ataque dessa equipe joga com 200 quilos. É experiente e precisa ser aproveitado durante qualquer crise, queira os torcedores ou não. Precisa-se dele. Assim como necessitamos que Cueva articule as jogadas e espera-se que Jean Carlos, nova contratação vinda do Vila Nova, não sinta o peso desta camisa e ajude o peruano na articulação pelo meio. O torcedor verá que impressiona a maneira como Jean Carlos bate nos chutes de longa distância.
A situação de Ricardo Gomes para formar o melhor time não era e não é fácil. Ao menos ganha uma gordura com a chegada de Jean Carlos e Robson. Este é atacante, e mostra frieza quando chega na cara do gol, o que pode ser visto em diversas atuações pelo Paraná Clube. O problema é que todos esses atletas são apostas, e podem vingar ou não. Nesse sentido vejo até com bons olhos a chegada de Dátolo, se boa sua condição física, pois é um jogador experiente e teve grande passagem pelo Boca Juniors quando jovem. Não há muito a ter esperança sobre a equipe e nem expectativas, mas é possível melhorar com suor e dedicação.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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