Que todo grande time começa com um grande goleiro, isso todos concordam, mas e como se formam grandes guarda metas? Ao se aposentar da grande área, Valdir Joaquim de Moraes criou a função de preparador de goleiros e isso foi fundamental para dois ídolos Tricolor como contaremos hoje na Coluna Memórias Tricolor.
Valdir Joaquim de Moraes nasceu em Porto Alegre em 23 de novembro de 1931. É apontado como o maior goleiro do Palmeiras ao lado de Oberdan Catani e Marcos. Entre os goleiros brasileiros todos os conhecedores e palpiteiros sempre o colocam entre lendas como Gilmar dos Santos Neves, Taffarel, Zetti, Marcos, Dida e Rogério Ceni. Sem qualquer sombra de dúvida Valdir Joaquim de Moraes foi um dos maiores goleiros brasileiros.
Com apenas 1,70m de altura, Valdir sempre foi considerado baixo para a posição de goleiro, mas compensado pela técnica e posicionamento. Em 1947 aos 16 anos entrou para as categorias de base do extinto Grêmio Esportivo Renner da cidade de Porto Alegre. No Renner jogou ao lado de Ênio de Andrade, um grande jogador em sua época e um dos mais vitoriosos treinadores brasileiros.
Valdir Joaquim de Moraes ficou no Renner até 1957, indo jogar no Palmeiras de 1958 a 1968, período em que reinou absoluto na meta palmeirense, fez parte da equipe chamada de “Academia de Futebol”, uma das únicas a quebrar a hegemonia da equipe de Santos de Pelé.
Pela Seleção Brasileira, Valdir foi convocado de 1956 a 1965, porém jogou apenas 5 partidas, essa época coincidiu com o período de outra lenda da pequena área Gilmar dos Santos Neves, titular absoluto na Seleção e Bicampeão Mundial em 1958 e 1962. Um dos grandes feitos de Valdir na Seleção foi o jogo contra o Uruguai na inauguração do Estádio do Mineirão em Belo Horizonte, disputa valendo a Taça Independência em 1965. A Seleção Brasileira venceu a equipe celeste por 3 a 0 e Valdir foi fundamental para a vitória.
Em 1969 Valdir Joaquim de Moraes se transferiu para o Cruzeiro de Porto Alegre, onde encerrou sua carreira.
Em 1971 Oswaldo Brandão, então técnico do Palmeiras o convidou para fazer parte da comissão técnica, e então Valdir criou uma nova função no futebol brasileiro, a de preparador de goleiros.
Valdir Joaquim de Moraes trabalhou por toda a década de 70 no Palmeiras, em 1979 o clube contratou Telê Santana para ser treinador, porém Telê deixou a equipe em fevereiro de 1980 para assumir a Seleção Brasileira. O encontro dos dois pode ser considerado um marco no futebol, principalmente para o São Paulo Futebol Clube, pois Telê enxergou em Valdir um fiel escudeiro e o levou para compor seu estafe junto à seleção canarinho e mais tarde para o Tricolor.
Valdir foi o treinador de goleiro da Seleção Brasileira nas Copas de 1982 e 1986, e em 1984 teve uma passagem como técnico interino do São Paulo.
Quando Telê Santana foi convidado para assumir o comando do Tricolor suas duas mais importantes exigências foram Moraci Sant’Anna e Valdir Joaquim de Moraes.
A comissão técnica comandada por Telê Santana mudou a história do São Paulo, e durante a “era Telê” o Tricolor foi o maior campeão nacional, ganhando tudo que disputou.
Valdir Joaquim de Moraes era o amigo, companheiro, confidente e principal escudeiro de Telê Santana, o homem certo no cargo certo. Foi ele quem moldou Zetti nosso herói das conquistas de ouro da década de 90. Zetti foi um verdadeiro monstro nas Libertadores e Mundial de 1992 e 1993. O grande herói na defesa do pênalti na final da Libertadores de 1992.
Um fato curioso é que Telê só confiava em Valdir para olheiro, e enviou Valdir para assistir aos jogos de possíveis adversários e definiu que para as quartas de final Valdir deveria assistir o 2º jogo de San Lorenzo x Newell’s Old Boys, jogo decidido nas penalidades, e também América de Cali x Newell’s Old Boys coincidentemente também foi decidido na disputa de pênaltis.
Assim além de importantes informações sobre o adversário Tricolor na final, Valdir sabia onde cada um dos jogadores adversários poderia chutar, e isso ajudou muito na conquista inédita do São Paulo.
Segundo o próprio Zetti, Valdir de Moraes foi fundamental para aprimorar ainda mais o goleiro, e com treinamentos inovadores fez muita diferença em sua carreira.
Rogério Ceni chegou ao CT da Barra Funda em 7 de setembro de 1990, com apenas 17 anos, era um garoto alto e magrelo, e foi recepcionado pelo preparador físico Altair Ramos que contam, não botou muita fé no garoto. Após dois treinos com o preparador de goleiros da base Gilberto de Moraes foi aprovado, mas seria reserva na categoria de base.
Eis que Valdir Joaquim de Moraes fez a diferença na carreira de Rogério Ceni, primeiro reprovando o fato de ser reserva na base, e depois evitando que a saudades da família fizesse o jovem goleiro desistir de São Paulo e retornar para sua família, e por fim treinando Rogério.
Segundo depoimento do próprio Valdir à Gazeta Esportiva em setembro de 2011:
“Senti que ele (Rogério Ceni) poderia ser um grande goleiro, então o trouxe para perto de mim e iniciamos uma relação de confiança que dura até hoje, falei ao Telê ‘vamos deixá-lo no profissional que esse moço pode ter uma carreira muito bonita’. Tive sorte e acertei.”
É de Valdir Joaquim de Moraes a “culpa” pelo grande diferencial da carreira de Rogério Ceni, quando iniciou no São Paulo Rogério tinha noções de posicionamento e fazia boas defesas, porém não sabia bater na bola, segundo o próprio Valdir o tiro de meta de Rogério não passava nem do meio de campo.
Um dos grandes diferenciais de Valdir, quando goleiro, era os lançamentos sempre precisos, e quando passou a treinador de goleiros, implantou esse fundamento, até então desprezado pelos goleiros.
Valdir exigia de Rogério Ceni perfeição com os pés, e Rogério Ceni foi seu melhor aluno neste quesito, afinal foram 132 gols em sua carreira, muitos decisivos para o Tricolor.
Valdir ainda retornou ao Palmeiras e teve passagens pelo Corinthians, e encerrou sua carreira no começo desta década. Passaram pelas mãos de Valdir Joaquim de Moraes verdadeiros craques da posição como Leão, Gilmar, Zetti, Rogério Ceni e Marcos.
Durante todos os anos em que acompanho futebol, jamais ouvi qualquer referência ao apelido ou ao seu verdadeiro nome, Valdir Joaquim de Morais, escrito com “i”, sendo assim que ele assina, mas por algum engano do mundo da bola Morais virou Moraes e é sempre assim que ele é reverenciado.
Obrigado Valdir Joaquim de Moraes, obrigado professor por aperfeiçoar dois de nossos mais brilhantes arqueiros e responsáveis por muitas alegrias e conquistas para o São Paulo Futebol Clube e sua grandiosa torcida.
Gustavo Flemming, 40 anos de amor ao SPFC, é empresário no segmento de pesquisa de mercado e consultoria em marketing.
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