Preste atenção nas seguintes afirmações:
“Tivemos um dos jogos mais difíceis hoje”
“O São Paulo dominou as ações do jogo e poderia ter vencido”
“O Santos se sentiu pressionado e por isso teve de fazer alterações pra suportar a pressão, se defendendo como pode”
“O Santos equilibrou as ações 15 minutos do primeiro tempo mas depois o São Paulo tomou conta do jogo e poderia ter aberto o placar”
“Foi bom pro Santos ter feito o gol logo no início do segundo tempo, isso deu calma, até porque depois o São Paulo veio pra cima e tomou conta do jogo”
“Mesmo bem postado defensivamente, o Santos não conseguia permanecer com a bola pois o São Paulo logo roubava e aumentava a pressão”.
Estas frases não foram de um torcedor fanático, de algum diretor corporativista, de algum jogador lunático ou do técnico do São Paulo. São frases resumidas da coletiva do técnico do Santos, Dorival Junior, ao final do clássico no Pacaembu.
O objetivo deste texto não é, em nenhum momento, defender que a derrota foi boa ou que o técnico do São Paulo faz um trabalho maravilhoso. Ao contrário, merece críticas.
Mas tirando o lance do gol, o goleiro Denis foi um mero espectador no Pacaembu. E olha que o gol sai de um erro de posicionamento do Kelvin, que entrou no lugar do lesionado Carlinhos. E como era começo de segundo tempo, Kelvin pode não ter tido a concentração necessária.
Eu explico: no lance do lateral cobrado pelo Santos, todos estavam marcados e o São Paulo fechando a porta. Mas o Kelvin estava desconcentrado e não percebeu que Jean Mota estava nas suas costas. Kelvin é quem deveria estar atrás. O lateral é cobrado, Kelvin vê a bola passar e Hudson, que estava um cão de guarda em cima do Lucas Lima, teve de abandonar sua posição e dar o bote. A bola passa para Lucas Lima. Buffarini percebe a situação e resolve cobrir Hudson que fora cobrir Kelvin. Lucas Lima é ligeiro e dá um tapa para Copete que, no único momento em que ficou livre da presença de Buffarini, teve todo tempo pra matar a bola e chutar pra gol, antes do carrinho do Maicon.
O gol da vitória saiu do único vacilo de marcação. Provocado pela desatenção de Kelvin, que substituíra o Carlinhos, que tivera toda esta orientação durante os treinos. Marcar o Jean Mota porque o Hudson estava na cola do Lucas Lima. E como num efeito dominó, uma peça foi caindo após outra até que saísse o gol do Santos.
O técnico do Santos reconheceu que este foi o único momento do Santos no jogo. Mesmo aparentando tranquilidade e optando pelo contragolpe.
Dorival chega a dizer na coletiva que o time estava pressionado e optando pelo contragolpe mas que não conseguiu realizar nenhum porque o São Paulo estava todo em cima e logo roubava a bola. Em virtude disto, tirou Lucas Lima que fora anulado em boa parte do jogo. E depois com outra alteração resolveu reforçar a marcação no meio pois a entrada do Cueva tinha dado mais mobilidade a intermediária do São Paulo.
Tudo isso não serve pra amenizar a raiva e a dor de cabeça vivida pelo torcedor sãopaulino. Foi mais uma derrota e mais uma chance perdida de povoar uma zona mais confortável na tabela de classificação.
No entanto, neste momento é preciso ter serenidade. Eu digo serenidade porque paciência obviamente que não existe mais. Mas é preciso serenidade para auxiliar nas tomadas de decisões.
Trocar de técnico melhoraria o time? Os atacantes passariam a acertar o gol? Jogadores passaria a se contundir menos? Está faltando luta ou está faltando qualidade?
Vejo o São Paulo neste momento como um Wolverine com garras de plástico. Briga, corre atrás, esforça, transpira, mas não consegue ganhar a luta porque não consegue agredir ou ferir o adversário.
Esse Wolverine com garras de plástico chega a dominar boa parte dos jogos, como foi contra o próprio Santos, o Flamengo, o Atlético PR, etc. No entanto, na hora de dar o golpe, suas garras de “plástico” parecem inofensivas, inoperantes.
O time não está uma maravilha e o técnico não está acima de qualquer suspeita. Nem o preparador físico pode ser esquecido (impressiona como o time prega no segundo tempo).
No entanto, olhando tudo de forma serena e sabendo que teremos em breve uma sequência na tabela que permitirá escapar desta zona desconfortável, o que o São Paulo precisa neste momento não é de um Nero pra tocar fogo em tudo. Precisa é de atacante que acerte o gol.
Em dez minutos do segundo tempo contra o Santos, o São Paulo teve uma sequência de lances dentro da área. Em um deles, Wesley perdeu excelente chance chutando pra fora. Pouco tempo depois, Robson tem a bola na sua frente, dentro da área e chuta pra fora. Logo na sequência foi a vez do Chavez chutar pra fora.
O que quero dizer é que, mesmo com um futebol sem brilho aos olhos do torcedor, se o São Paulo tivesse um mínimo de capricho nas finalizações do segundo tempo (e olha que teve chances no primeiro tempo também) neste espaço de dez minutos, poderia ter virado o jogo, por mais incrível que possa parecer
Isso tudo sempre vira discussão porque você tenta olhar os fatos com o lado racional mas o torcedor vai disparar xingamentos pois está com raiva e observando mais com o lado emocional.
O jogo contra o Santos não vai voltar. Mas serve como alento e esperança o fato do técnico Ricardo Gomes ter dito na coletiva: “vou fazer mudanças no ataque já para o jogo contra o Fluminense”. Espero que faça. Senão merecerá mais críticas da torcida.
No atual estágio nivelado do futebol brasileiro, Ricardo Gomes percebeu que os jogos estão muito iguais. Perdeu pontos para times que estão no G-6 tomando 1 gol bobo ou porque não conseguiu transformar em gol algumas chances claras. É nisto que o técnico parece apostar neste momento. Por isso vai mudar o ataque já para o próximo jogo.
Vamos continuar observando e comentando com você aqui. Mas por mais que eu (como disse no começo do texto) também esteja descontente com muita coisa, acho que neste momento crucial, o que o São Paulo não precisa é de um Nero incendiando tudo e colocando instabilidade.
Mais do que um incêndio, o que o São Paulo precisa neste momento é de pontaria. Mais do que um Nero, precisa neste momento é de gente que saiba fazer gol.
Ricardo Leite é apresentador na Rádio Capital SP, e comentarista das transmissões ao vivo da Rádio SãoPaulo Digital @spfcdigital. Escreve nesse espaço todas as sextas-feiras.
Siga no Twitter: @RICARDOLEITE01
ATENÇÃO: O conteúdo dessa coluna é de total responsabilidade de seu autor, sendo que as opiniões expressadas não representam necessariamente a posição da SPNet ou de sua equipe de colaboradores.