Vento Sul – Os desafios de Cuca no comando tricolor

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Como era de se esperar, diante de tantos vexames, e após muitos protestos, Jardine caiu. Era obvio que a situação se tornaria insustentável, e nem mesmo o mais influente dos diretores conseguiria mantê-lo no comando, embora tenham tentado, e muito.

Com a queda de Jardine, a nação tricolor, bem como a imprensa nacional, passou a especular, de maneira frenética, em um misto de esperança e receio (sabemos que essa diretoria é bem louca) quem seria o novo nome a quem a função de arrumar a bagunça seria atribuída. Nomes como Osório, Nei Franco, entre outros foram ouvidos nos bastidores, porém um em especial ecoou e foi se tornando cada vez mais forte: Alexi Stival, o Cuca.

O nome de Cuca gerou várias divergências, inclusive entre a própria torcida, tendo em vista as condições de saúde do treinador. Em novembro de 2018, o então técnico do Santos anunciou, em entrevista coletiva, que não seria mais treinador da equipe devido à problemas cardíacos, o que resultou, em dezembro do mesmo ano, em uma cirurgia para corrigir um problema no coração, após um princípio de infarto ocorrido no jogo do Santos contra o Cruzeiro, no dia 23 de setembro.

Segundo especialistas, o procedimento requer repouso de, no mínimo, 6 meses para que Cuca possa retornar plenamente aos trabalhos, sem risco algum. Ocorre que o São Paulo não possui esse tempo para esperar, por isso os questionamentos. Porém, em mais uma atitude surpreendente da diretoria, Cuca foi anunciado. Enquanto se recupera das cirurgias, Vagner Mancini assumiu interinamente o comando como técnico até o final do campeonato paulista, função para a qual sabemos que ele não foi contratado (seu cargo é coordenador técnico de futebol).

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O treinador foi apresentado ontem no CT da Barra Funda, fato documentado nas redes sociais do clube e, em meio a um clima de dúvidas e incertezas, Cuca afirmou que tem uma ideia bem forte de time, de conhecimento de elenco e que vem para formar o São Paulo bem forte. Com um toque de ousadia, Cuca ainda revelou sua ambição de fazer o time ser campeão nesse ano, que está animado e, para finalizar, pediu para que a torcida são-paulina tenha confiança nele e no seu trabalho.

O discurso de Cuca, recheado de clichê, encontra muita resistência pelo simples fato de a torcida estar cansada de tantas promessas não cumpridas, de tanta inércia, desdém e descaso da diretoria com os torcedores, aqueles que apóiam o time, faça chuva ou faça sol, gasta suas economias e é movido por esse amor sem explicação. O elenco também não colabora, tendo em vista que está mais interessado em jogar “futemesa” do que futebol, mesmo recebendo salários absurdos e inversamente proporcionais às suas habilidades para isso.

Mas, afinal, o que o espera? Quais são os desafios de Cuca no comando tricolor, tendo em vista o atual cenário, bem diferente daquele de 2004, quando foi semifinalista da Libertadores e participou da montagem do elenco que faria história no ano seguinte com a conquista do mundial, libertadores e paulista?

Que estamos passando pela pior crise da história e estamos correndo risco de nem passarmos para a segunda fase do campeonato paulista, isso não é novidade, inclusive para o Cuca. Qual será, então, o seu papel diante desta tragédia que se tornou a instituição São Paulo Futebol Clube?

Em minha humilde opinião, Cuca terá um papel muito maior do que apenas comandar e reestruturar uma equipe dentro de campo. Ele terá de exercer funções que vão além daquelas atribuídas e esperadas de um técnico.

Cuca terá pela frente a missão de reconquistar a confiança da torcida, que está cansada de sofrer com tamanha sequência de humilhações. Além disso, incumbe ao treinador a missão de reconquistar o prestígio que o São Paulo sempre teve. Como se não bastasse, Cuca terá de apaziguar os ânimos entre jogadores e diretoria, e terá de servir como uma engrenagem para que tudo funcione corretamente.

A torcida está desolada, perdeu a calma, perdeu o brilho, o ânimo, a vontade de torcer. Está decepcionada e as atitudes da diretoria e de alguns jogadores só fazem aumentar esse turbilhão de sentimentos ruins. Uma singela parcela da torcida ainda mantém esperança de que o time volte ao patamar que nunca deveria ter deixado de pertencer, e em breve. Logo, também incumbirá à Cuca a tarefa de não decepcionar estes torcedores e fazê-los sentir orgulho por terem feito a escolha certa de continuar apoiando incondicional e incansavelmente o tricolor paulista, mesmo em momentos tão difíceis e amargos como estes.

Portanto, penso que Cuca deverá se desdobrar para fazer valer sua passagem por aqui. Não será tarefa fácil assumir o comando do time na atual situação deplorável que se encontra. Enquadro-me no rol de torcedores decepcionados, depois do jogo de quarta-feira, eu senti que perdi o chão, juntamente com a paciência de, simplesmente, sentar e aguardar por dias melhores.

Espero que Cuca tenha consciência do tamanho da responsabilidade que está assumindo, tão pouco tempo depois de declarar publicamente, de maneira clara e objetiva, em uma entrevista coletiva, que daria uma pausa em sua carreira neste ano, devido ao seu estado delicado de saúde. Desejo a ele toda força que necessita para triunfar na árdua missão de reerguer aquele que, um dia, já foi apelidado de Soberano. Esperamos que ele tenha condições de cumprir com a promessa feita na coletiva de ontem, de tornar o São Paulo campeão este ano, porém, fica o questionamento para vocês.

E ele tem?

Sigam firmes, tricolores. Tempos difíceis nos aguardam.

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Morgana Koenig é advogada, catarinense, praticante de artes marciais, ama escrever e é completamente apaixonada pelo São Paulo Futebol Clube.