Após duas semanas afastado em razão de compromissos retomo a Coluna Febre Tricolor para diagnosticar o que o São Paulo precisa no momento: serenidade. Tranquilidade para trabalhar e afastamento dos holofotes podem ser as receitas para que a equipe atinja um equilíbrio suficiente para pulverizar, de uma vez por todas, o fantasma do rebaixamento. Apontar responsáveis, demitir Ricardo Gomes e criticar diretoria são medidas que não vão ajudar o São Paulo a ficar na Série A e melhorar o seu retrospecto pífio no segundo turno.
A cada nova derrota ou empate a passionalidade da torcida emerge e novos vilões vão sendo criados. No que tange a Ricardo Gomes, embora tenha criticado sua contratação, há de se reconhecer que em 2014 devolveu a estabilidade ao São Paulo e já conseguiu formar nesse ano um padrão de jogo desde sua chegada, sobretudo com um meio-campo mais leve e tentativas de surpreender o adversário com trocas de posicionamento. A instabilidade decorrente provocada pela falta de confiança dos jogadores fez com que a equipe deixasse escapar pontos preciosos. Quem joga sabe: a obrigação de vencer faz a bola queimar no pé e torna difícil cada vitória. Nova contratação de treinador é abalar o ambiente no momento, foge à serenidade e não é propositivo.
Outra nova onda do momento é parte da torcida direcionar críticas a Michel Bastos. Uma relação eterna de amor e ódio, como parte da torcida Tricolor já criou no passado com Kaká, Luís Fabiano e até Rogério Ceni. Recai sobre os jogadores mais técnicos e que tem potencial de decisão. Desprezar o que Michel Bastos fez pelo clube esse ano é esquecer do passado. Foi o grande jogador do mata-mata da Libertadores. Foi decisivo contra Toluca e Atlético Mineiro. Por um triz não colocou o clube na final, quando recebeu um excelente passe de João Schmidt e mandou um balaço de primeira em direção ao gol de Armani, goleiro do Atlético Nacional, lance que poderia mudar completamente o panorama das semifinais. Não me preocuparia se fosse ele. Jogador de Copa do Mundo que, com certeza, está no coração de torcedores coerentes e que deveria permanecer no elenco de 2017.
As críticas recaem ainda sobre a atual diretoria. Menor culpada de todas ao meu ver e que já redundaram numa vítima fatal: Gustavo Oliveira. Seria melhor que ficasse para o Tricolor, pois foi exatamente o ex-diretor de futebol que bateu o pé e garantiu a contratação de Cueva no segundo semestre, contra a vontade de Bauza, diga-se – uma das poucas reservas técnicas do ataque sãopaulino. Ainda assim, houve uma atitude nobre de Marco Aurélio Cunha (em substituição ao ex-diretor) de retornar ao clube em um momento difícil e poder comprometer totalmente o seu carisma político, colocando o clube à frente de tudo. MAC, que sempre critiquei, teve um ato de nobreza amparado pelas palavras de Lugano, “faça pelo São Paulo”.
Principal culpado
Mas o leitor da coluna pode estar se perguntando: ué, se a diretoria atual não é culpada, o Michel Bastos é um grande jogador e o Ricardo Gomes não deve ser demitido, por que não somos líderes rumo ao heptacampeonato? Respondo: justamente devido ao histórico de gestões financeiras, ausência de linearidade na formação de elenco com propostas técnicas e falta de títulos. Somados esses três prismas perdeu-se a serenidade.
O bate-boca entre o saudoso presidente Juvenal Juvêncio e o ex-presidente Carlos Miguel Aidar demonstrou toda essa intranquilidade. Foi notória a ausência de simbiose entre gestor de finanças e o de futebol. Não houve planejamento adequado para formação de elenco de acordo com as matrizes financeiras. O cenário tornou-se caótico a ponto de dizer que o São Paulo deveria adotar hoje o padrão do orçamento público. Teria que destinar fundos para despesas ordinárias e de capital, executando estas apenas se houvesse previsão orçamentária e financeira para os casos de investimento patrimonial.
O que se acompanha nas noticias é que ao menos a credibilidade com as instituições bancárias foi resgatada, e há novas possibilidade de firmar empréstimos de longo prazo para amortizar dívidas. O problema é que tudo indica possa ser tomado empréstimo para pagamento de despesas ordinárias, como salários e direitos de imagem. Não é o cenário ideal, uma vez que esse expediente só deveria ser adotado em ultima ratio, por conta de ampliação estrutural. Provavelmente o clube seguirá sangrando e será difícil formar um time competitivo já no início de 2017.
Importante frisar que o presidente Leco vem tratando do tema com responsabilidade. Apenas uma vez esse ano ouviu-se burburinho sobre o atraso nos direitos de imagem, informação estancada dentro do próprio vestiário graças à presença de Diego Lugano. Muito se elogia o trabalho do diretor financeiro Adilson Alves Martins, até por quem deixou o clube contrariado com o planejamento do futebol, como o ex-diretor Luiz Cunha. O trabalho é, no entanto, meticuloso. Terá que ser seguido passo-a-passo para que o São Paulo possa evoluir e voltar ao caminho das conquistas, peculiar no passado.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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” No que tange a Ricardo Gomes, embora tenha criticado sua contratação, há de se reconhecer que em 2014 devolveu a estabilidade ao São Paulo e já conseguiu formar nesse ano um padrão de jogo desde sua chegada, sobretudo com um meio-campo mais leve e tentativas de surpreender o adversário com trocas de posicionamento”.
Com todo respeito meu caro, mas achei esse comentário sobre o meio de campo uma coisa que não consigo expressar em palavras. Dizer que o RG devolveu a estabilidade com um meio de campo mais leve, me deixou revoltado. Nos últimos cinco jogos, fizemos UM GOL. Chama-se de Wesley, Hudson e T. Mendes como meio de campo leve??? Não dá para acreditar nisso.
E outra coisa~: não quero saber de quem é a culpa por lançarem o clube nessa desgraça.
Queremos soluções imediatas.
Vamos lá Victão… você não entendeu. Eu disse que, em 2014, o Ricardo Gomes devolveu estabilidade ao São Paulo. Basta você ver a ascensão que o clube teve.
E disse que ESSE ANO já conseguiu formar um padrão de jogo, com pontas mais leves… e um meio diferente… padrão esse que não vem conquistando vitórias sobretudo devido à fase técnica dos jogadores e falta de confiança.
É isso, e nada mais.
Sobre o que você quer, eu falei sobre torcedores como você no texto… passionais. Se não enxergar dentro do longo prazo você não vai entender nada sobre o que está acontecendo agora.
Só que o ponto é que não temos longo prazo. O time está quase na zona do rebaixamento e jogando um futebol péssimo. Os demais tem ganhado seus jogos, pelo menos um, mas o São Paulo não ganha de absolutamente ninguém, e sequer consegue fazer um golzinho que seja. Se entrar no Z4, acho que não sai mais. Nesses próximos dois jogos, tem que fazer, no mínimo, 4 pontos. No mínimo. Mas não será surpresa se fizer apenas 1.
Concordo totalmente contigo.
A coluna aponta a todo momento sobre o longo prazo pra trás, que fez chegar nessa situação de hoje.
Não falei de longo prazo pra frente.
Como que o clube vai sair dessa?
– Não demitindo treinador
– Sem grandes inovações táticas, apenas mudando pequenos aspectos da estratégia.´
– Não queimando jogador agora. Precisamos de todos, bons e ruins.
Quanto mais mexer, mais vai tirar a serenidade do clube, e a o buraco fica mais próximo.