Análise: lance isolado ameniza pressão sobre um São Paulo ainda sem alma

77

GloboEsporte.com

Yan Resende

Mesmo com nova formação, equipe de Bauza apresenta problemas antigos, deixa torcida irritada na maior parte do tempo, mas busca vitória aliviadora.

 

Faltou quase tudo. Bauza mudou o esquema tático, mas o São Paulo foi tão apático quanto em jogos anteriores. Sem qualidade para criar. Sem alma para bater de frente contra qualquer adversário – do mais fraco ao mais forte. Mas houve fé. Quando tudo encaminhava para mais um resultado trágico, um lance aos 44 minutos do segundo tempo deu a vitória, por 1 a 0, sobre o Botafogo. Há esperança?

Publicidade

A história do jogo ameniza a raiva passada pelo torcedor ao longo do jogo – e quanta raiva! O menor público do ano (apenas 2.970 tricolores) viu mais uma atuação decepcionante. O resultado, no entanto, é intrigante. O Tricolor dos próximos jogos será diferente? Já é permitido voltar a acreditar no Time da Fé? O alçapão da Vila Belmiro talvez dê algumas respostas no próximo domingo, em mais um clássico contra o Santos.

TIME DIFERENTE?

Com nova formação, Bauza esperava ver um São Paulo diferente nesta quarta-feira  (Foto: GloboEsporte.com)Com nova formação, Bauza esperava ver um São Paulo diferente nesta quarta-feira (Foto: GloboEsporte.com)

O São Paulo entrou em campo com quase um time de desfalques – eram 10 ao todo. Com o que tinha em mãos, Bauza decidiu mudar o esquema tático. Deslocou Bruno na esquerda, deixando Caramelo pela direita. Povoou o meio de campo com Carlinhos, Hudson e João Schmidt. Escalou Daniel ao lado de Ganso para ajudar na criação.

O objetivo era ver um time diferente em campo. Nada aconteceu. A expectativa de ver os jogadores mais próximos um dos outros, trabalhando a bola com facilidade, virou frustração com poucos minutos de bola rolando. Faltava qualidade para seguir as ordens de Bauza. Faltava para deixar a torcida menos irritada.

O ALVO

Caramelo era o maior exemplo. O lateral era frequentemente chamado pelo técnico argentino: precisava se apresentar mais ao ataque e, principalmente, mostrar confiança com a bola nos pés. Os erros consecutivos do jogador refletiam diretamente nas arquibancadas do Pacaembu. Foi o primeiro alvo da torcida, antes mesmo do intervalo.

ALGO BOM?

Em 45 minutos, houve lampejos positivos. Aos 6, Hudson fez a jogada pela direita, cruzou na medida para Calleri, e o atacante quase balançou as redes. Quando estavam próximos da área, João Schmidt, Daniel e Ganso arriscaram de longe. Seria reflexo dos belos gols marcados pelo camisa 10 nos últimos ou falta de qualidade para encontrar espaços na defesa adversária?

TÁ COM SEDE?

Bastou um lance para explicar a postura do São Paulo no primeiro tempo. Enquanto o Tricolor cobrava escanteio no ataque, Hudson e Caramelo, que eram os responsáveis pela cobertura no meio de campo, bebiam água na lateral. O Botafogo ligou rapidamente o contra-ataque, obrigando os dois, em meio a broncas de todos os lados, a saírem em disparada na marcação. Denis evitou o pior com boa defesa.

MUDA TUDO

No 4-4-2, São Paulo adotou uma postura mais ofensiva no segundo tempo  (Foto: GloboEsporte.com)No 4-4-2, São Paulo adotou uma postura mais ofensiva no segundo tempo (Foto: GloboEsporte.com)

Era evidente que o São Paulo precisava mudar. Cansado, Carlinhos pediu para sair. Bauza apostou no garoto Lucas Fernandes. Aos 9 minutos do segundo tempo, o treinador fez mais uma mudança. Kardec ocupou a vaga de Daniel. O 4-3-2-1 se transformou no 4-4-2, com dois jogadores de área e Ganso mais recuado.

TEVE CHANCE

As chances apareceram. Não foram jogadas trabalhadas, mas a maior presença no ataque deu resultado. Foram 22 bolas levantadas na área ao longo da partida. Aos 16, Lucas Fernandes cobrou escanteio, João Schmidt exigiu boa defesa de Neneca, e Maicon, livre na marca do pênalti, mandou por cima do gol.

QUASE, GANSO

O Camisa 10 passou a jogar mais recuado, buscando a bola no círculo do meio-campo para organizar o São Paulo. Quando teve espaço, levou perigo ao gol botafoguense. Ganso deu belo drible entre as penas do zagueiro, arriscou de longe, a bola desviou na zaga, e Neneca usou os pés para fazer mais uma defesa importante.

SUSTO

O cenário poderia ser trágico. Aos 39 minutos, o Botafogo perdeu um gol inacreditável. Samuel Santos invadiu a área pela direita, rolou para o meio e encontrou Léo Coca livre dentro da área. O atacante, sem marcação, esperou a bola chegar à marca do pênalti, bateu de primeira e mandou por cima do travessão de Denis.

VAI NA FÉ

O desfecho já era dado como certo, porém, mesmo com toda irritação, o torcedor do time da fé manteve a esperança. A bola, obviamente, precisava cair nos pés de Ganso. O relógio já apontava 44 minutos quando o armador percebeu a movimentação de Calleri e fez o passe por elevação. Desta vez o argentino foi bem. Como bom centroavante, não aquele que estava há 11 jogos, esticou o pé, tocou por cobertura sobre Neneca e viu a bola dormir nas redes. Ufa!