Direto aqui da República de Curitiba escrevo essa coluna de domingo (23) com a sensação de que o São Paulo Futebol Clube conquistou a liberdade. A vitória de 2 a 0 sobre a Ponte Preta ontem demonstra a reação da equipe na luta contra a zona de rebaixamento e que, agora, o risco é mínimo em função da dificuldade da tabela para todos os adversários diretos nos próximos sete jogos. O que dissemos na semana passada, antes dos triunfos sobre Fluminense e Ponte Preta, foi realizado à risca. Principalmente o diretor de futebol Marco Aurélio Cunha deu a cara à tapa e numa relação de extrema clareza trouxe à serenidade necessária ao trabalho de Ricardo Gomes.
Da parte de Marco Aurélio Cunha ouviu-se que o treinador seria avaliado jogo-a-jogo, sem, em nenhum momento, garantir-lhe o cargo no comando da equipe. É mais sincero do que dizer que o treinador está seguro no cargo, e esperar-se a qualquer momento que, em função dos resultados, obviamente seja o mesmo demitido em razão da cultura futebolística brasileira. A situação da equipe deu lugar essa semana às notícias sobre contratações, especulou-se uma conversa no Instagran entre Jony Calleri e Marco Aurélio Cunha, além de um suposto interesse em Nilmar. A temporada 2017 começava a ser planejada com o clube em iminente risco. Ocorre que, quando MAC foi ouvido pela imprensa, desmentiu tudo. O acaso colaborou para que a grave situação da equipe não redundasse em mais manchetes.
A vitória contra o Fluminense foi totalmente improvável. O primeiro tempo do jogo foi de péssimo futebol e desanimador. Mas a sorte do clube parece ter mudado assim que Ricardo Gomes ousou e promoveu a estreia do já badalado atleta da base David Neres. Sem querer partir pra cima e decidir o jogo sozinho, como todo jogador da base acha que deve fazer, o ala direita entrou solidário. Neres deu vida ao setor direito do São Paulo com cruzamentos em direção ao gol e jogadas objetivas, como sempre foi sua marca nas divisões de base. Ontem, na vitória contra a Ponte Preta, sobretudo em razão do improviso de Wesley e da tendência do meio-campo Tricolor armar pra esquerda, Neres ficou apagado na primeira etapa. Gomes, novamente corrigiu, e seu jogo inteligente fez o São Paulo crescer. É duro dizer isso, mas esse menino foi o fator desequilíbrio de um time previsível no ataque.
A serenidade dada ao departamento de futebol segue para um segundo estágio. Hoje Marco Aurélio Cunha já pode falar sobre contratações. Avisou até que faz esse planejamento junto da comissão técnica e que escuta várias das sugestões apresentadas, para tornar o São Paulo forte em 2017, sobretudo no setor ofensivo. Vale o elogio ao técnico Ricardo Gomes. Totalmente bombardeado pelas críticas, inclusive tendo me deixado reticente quanto à sua contratação – nunca em razão do seu caráter – inovou na equipe para encontrar um futebol melhor. Isso é muito sério.
Evolução tática
O São Paulo tornou-se um time previsível em alguns momentos e sem brio em outros. Houve um 4-4-2 em 2014, sobretudo devido à liderança e talento de Kaká, além de outros excepcionais jogadores como Pato, Kardec e Ganso, que fizeram o time terminar na vice-liderança do Brasileirão. Depois, caiu na mesmisse. Somente com Osório houve inovações, de um 4-3-3 com pontas invertidos e jogo ofensivo. Era totalmente diferente do que os treinadores brasileiros executavam, pois pediam para os pontas marcar os laterais dos adversários. Osório deu liberdade a Michel e Pato, principalmente este, agraciado com o forte poder de marcação de Álvaro Pereira. Mais tarde a tática sucumbiu.
A saída de Osório voltou a fazer com que o São Paulo mudasse, ficasse sem caráter e previsível. Somente voltaria a ser forte com o estilo tradicionalista de Edgardo Bauza. O time ficou cascudo com o crescimento de Húdson, a incorporação de Mena e a chegada de Maicon. A mudança para o 4-5-1 propiciou que Ganso e Calleri pudessem brilhar. O setor ofensivo do São Paulo, porém, despencou. Saíram Rogério, Kardec, Ganso e Calleri (é muita qualidade perdida). Ainda com Bauza, o São Paulo voltou a ser previsível. Ele saiu e ainda deixou como legado Julio Buffarini, que deixou a defesa quase que perfeita – ao meu ver – em termos de ofensividade e marcação. O quarteto formado por Rodrigo Caio, Maicon, Mena e Buffarini é nível Europa. O problema reside no ataque.
Quais foram as contribuições de Ricardo Gomes? Taticamente o time permanece no 4-5-1. O meio com Húdson, Thiago Mendes, além do ataque com Michel Bastos, Kelvin e Chávez, ficava sem poder de fogo. A má fase de alguns desses jogadores contribuiu pra isso. Gomes incluiu Wesley no meio e Carlinhos na ponta, numa tentativa de deixar o São Paulo mais rápido. Tendo Luiz Araújo como opção em diversos jogos. Deu uma melhorada. Mas a entrada de David Neres como titular, talento bruto, proporcionou crescimento em qualidade e fez o técnico formatar ainda mais o padrão da equipe. Kelvin não está bem, pode ser o próximo a ser sacado e Luiz Araújo já bate na porta. Chávez e Bortoluzzo brigam palmo a palmo; o primeiro deu uma caída e é extremamente aguerrido, o segundo ganhou todas as raspadinhas de cabeça contra a Ponte Preta e, se conseguir segurar mais a bola, será titular. Cueva é o dono do time, excelente legado de Gustavo Vieira de Oliveira.
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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.
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