Memórias Tricolor – Professor Estrangeiro

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A grande sensação do Campeonato Brasileiro 2019 tem sido dois técnicos estrangeiros. Jorge Sampaoli pelo Santos e Jorge Jesus pelo Flamengo, ambos os treinadores com suas particularidades têm feito excelentes trabalhos, e fazem lembrar aos torcedores do São Paulo Futebol Clube um de nossos lendários professor.

Bela Guttman São Paulo (Foto: Arquivo histórico SPFC)

O ano era 1957, após o título Paulista de 53 o São Paulo amargou por 3 anos a 3ª colocação, sem chances de disputa de títulos, a diretoria confiava muito em Vicente Feola, porém com a ida de Paulo Machado de Carvalho para a CBD, o Tricolor não conseguiu segurar o homem de confiança do Marechal da Vitória e foi necessário improvisar com o ex-goleiro Caxambu, um dos primeiros ídolos Tricolor, porém os resultados em campo não vinham.

A diretoria Tricolor sonhava alto, era preciso conquistar um título para dar fôlego às obras iniciais da casa Tricolor, o Estádio do Morumbi. O São Paulo já tinha tido alguns treinadores estrangeiros entre eles 2 hungaros, 2 uruguais, 1 português e 1 argentino. No Uruguai um europeu fazia sucesso e tinha se consagrado campeão nacional dirigindo o Peñarol e chamou a atenção da diretoria Tricolor, era Béla Guttmann.

Nascido em Budapeste em 27 de janeiro de 1899, Béla Guttmann nasceu em uma família judia, seus pais eram bailarinos de profissão e o educaram musicalmente desde pequeno. Aos dezesseis anos já era professor de dança clássica, porém uma paixão o dispersava da dança, o futebol. Era início do século XX, o futebol ainda engatinhava pela Europa central, porém a paixão foi tanta que para tristeza de Sr. Abraham e Sra. Ester, Béla resolveu abandonar a dança e aos 18 anos começou a jogar no Törekvés, onde se profissionalizou.

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Atuou como zagueiro e sua carreira como jogador não foi das mais longevas, jogou em 8 clubes de 1917 a 1933, sendo duas vezes campeão húngaro pelo MTK Budapest FC, 1 vez campeão austríaco pelo Hakoah Wien e campeão do U.S. Open Club pelo New York Hakoah dos Estados Unidos onde jogou por 5 equipes entre 1926 e 1932.

Ao encerrar sua carreira como jogador Béla Guttmann dá inicio a carreira que o marcaria definitivamente na história do futebol mundial, comoçou treinando o Hakoah Wien e deu início a uma peregrinação por clubes e países. 

Dono de um estilo de jogo ofensivo, suas equipes buscavam atacar a todo instante e assim Béla Guttmann ia conquistando torcedores e dirigentes, sendo campeão húngaro e também holandês, é contratado pelo italiano Milan e na 1ª temporada já conquista o Campeonato Italiano de 1954-55, no Peñarol conquista o Campeonato Uruguaio, e chama a atenção dos diretores do São Paulo. 

Para treinar o São Paulo, Béla Guttmann impõe uma condição, a contratação de Zizinho, jogador já consagrado aos 35 anos, Mestre Ziza estava perto da aposentadoria, porém Guttmann sabia que era preciso um maestro no elenco Tricolor, e deu certo. 

No São Paulo Béla Guttmann impôs um esquema tático novo e totalmente desconhecido para o futebol brasileiro, o 4-2-4, a equipe era puro ataque, ao dominar a bola o time só podia olhar para frente, e assim no Campeonato Paulista de 1957 foram 18 jogos com 13 vitórias, 4 empates e apenas 1 derrota. Com 53 gols marcados foi o time que foi superado somente pelo Santos que teve Pelé como artilheiro do Campeonato com 17 gols, e sofreu 24 gols também a 2ª melhor colocação. 

O título foi inevitável, o São Paulo sobrou em campo e o título foi conquistado em cima do Corinthians em uma excelente vitória por 3 a 1, gols de Amaury, Canhoteiro e Maurinho. O Tricolor jogou com Poy, DeSordi, Mauro, Sarará, Vítor, Riberto, Maurinho, Amaury, Fino Orlando, Zizinho e Canhoteiro. 

Ainda pelo campeonato de 1957, o São Paulo teve três goleadas memoráveis, a primeira em cima do Palmeiras por 4 a 2, um 6 a 2 em cima do Santos, e um 7 a 1 no XV de Piracicaba, realmente Béla Guttmann fez a equipe jogar por música.

O salário de Béla Guttmann era fixado em dólar, que flutuava muito e como nos dias de hoje só sobe, assim o São Paulo não conseguia manter os altos valores e foi preciso abrir mão de seu treinador. A saída foi muito amistosa, Guttmann retornou à Europa, porém suas marcas ficaram definitivamente gravadas na história do São Paulo Futebol Clube.

Em seu retorno a Europa, o destino Portugal onde Béla Guttmann iria se coroar como Rei dos Técnicos. Assumiu o Porto em 1958 e em sua primeira temporada em terras portuguesas foi campeão português 1958-59. Um dos principais rivais do Porto o Benfica fez uma proposta irrecusável e então Béla Guttmann se mudou para a equipe que o marcaria definitivamente.

No Benfica, Béla Guttmann faz conquistas inesquecíveis, além de títulos é de Guttmann com apoio de outro ex-Tricolor José Carlos Bauer a descoberta do maior jogador português o fantástico Eusébio, o maior atacante que Pelé viu jogar.

Pelo Benfica, Béla Guttmann conquista o Campeonato Português de 1959-60 e 1960-61, a Taça de Portugal 1961-62 e a Taça dos Campeões Europeus de 1960-61 e 1961-62. Béla Guttmann fez do Benfica um dos melhores clubes da Europa, imbatível na primeira metade da década de 60.

Após a conquista de 1962, Béla Guttmann pediu a diretoria do Benfica um aumento salarial, que lhe foi negado, assim como uma bonificação pela dupla conquista da Copa Européia, assim ao deixar o clube ele lançou a seguinte maldição:

“Sem min, nem em cem anos o Benfica vai conquistar outra taça europeia!”

Par tentar “quebrar” a maldição, em 28 de fevereiro de 2014, o Benfica inaugurou uma estátua de bronze de Béla Guttmann de autoria do escultor húngaro Szatmari Juhos Laszlo. A estátua de dois metros de altura fica na porta 18 do Estádio da Luz, a casa do Benfica.

No entanto a maldição persiste, nas duas últimas finais da Liga da Europa (2013 e 2014) contra Chelsea e Sevilla o Benfica não venceu.

Béla Guttmann é um dos grandes treinadores que o São Paulo Futebol Clube teve a honra de ter em seu banco de reservas como comandante vitorioso.
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Gustavo Flemming, 42 anos de amor ao SPFC, é empresário no segmento de pesquisa de mercado e consultoria em marketing, conselheiro da Associação Comercial de São Paulo – Distrital Pinheiros, escreve a Coluna Memórias Tricolor desde maio de 2017.

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