Além das 4 linhas – Céu e inferno

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O futebol é muito louco, em um segundo vamos do céu ao inferno, tudo motivado pela emoção, não pela razão, e por isso é preciso cuidado, já que nosso grande Mestre Telê morreu desta insana realidade. Muricy passou por pouco, mas foi parar no hospital e se retirou da beira do gramado. Esta profissão é para poucos.

Eu vejo o futebol como um esporte, um jogo, onde ganhar e perder fazem parte. Para mim, o mais importante é o que vem antes do time entrar em campo, o trabalho realizado no dia a dia do clube. Hoje o SPFC tenta sair de anos de uma administração muito ruim, por isso tanta coisa acontece no dia a dia.  Eu também só acredito em trabalho de médio e longo prazos, para que as coisas possam ser colocadas no seu devido lugar, ainda mais no futebol, onde o funcionário tem um contrato com a empresa e não pode ser mandado embora a qualquer momento. Se uma má administração montou um time ruim, a boa administração terá que trabalhar por alguns anos com este mesmo time, isso complica muito.

No caso atual do SPFC, além de trabalhar com muitos jogadores que não foram da escolha do atual treinador, o clube não tem dinheiro para fazer o que o RC pede, pois tem muitas dívidas. Basta dizer que o goleiro era a terceira opção no Santos. Para sair destas dívidas e voltar a poder investir, o clube precisa vender os jogadores jovens vindos do CFA de Cotia, ou seja, estes meninos precisam jogar, aparecer e depois serem vendidos, para salvar o clube da falência. Isso é uma equação complicada que nem sempre a conhecemos por inteiro e ficamos aqui, do lado de fora, exigindo soluções. Muito louco.

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No jogo mais importante da década, quinta-feira passada, o Igor Gomes cometeu uma enorme besteira e encerrou as possibilidades do time em campo naquele dia. O jogo estava de certa forma mostrando que terminaria com empate, o que seria muito bom. Numa questão de segundos, a besteira aconteceu e tudo foi para o ralo. Agora estamos no inferno tricolor por conta de um resultado que o Corinthians também teve quando jogou a eliminatória lá. Nestes últimos dias nada serve no Morumbi, do presidente, treinador, jogador e etc. Se no jogo da volta o SPFC passar, tudo que não servia mais volta a ser bom. Este ingrediente emocional e nada racional incomoda demais, prejudica demais. Na verdade nada do que acontece no SPFC em 2022 está fora do planejamento do clube até aqui. Para sair desta situação há basicamente dois caminhos: Assumir mais dívidas e jogar o problema para frente, ou assumir a realidade e fazer o possível com os recursos atuais e ir pagando dívidas. Um dia, seguindo o caminho da responsabilidade, o clube recuperará a saúde financeira e voltará a poder investir em bom elenco.  Infelizmente o componente emocional criou um caos diante da opção racional adotada, ou seja, administrar o clube cria problemas. Eu não nasci para trabalhar com isso.

Juntando tudo isso que escrevi acima e jogando dentro de um clube, e não empresa, vejo o tamanho da dificuldade que é acertar, pois, segundo Muricy, cada conselheiro e sócio chega e tenta interferir no trabalho. Sem contar as torcidas uniformizadas, que fora do estádio entendem dos seus próprios trabalhos, mas dentro do estádio pensam que sabem tudo de futebol e “exigem” reunião com a diretoria do clube e teimam em ditar caminhos. É muito complicado.

Como venho escrevendo aqui nos últimos meses, eu não acredito mais em clube de futebol, acredito em empresa de futebol. O modelo clube ficou no tempo e o modelo empresa vem vindo graças ao tamanho que o futebol foi transformado, onde cada atleta ganha muito dinheiro, ou seja, o negócio futebol hoje é gigante. O modelo clube é de outro tempo, quando os jogadores não ficavam ricos com futebol, era a época romântica. Tudo mudou nos últimos anos, menos o mais importante, a estrutura administrativa deste imenso negócio. Isso não pode dar bom resultado e a prova é o que vemos hoje na Europa, onde os clubes da liga mais competitiva e importante do mundo são empresas e pertencem a empresas, como o Liverpool, cujo controlador acaba de comprar o Milan da Itália. Em poucos anos o Milan será gigante e dominará seu país se os outros clubes Italianos não fizerem o mesmo.

Aqui no Brasil, o primeiro que fizer isso vai dominar. Espero que seja o SPFC.

Salve o tricolor paulista, o clube da fé.

Carlito Sampaio Góes